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Variabilidade genética entre duas procedências de açaizeiro (Euterpe oleracea Martus) (página 2)

João Tomé de Farias Neto, Marcos Deon Vilela de Resende

 

As progênies foram avaliadas em experimento de blocos ao acaso em viveiro coberto com sombrite a 50% de interceptação da luz com duas repetições e parcelas lineares com cinco plantas. Aos 10 meses após o transplantio foram tomados os dados de altura da planta - AP (medida do solo até o ponto de inserção da folha-guia e a primeira folha expandida), diâmetro da planta à altura do colo (DC) e número de folhas vivas (NFV). Os dados de NFV foram transformados para . As análises de variância foram feitas para cada característica, com o efeito de procedência considerado fixo, utilizando-se o programa Genes, desenvolvido por Cruz (2001), segundo o modelo estatístico:

Yijk = + Pi + G/Pij + Bk + •ij + ijk ,

em que: m: média geral; Pi: efeito da iésima procedência; G/Pij: efeito da j-ésima progênies dentro da i-ésima procedência; Bk: efeito do k-ésimo bloco; •ij: efeito que mede a variação entre parcelas; dijk: efeito que mede a variação dentro de parcelas.

Na Tabela 1 encontram-se as análises de variância nas quais observam-se diferenças altamente significativas para famílias (altura e número de folhas vivas), progênies dentro de procedências (altura e número de folhas vivas) e em nível de 5% para procedência (número de folhas vivas). Provavelmente não foram encontradas diferenças entre procedências em razão do baixo número de procedências coletadas. Os coeficientes de variação experimental (C.Vexp) foram baixos, indicando que o controle experimental foi bom, permitindo boa precisão para as estimativas dos parâmetros. Ohashi et al (1992) também encontraram valores em torno de 5% aos 6 meses de idade, para altura e diâmetro da planta à altura do colo, semelhantes aos obtidos neste estudo.

Verifica-se que o CV exp. para altura (5,37%) foi inferior àquele obtido para o caráter diâmetro (7,65%) e isto indica ser por causa da maior variação na altura atestada pela detecção de significância estatística.

Os valores médios e as estimativas de parâmetros genéticos para procedência são apresentados na Tabela 2. A variabilidade genotípica foi igual a 0 para altura da planta, não permitindo o cálculo dos demais parâmetros genéticos. Os coeficientes de variação genética (CVg%) foram de pequenas magnitudes, com estimativas para diâmetro à altura do colo e número de folhas de 9,015% e 6,382%, respectivamente. Ohashi et al. (1992), envolvendo nove populações, também estimaram baixos valores para CVg, de 5,38% para diâmetro aos 6 meses no viveiro, e 3,91%, aos 24 meses.

Para os caracteres diâmetro e número de folhas vivas, os valores do coeficiente de determinação genotípica foram 0,7349 e 0,8308, respectivamente, indicando que seriam mais facilmente alterados pela seleção. Entretanto, pelos resultados da análise de variância apresentados na Tabela 1 não foi detectada diferença significativa para o diâmetro, indicando não haver variabilidade para esse caráter entre as procedências.

O termo coeficiente de determinação genotípica foi utilizado por Falconer (1981) para designar o quociente entre as variações genotípica e fenotípica. Ele tem sido utilizado por diversos autores (Fonseca, 1978; Martins & Vello, 1983; Farias Neto, 1987) para caracterizar a variabilidade de um conjunto fixo de genótipos. Porém, o sucesso na seleção, em todos os programas de melhoramento, depende, entre outros fatores, da magnitude da variância genética aditiva e da epistasia de tipo aditivo x aditivo. Portanto, a utilização do coeficiente de determinação genotípica, semelhantemente ao da herdabilidade no sentido amplo, deve ser criteriosa, pois ambos medem a variação total, inclusive a variância aditiva, dominante e epistática, e nem todas são aproveitáveis na seleção.

Na Tabela 3 apresentam-se os valores médios e as estimativas de parâmetros genéticos para progênies dentro de procedências. Quanto aos valores médios, nota-se que, para os três caracteres, os valores foram similares, com tendência de superioridade para a procedência de Limoeiro do Ajuru. Através da análise da distribuição da variação genética entre e dentro das progênies, observou-se que a maior variabilidade genética na espécie está distribuída dentro das progênies (Tabela 3), evidenciando haver maior variação entre indivíduos da mesma progênie do que entre progênies. Altos níveis de variabilidade genética dentro de populações têm sido detectados para a maioria das espécies arbóreas temperadas e tropicais, avaliadas a partir de caracteres quantitativos e de dados de marcadores genéticos (Hamrick, 1983). Entretanto, há necessidade do acompanhamento das estimativas em idades posteriores, de modo a garantir a segurança dos dados e contribuindo para um melhor entendimento sobre a variabilidade genética em espécies nativas.

Na Tabela 1 verifica-se que, para o caráter diâmetro, não se detectou diferença significativa para procedências, indicando a inexistência de variação para esse caráter. Esse resultado é coerente com as estimativas dos parâmetros genéticos apresentados na Tabela 3, na qual se observam valores 0 na procedência de Curralinho e valores de pequenas magnitudes na população de Limoeiro do Ajuru. Nota-se também que as maiores estimativas foram obtidas na procedência de Curralinho, onde o coeficiente de variação genético foi maior para altura e número de folhas vivas do que o estimado para a procedência de Limoeiro do Ajuru. Os coeficientes de herdabilidade apresentam as mesmas tendências observadas para os coeficientes de variação genética, e suas magnitudes expressam também a variabilidade genética exibida pelas procedências.

Pode-se concluir que a procedência de Curralinho apresentou maior variabilidade genética que a procedência de Limoeiro do Ajuru. As maiores estimativas de parâmetros genéticos foram obtidas em relação à característica altura da planta, seguida do caráter número de folhas vivas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALZAVARA, B. B. G. Importância do açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.) como produtor de frutos e palmito para o Estado do Pará. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM PALMITO, 1., 1987, Curitiba. Anais. Curitiba: EMBRAPA-CNPF, 1988. p. 249-259. (EMBRAPA-CNPF. Documentos, 19).

CRUZ, C. D. Programa Genes: aplicativo computacional em genética e estatística. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2001. 648 p.

FALCONER, D. D. Introdução à genética quantitativa. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1981. 279 p.

FARIAS NETO, J. T. Comportamento e variabilidade de genótipos de soja (Glycyne max (L.) Merrill) em cultivos de verão e inverno. 1987. 87 f. Dissertação (Mestrado) – ESALQ, Piracicaba.

FONSECA, T. C. Estimação de parâmetros visando a seleção de híbridos artificiais de amoreira (Morus alba L.). 1978. 51 f. Dissertação (Mestrado) – ESALQ, Piracicaba.

HAMRICK, J. L. The distribution of genetic variation within and among natural populations. In: SCHONEWALD-COX, C. M.; CHAMBERS, S. M.; MACBRYDE, B.; THOMAS, W. L. (Ed.). Genetics and conservation. London: The Benjamin/ Cumming Publ., 1983. p. 335-348.

KAGEYAMA, P. Y.; GANDARA, F. B. Dinâmica de populações de espécies arbóreas: implicações para o manejo e a onservação. In: SIMPÓSIO DE ECOSSISTEMAS DA COSTA BRASILEIRA, 3., 1993, Serra Negra. Anais. Serra Negra: ACIESP, 1993. p. 115-125.

MARTINS, P. S.; VELLO, N. A. Performance and variabilility of agronomic characters in populations of Stylosantes guianensis (Aubl.) sw. In: INTERNATIONAL GRASSLAND CONGRESS, 14., 1981, Kentuchy. Proceedings... Boulder: Westview Press, 1983. p. 196-198.

NOGUEIRA, O. L.; HOMMA, A. K. O. Análise econômica de sistemas de manejo de açaizais nativos no estuário amazônico. Belém: Embrapa-CPATU, 1998. 38 p. (Embrapa-CPATU. Documentos, 128).

OHASHI, S. T.; KAGEYAMA, P. Y.; COSTA, L. G. S. Variação genética entre populações de Euterpe oleracea Mart. do estuário Amazônico. Revista do Instituto Florestal, São Paulo, v. 4, pt. 4, p. 1246-1251, 1992. Edição dos Anais do 2º Congresso Nacional sobre Essências Nativas.

OLIVEIRA, M. do S. P. de; MÜLLER, A. A. Seleção de germoplasma de açaizeiro promissor para frutos. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 1998. 5 p. (Embrapa Amazônia Oriental. Pesquisa em Andamento, 191). 97-104.

João Tomé de Farias Neto1; Antônio Agostinho Müller2; Maria do Socorro Padilha de Oliveira2;
Dewis Eduardo Silva do Espirito Santo2; Mirna Rafaela Almeida da Silva3
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*Trabalho financiado pelo convênio Sectam/Funtec/Embrapa/Funagri no 95.
1. Pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental.
tome[arroba]cpatu.embrapa.brS; amuller[arroba]cpatu.embrapa.br; spadilha[arroba]cpatu.embrapa.br
2. Bolsista do convênio Pibic/Embrapa/CNPq.



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