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Estudo do comportamento de soqueiras de arroz irrigado (página 2)

Cleomar Cezar Hermes, Sandro Luis Petter Medeiros; Paulo Augusto Manfron, B

2. Instalação e condução do cultivo principal

Nas três épocas, o preparo do solo foi semelhante, constando de uma operação de grade aradora para a incorporação das plantas invasoras, dessecadas com Glyphosate, 20 dias antecedendo o preparo, seguida de três operações com grade niveladora.

Na adubação de base foi aplicado o equivalente a 12 kg.ha-1 de N, 70 kg.ha-1 de P2O5, 40 kg.ha-1 de K2O e 3 kg.ha-1 de Zn, utilizando como fontes a uréia, o superfosfato triplo, o cloreto de potássio e o sulfato de zinco, respectivamente. Por ocasião da semeadura, foram distribuídas 120 sementes por metro quadrado.

Com objetivo de proporcionar um estande homogêneo em todas as parcelas, foi realizado desbaste manual, dez dias após a emergência das plântulas (20 dias após a semeadura), mantendo-se 90 plantas por metro quadrado. Foi realizado transplante nos locais que apresentaram falhas.

O sistema de irrigação adotado foi o de inundação contínua com circulação permanente de 10% de água. A irrigação iniciou-se aos 25 dias após a emergência das plântulas, sendo interrompida 25 dias antecedendo a colheita. A altura da lâmina de água foi de 0,05 a 0,10 m.

Foram realizadas duas adubações em cobertura: aos 35 e aos 60 dias do ciclo das plantas, realizadas manualmente, distribuindo-se a uréia a lanço sobre a lâmina de água, nas doses equivalentes a 40 e 70 kg.ha-1 de N, respectivamente.

Para efetuar as adubações, a irrigação foi suspensa no período de 10 horas antes a 48 horas após as operações.

Foi aplicado em pré-emergência o herbicida Oxadiazon, na dose de 1,25 kg.ha-1 de i.a., sendo as plantas invasoras eficientemente controladas.

Ocorreram infestações do percevejo-do-grão (Oebalus poecilus Dallas), nos três períodos de cultivo, controlado com eficiência com o inseticida Betacyfluthrin na dose de 6 g.ha- 1 de i.a. Não houve incidência de doenças que necessitassem controle, não causando interferência no desenvolvimento da cultura.

Todas as operações de colheita, trilhagem e limpeza dos grãos foram efetuadas manualmente, sendo os grãos secos ao sol e armazenados com umidade inferior a 13%. As plantas foram cortadas a 0,2 m da superfície do solo, visando adequação das soqueiras, pois os inúmeros trabalhos, como os desenvolvidos por ANDRADE et al. (1985, 1986, 1987 e 1989), AMORIM NETO et al. (1986), BALASUBRAMANIAN et al. (1970), RAMASWANI & HAWS (1970), entre outros, mostraram melhor performance das soqueiras oriundas de plantas cortadas nessa altura.

3. Condução das soqueiras

Foi realizada adubação em cobertura, manualmente a lanço, em solo drenado, 15 dias após a colheita do cultivo principal, sendo aplicado o equivalente a 60 kg.ha-1 de N, utilizando uréia como fonte.

Para a irrigação foi adotado o mesmo sistema do cultivo principal, com início e término 20 e 60 dias após a colheita do primeiro cultivo.

Nos anos agrícolas 1996/97 e 1997/98 houve ocorrência do Percevejodo- grão (O. poecilus), controlado com eficiência com o inseticida Betacyfluthrin na dose de 6 g.ha-1 i.a. Não houve incidência de plantas invasoras e doenças que necessitassem controle, não causando interferência no desenvolvimento da cultura.

4. Parâmetros analisados

a. Índice de área foliar Essa avaliação correspondeu à média de 18 plantas por parcela, amostradas em 0,2 m da linha, demarcado na ocasião do desbaste. Foram realizadas duas avaliações no cultivo principal, nos 40 dias de ciclo e no florescimento pleno das plantas, e uma avaliação nas soqueiras, 40 dias após a colheita do cultivo principal.

As 18 plantas foram retiradas do campo e trazidas ao laboratório dentro de um recipiente com água para não murcharem. Com auxílio de uma régua (precisão de 1 mm), mediu-se o comprimento (C, m) e a largura (L, m) das folhas para determinação do índice de área foliar, de acordo com YOSHIDA et al. (1976), citados por FAGERIA (1984):

em que As se refere área (27,78 m2) do solo ocupada por uma planta.

b. Matéria seca por planta Foram realizadas as avaliações nos mesmos dias das avaliações do índice de área foliar por planta utilizando o mesmo tamanho de amostra.

As plantas foram secas ao sol por 10 horas, e em estufa a 70oC por um período mínimo de 24 horas, até manutenção do peso constante.

Posteriormente foram pesadas.

c. Número de colmos por metro Essa avaliação foi feita com a finalidade de verificar o perfilhamento das plantas nos cultivos principais e as brotações das soqueiras. As contagens foram realizadas por ocasião das colheitas em cinqüenta locais (1 m) demarcados por ocasião do desbaste.

d. Número de panículas por metro quadrado Esse parâmetro foi determinado com finalidade de avaliar a porcentagem de colmos férteis dos cultivos principais e das soqueiras. As contagens foram realizadas por ocasião das colheitas, nos mesmos locais demarcados para as avaliações dos números de colmos por metro quadrado.

e. Rendimento de grãos Para avaliar o rendimento foram colhidas as plantas das áreas úteis das parcelas (10 linhas centrais com 7 m de comprimento, correspondendo a 17,5 m2).

Os grãos foram pesados e a massa foi ajustada para 12,5% de umidade (TAVARES, 1972).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As Tabelas 2 a 5 mostram que em todos os parâmetros avaliados houve homogeneidade dentro de uma mesma cultivar, nos três períodos do ensaio, que era esperado, já que não ocorreram grandes diferenças de temperaturas nestes períodos, sendo muito importante esta homogeneidade para a conclusão dos resultados.

As temperaturas durante a condução do experimento estiveram dentro dos limites considerados adequados (mínimo de 15°C e ótimo entre 20 e 30oC), conforme FAGERIA (1984), INFELD (1987) e SOUZA (1990), e como também não houve nenhum evento climático prejudicial às plantas, as cultivares apresentaram desempenhos semelhantes aos descritos pelas Instituições responsáveis por suas seleções.

As Tabelas 2 e 3 apresentam os ciclos dos cultivos principais e das soqueiras e pode-se constatar que as cultivares estudadas tiveram desempenhos muito semelhantes, nos três períodos do ensaio, com ciclos de 127 a 144 dias e 52 a 70 dias em média, respectivamente.

Não foram encontradas relações entre duração do ciclo de cultivar e rendimento de grãos, bem como com outros parâmetros analisados, tanto para os cultivos principais quanto para soqueiras.

Esses resultados vêm de encontro com os obtidos por MAHADEVAPPA & YOGEESHA (1988), que após exaustiva revisão de literatura, encontraram uma gama de trabalhos mostrando a superioridade de rendimento de cultivares de ciclo curto. Porém, alguns autores evidenciaram melhores resultados com cultivares de ciclo médio, enquanto outros autores, com cultivares de ciclo longo.

Nesses três anos ficou evidenciado a maior produtividade obtida pelo cultivar IAC- 102.

Segundo YOSHIDA (1972), altas produções, apenas poderão ser alcançadas quando houver uma combinação apropriada da cultivar, independente do ciclo, das práticas culturais e do ambiente.

Nesse experimento, a cultivar foi a única variável, não havendo correlação entre ciclo e rendimento de grãos, como também correlação de produtividade com índice de área foliar e matéria seca (Tabelas 4 e 5).

Apesar da importância do aumento do índice de área foliar para o aumento da eficiência fotossintética das plantas, FREY & JANICK (1971) comentam ser a produção de matéria seca aumentada assintoticamente com o aumento do índice de área foliar, mas a produção de grãos requer uma população ótima de plantas, justificando a não correlação entre desenvolvimento vegetativo das plantas e produtividade de grãos.

Verifica-se na Tabela 5, onde estão expressos os valores de rendimento de grãos dos cultivos principais, a superioridade das cultivares IAC-101 e IAC-102. Constata-se que, em relação ao rendimento de grãos das soqueiras, e do somatório dos rendimentos de grãos do cultivo principal e soqueira, que a cultivar IAC-102 foi a mais produtiva.

Na maioria dos trabalhos, como os desenvolvidos por ORSI & GODOY (1967) e por ANDRADE et al. (1988), os resultados mostraram que não há correlação de rendimentos entre os cultivos principais e as soqueiras. Uma cultivar que apresentar alta produtividade no cultivo principal pode ter alto ou baixo rendimento na soqueira, e vice-versa. A exemplo do ocorrido neste trabalho.

Segundo VERGARA et al. (1988), o desenvolvimento das soqueiras é uma herança genética, e esta habilidade deve ser buscada nos programas de melhoramento de cultivares, para viabilizar a adoção dessa tecnologia.

CONCLUSÃO

A análise dos resultados (em termos de rendimento de grãos) permite concluir que o cultivo da soqueira é viável, sendo a cultivar IAC-102 a mais recomendada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANDRADE, W.E.B.; AMORIM NETO, S.; FERNANDES, G.M.B.; PEREIRA, R.P.; RIVERO, P.R.Y.; SILVA, W.R. da. Rendimento da soca em função da altura do corte na colheita do arroz. In: Reunião da cultura do arroz irrigado, 16., Goiânia, 1987. Anais. Goiânia, EMBRAPA/CNPAF. p.115. 1987.

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BASTOS, C.R.; SOAVE, J.; CASTRO, L.H.S.M. de; SÁES, L.A.; AZZ1NI, L.E.; VILLELA, O.V.; TISSELLI FILHO, O.; GALLO, P.B. IAC-l02: novo cultivar de arroz irrigado para o Estado de São Paulo. Campinas, IAC. s.n.p. 1993.

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Tabelas 

Tabela 4- Índice de área foliar aos 40 dias de ciclo (IAF-40), em floração plena (IAF-FP), massa de matéria seca de plantas aos 40 dias de ciclo(MPS-40), em floração plena (MSP-FP), índice de área foliar da soqueira aos 40 dias de ciclo (IAF-S40), massa de matéria seca de plantas de soqueira aos 40 dias de ciclo (MSP-S40), número de colmos por metro quadrado (NC), número de panículas por metro quadrado (NP), número de colmos das soqueiras por metro quadrado (NCS) e número de panículas das soqueiras por metro quadrado (NPS) de seis cultivares de arroz irrigado.

* Médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro.
ns Médias não diferem significativamente.

Rev. Fac. Zootec. Vet. Agro. Uruguaiana, v.11, n.1, p. 169-182, 2004.

Paulo Augusto Manfron1,6, Durval Dourado Neto2,6, Geraldo José Aparecido Dario3, Reinaldo Antonio Garcia Bonnecarrère4,6, Felipe Gustavo Pilau5
manfronp[arroba]smail.ufsm.br

1. Dr. Prof. Titular. Departamento de Fitotecnia, CCR/UFSM. Santa Maria, RS. manfronp[arroba]smail.ufsm.br .
2. Dr. Prof. Associado. Departamento de produção Vegetal, ESALQ/USP. Piracicaba, SP.
dourado[arroba]esalq.usp.br .
3. Dr. Prof. Associado, Departamento de Produção Vegetal, ESALQ/USP, Piracicaba, SP.
gjadario[arroba]esalq.usp.br .
4. Eng. Agrônomo. Doutorando em Fitotecnia, ESALQ/USP. Piracicaba, SP.
rabonnec[arroba]esalq.usp.br .
5. Eng. Agrônomo. Doutorando em Física do Ambiente Agrícola, ESALQ/USP. Piracicaba, SP.
fgpilau[arroba]esalq.usp.br .
6. Bolsista CNPq.



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