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Emissão de folhas de alface em função da soma térmica (página 2)

Cleomar Cezar Hermes, Sandro Luis Petter Medeiros; Paulo Augusto Manfron, B

Material e métodos

O experimento foi conduzido na área experimental do Núcleo de Pesquisa em Ecofisiologia e Hidroponia (NUPECH) no Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS.

A produção de mudas de alface, cultivar Regina do tipo lisa, foi realizada em estufa plástica modelo arco-pampeana e coberta com Policloreto de vinil (PVC) com espessura de 230mm, com aproximadamente 80% de transmissividade, aditivado contra raios ultravioletas,. A temperatura do ar foi registrada por um termohigrógrafo instalado em um abrigo meteorológico a 1,5m do solo, no interior da estufa.

A semeadura foi efetuada em bandejas de 288 cavidades preenchidas com substrato comercial. Depois da semeadura, as bandejas foram colocadas em uma lâmina de água ("piscina") com solução nutritiva proposta por CASTELLANE e ARAÚJO (1995), diluída a 25%.

O período experimental prolongou-se de outubro de 1999 à fevereiro de 2000, sendo conduzidos três cultivos sucessivos nesse período (Tabela 1).

FRANK & BAUER (1995) definem filocrono como o número de graus dia (GD), contabilizados através da soma térmica, entre o surgimento da folha n e a folha n+1. Baseado nesta definição, considerou- se a medição do filocrono a partir da emissão da primeira folha definitiva (folha n), após as duas folhas cotiledonares, contabilizando-se os graus-dia para a emissão de folhas sucessivas (filocrono).

Os graus-dia (GD) para cálculo da soma térmica na determinação do filocrono foram obtidos usando-se a temperatura média diária do ar (TM) e a temperatura base (Tb) da alface para o subperíodo emergência-transplante conforme a equação 1, citada por FRANK & BAUER (1995). De acordo com BRUNINI et al. (1976), a Tb da alface é de 6°C para o subperíodo emergência-transplante. Para a obtenção da TM, em °C, (eq. 2), as temperaturas máximas (Tmáx) e mínimas (Tmín) diárias foram extraídas dos gráficos do termohigrógrafo. A soma térmica é representada pelo acúmulo de graus-dia (åGD) no período considerado: GD= TM – Tb (1).

TM = (Tmáx + Tmín)/2 (2).

Para a estimativa do filocrono, utilizou-se o procedimento descrito a seguir. Após a emergência (Tabela 1), 60 plântulas na primeira e segunda semeaduras e 40 plântulas na terceira semeadura, foram identificadas através de um marcador de madeira, fixado na cavidade da bandeja das mudas, contendo o respectivo número da planta selecionada ao acaso.

Realizou-se o acompanhamento diário das plantas marcadas, registrando-se o dia da emergência de cada folha dessas plântulas. Considerou-se a emergência da folha quando essa tornou-se visível no primórdio vegetativo da planta. O acompanhamento das plântulas foi realizado desde a emergência até o ponto em que as mudas atingissem 5 a 6 folhas definitivas com comprimento maior que cinco centímetros, correspondendo a cerca de 8 a 9 folhas visíveis, quando efetuou-se o transplante.

De acordo com GOMES (1990), para ensaios agrícolas de avaliação de rendimento de grãos, os experimentos podem ser classificados quanto ao coeficiente de variação (c.v.) em baixos (cv<10%), médios (cv entre 10 a 20%) e altos (cv entre 20 a 30%).

Entretanto, não se encontrou um critério de classificação de cv para a emissão de folhas em alface, adotando- se então aquele citado por GOMES (1990). Assim, procedeu-se o cálculo do filocrono de todas as plantas amostradas nas três semeaduras, descartando- se as plantas que apresentavam c.v. maior que 30%.

Após, as plantas foram reagrupadas em três grupos.

O grupo 1 correspondeu às plantas que apresentaram c.v. menor que 10% (cv10) na análise do filocrono, o grupo 2 foi composto pelas plantas que apresentaram c.v. menor que 20% (cv20) e o grupo 3 correspondeu às plantas cujos os c.v. das somas térmicas foi menor que 30% (cv30).

Após, adotou-se como filocrono da alface, desde a emergência até o transplante, o valor médio da soma térmica necessária para a emissão de duas folhas sucessivas.

Resultados e discussão

A partir do critério do coeficiente de variação (c.v.), as plantas foram agrupadas de acordo com o nível de c.v. (Tabela 2). Observa-se que não houveram plantas no grupo cv10 paras as semeaduras 1 e 2, devido a maior variabilidade decorrente da heterogeneidade das amostras destas semeaduras.

As Figuras 1, 2, e 3 representam a emissão de folhas em função dos GD acumulados das semeaduras 1, 2 e 3, nos três níveis de coeficiente de variação analisados.

A semeadura 1, tanto em nível do cv20 (Figura 1b), representado por valores de 8 plantas (Tabela 2), quanto em nível do cv30 (Figura 1a), representado por valores de 40 plantas, apresentaram valores iniciais e finais de soma térmica bastante próximos.

Assim, o aumento do número de plantas determinou uma pequena oscilação nos valores de GD, sendo que se verificaram plantas que emitiram a nona folha com 297 GD e as mais tardias com 360 GD.

Tanto no grupo cv20 quanto no cv30, a emissão da nona folha variou pouco, apresentando uma amplitude de 63 GD.

Na semeadura 2, o menor valor da soma térrmica para a emissão da nona folha foi de 341 GD para os níveis do cv20 e 30 (Figura 2b e 2a). Em nível do cv20 da semeadura 2 (Figura 2b), representado pelos valores obtidos de 12 plantas (Tabela 2), o valor máximo calculado de soma térmica foi de 414 GD, apresentando amplitude de 73 GD, enquanto que ao nível do cv30 (Figura 2a), representado pelos valores obtidos de 36 plantas, a amplitude registrada foi de 100 GD com valor máximo de 441 GD.

Para a semeadura 3 ao nível do cv30 (Figura 3a), o menor valor de soma térmica calculada para a emissão da nona folha das 33 plantas de alface amostradas foi de 303 GD e o maior de 375 GD, com amplitude de 72 GD. Ao nível do cv20 (Figura 3b), o menor valor de soma térmica observado para as 17 plantas de alface amostradas foi de 325 GD e o maior de 375 GD, com amplitude de 50 GD.

Apenas a semeadura 3 apresentou plantas com c.v. inferior a 10% (Figura 3c), sendo que as seis plantas amostradas (Tabela 2) tiveram resposta similar, registrando um valor final de 349 GD para a emissão da nona folha. Devido ao baixo valor do cv, os valores soma térmica são bastante próximos, sendo representados por um único ponto na Figura 3c.

Nas Figuras 1, 2 e 3 observa-se uma nítida tendência de aumento da variação da soma térmica com o aumento do número de folhas emitidas. Isto pode ser constatado através dos valores de GD necessários para a emissão da segunda folha que são bastante próximos para todas as plantas, situando-se em torno de 50 GD, sendo representadas por apenas um ponto nas figuras, salvo a tendência da Figura 2a que apresentou valores iniciais diferenciados, pois os pontos não ficaram sobrepostos.

À medida em que aumentou a emissão de folhas, ocorreu uma maior variação da soma térmica calculada para a emissão das folhas subseqüentes, sendo esta tendência mais nítida a partir da quinta folha na maioria das semeaduras (Figuras 1 a 3). Esta tendência torna-se efetiva para a nona folha, principalmente no caso da situação apresentada na Figura 2a.

A maior variabilidade da soma térmica pode ser atribuída a três causas. Primeiro, podem existir as diferenças genéticas entre as plantas, as quais tornam-se mais evidentes com o passar do ciclo; segundo, devido ao erro experimental cometido no momento da visualização da folha, o qual pode ter sido realizado posteriormente ao momento da emissão, uma vez que as determinações foram feitas uma vez por dia. O terceiro fator que pode ter influenciando é a localização da planta selecionada na bandeja de isopor, podendo ocorrer alguma variação na umidade, temperatura, aeração e espaço físico entre as plantas.

Nas três semeaduras analisadas, observou-se uma tendência linear da emissão de folhas em função da soma térmica (Figuras 1, 2 e 3). Os altos valores dos coeficientes de determinação (R2), comprovam a linearidade da tendência evidenciando que a emissão de folhas em alface está intimamente relacionada com a temperatura do ar, representada pelo acúmulo de GD.

A Tabela 3 apresenta a análise estatística dos valores médios de soma térmica necessárias para a emissão da segunda à nona folha das plantas situadas nos três níveis de c.v. em cada semeadura. Observase nessa tabela que os valores de soma térmica apresentaram diferenças significativas para uma mesma folha entre as semeaduras, porém os valores médios de GD para cada folha nos níveis do cv20 e cv30, não apresentaram diferenças estatísticas entre si. Somente a semeadura 3 apresentou diferença estatística entre os valores médios de soma térmica para o nível de cv10. Para esse nível verifica-se que na Tabela 3 que existe uma diferença significativa da soma térmica entre as folhas, com exceção das folhas seis e nove que foram estatisticamente iguais. Apesar de existir uma diferença estatística, constata-se que os valores de soma térmica são bastante próximos, oscilando em torno da média de 43,7GD. A amplitude verificada foi de 7,5GD, que para as épocas estudadas correspondeu, aproximadamente, a soma térmica acumula na metade de um dia.

Uma das hipóteses que poderiam explicar as diferenças encontradas entre os valores de soma térmica tanto dentro como entre cada semeadura seria a metodologia aplicada, na qual observa-se a emissão de folhas uma vez por dia. Apesar de ter havido algumas diferenças significativas entre os valores de filocrono, as amplitudes verificadas para cada folha, entre as semeaduras não foram elevadas. Somente a folha seis da semeadura 3 que apresentou uma maior amplitude, com valor de 19,8GD para o nível do cv20 e de 20,5GD para o nível do cv30 (Tabela 3).

Observa-se também na Tabela 3 que as diferenças verificadas nos valores de filocrono entre folhas de uma mesma semeadura e de uma mesma folha para as três épocas de semeaduras foram aleatórias, ou seja, não seguem uma ordem crescente ou decrescente em relação ao número de folhas ou mesmo em relação à semeadura.

Entre as semeaduras, somente ao nível do cv20, a média geral do filocrono da semeadura 2, com valor de 50,7GD, apresentou diferença estatística em relação às semeaduras 1 e 3, as quais apresentaram valor de 42,9 e 43,8, respectivamente (Tabela 3). Além disso, observa-se que a média da semeadura 2 ao nível do cv30, apesar de não apresentar diferença estatística das demais semeaduras, também foi elevado, com valor de 49,3GD.

Os maiores valores de soma térmica na semeadura 2 (Tabela 3) podem ser atribuídas às altas temperaturas do ar ocorridas neste período (Tabela 4), as quais determinaram um ressecamento mais intenso do substrato das bandejas no período da tarde. Nesse período, as bandejas passavam fora da lâmina de água da "piscina" e assim, as plantas podem ter sofrido deficiência hídrica. De acordo com BAKER et al.

(1986) o estresse hídrico pode ter impacto no filocrono de gramíneas. Em virtude dos resultados obtidos, pode-se inferir que a deficiência hídrica também tenha influência sobre o filocrono de outras espécies, entre as quais a alface.

Após ter sido detectado o problema de ressecamento do substrato, as bandejas passaram a receber uma irrigação intermediária durante o período da tarde, não influenciando portanto o filocrono da semeadura subseqüente. Certamente, este problema não foi verificado na semeadura 1 devido à menor demanda evaporativa da atmosfera, o que pode ser inferido através dos menores valores de temperatura do ar verificados nessa semeadura em relação à semeadura 2 (Tabela 4).

Calculando-se o valor médio a partir de soma térmica necessária para a emissão de folhas das plantas de alface com c.v. até 10%, 20% e 30% obteve-se um valor de 45,1GD que representa o filocrono para a emissão da segunda à nona folha da alface no subperíodo emergência-transplante.

O filocrono varia com as espécies. Em cultivos de Panicum virgatum cv. Alamo, com temperatura média de 22°C, o filocrono médio foi de 152GD (VAN ESBROECK et al. 1997). FRANK & BAUER (1995), determinaram o valor do filocrono do trigo (Triticum aestivum L) e trigo duro (Triticum durum Desf.) de 76,9 e 79,6GD, respectivamente, e para cevada (Hordeum vulgare L) de 77,2GD. CRAUFURD et al. (1997), trabalhando com Vigna unguiculata, encontraram um valor de filocrono de 42GD.

De acordo com os resultados encontrados, pode-se adotar o valor filocrono da alface cv. Regina como sendo igual 45,1GD, considerandose uma temperatura base de 6°C no subperíodo emergência-transplante.

Referências bibliográficas

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BRUNINI, O., LISBÃO, R.S., BERNARDI, J.B. et al. Temperatura base para a alface (Lactuca sativa, L.) cultivar "White Boston", em um sistema de unidade térmicas. Revista de Olericultura, Lavras, v. 16, p. 28-29, 1976.

CASTELLANE, P.D., ARAÚJO, J.A.C. Cultivo sem solo – hidroponia. 4. ed., Jaboticabal : FUNEP, 1995. 43 p.

CRAUFURD, P.Q., SUBEDI, M., SUMMERFIELD, R.J. Leaf appearance in copwea: Effects of temperature and photoperiod. Crop Science, Madison, v. 37, p. 167-171, 1997.

DOFING, S.M. Inheritance of phyllochron in barley. Crop Science, Madison, v. 39, p. 334-337, 1999.

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GOMES, F.P. Curso de estatística experimental. Piracicaba : Nobel, 1990. 468 p.

KLEPPER, B., RICKMAN, R.W., PETERSON, C.M. Quantitative characterization of vegetative development in small cereal grains. Agronomy Journal, Madison, v. 74, p. 798 - 792, 1982.

RICKMAN, R.W., KLEPPER, B. L. The "Phyllochron": Do we go in the future?. Crop Science, Madison, v. 35, n. 1, p. 44-49, 1995.

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Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 9, n. 2, p. 269-275, 2001.
Recebido para publicação em 18/06/2001. Aprovado em 23/10/2001. ISSN 0104-1347.

Cleomar Cezar Hermes1, Sandro Luis Petter Medeiros2; Paulo Augusto Manfron2, Braulio Caron3, Sandro Felisberto Pommer4 e Cleusa Bianch5.
manfronp[arroba]smail.ufsm.br

1. Engº Agrº M. Sc. Aluno PPG - Agronomia - UFSM - Área de Concentração: Produção Vegetal.
2. Engº Agrº Prof. Dr. Departamento de Fitotecnia - UFSM. Endereço para correspondência: UFSM-CCR-Depto de Fitotecnia- 97105-900- Santa Maria-RS. E-mail:
sandro[arroba]ccr.ufsm.br .
3. Engº Agrº Aluno do Curso de Pós-graduação em Agronomia (Doutorado) - UFSM.
4. Aluno do Curso de Graduação em Agronomia - Bolsista BIC/FAPERGS.
5. Aluno do Curso de Graduação em Agronomia - Bolsista PIBIC/CNPq.



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