Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 


Avaliação do desempenho de duas semeadoras-adubadoras de plantio direto em diferentes teores de água (página 2)

Luciana Castro Geraseev

Material e métodos

Este trabalho foi desenvolvido em condições de campo, no ano agrícola 1998/99, no campo experimental do Fundão, pertencente à Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG. A área está situada a 20o45’20"S e a 42o52’40" W(Gr), com altitude média de 600 a 700 m. Caracteriza-se, climaticamente, por temperatura média anual de 19oC e precipitação média anual de 1.300 a 1.400 , concentrada, principalmente, durante o período de outubro a março, com média anual de umidade relativa do ar de 80 a 85% e temperatura média, neste período, de 23oC.

Avaliaram-se duas semeadorasadubadoras de milho para plantio direto, sendo uma modelo Vence Tudo S. A. 7300, com duas linhas de plantio espaçadas de um metro. A máquina é montada no sistema de engate de três pontos, apresenta mecanismos de simples funcionamento e pequeno porte, sendo recomendada para atender às necessidades de pequenas propriedades rurais. É constituída, basicamente, por disco liso de corte da palhada, conjunto distribuidor de fertilizantes tipo bota sulcadora, distribuidor de sementes tipo disco duplo defasado, dosador de sementes tipo disco alveolado acionado por pneus de tração, e roda compactadora. A outra máquina é marca FNI-HOWARD Rotacaster, modelo RT 6010, com duas linhas de plantio espaçadas de um metro. A máquina é montada no sistema de engate de três pontos, mecanismos de abertura do sulco tipo preparo localizado, acionados pela tomada de potência, mecanismos de deposição de sementes tipo facão e sistema de distribuição de sementes tipo cilindro canelado, acionados por pneus de tração.

As semeadoras-adubadoras foram tracionadas por um trator da marca Massey Ferguson, modelo 265, com tração dianteira auxiliar e potência nominal de 48 kW. A tração dianteira auxiliar foi desconectada e o diferencial travado, durante os testes experimentais.

Os testes foram realizados em um Argissolo Vermelho-Amarelo, fase terraço, classe de solo muito utilizada na região para a cultura do milho. O solo é também caracterizado como argiloso (590 g kg-1 de argila), apresentando densidade média de 1,05 g dm-3 . Os teores de água no solo (0,29; 0,34; 0,37 e 0,42 kg kg-1) situavam-se dentro da faixa friável (até 0,47 kg kg-1), recomendada para operações de semeadura. Estes teores de água foram conseguidos, naturalmente. O solo estava coberto por capim angola Brachiaria mutica (4,1 t ha-1 de massa seca). A área experimental correspondia a aproximadamente, 1 ha e sua topografia apresentava declividade média de 2%.

Por ocasião do teste de desempenho do conjunto trator-semeadora, foi determinada a resistência do solo à penetração (Quadro 1), de acordo com a norma ASAE S313.2 (ASAE, 1998), com três repetições por parcela experimental, obtendo-se o índice de cone de 0 a 100 mm de profundidade.

Antes da realização dos testes, as semeadoras foram reguladas para plantio de milho, com espaçamentos de 1.000 mm, 7 sementes por metro-1 (equivalente a 70.000 sementes hectare-1) e profundidade de 50 mm. A semente utilizada no teste foi a variedade BR 106 com peneira 22M.

Foi utilizado o delineamento experimental sementes por metro-1 (equivalente a 70.000 em blocos casualizados, sendo testadas sementes hectare-1) e profundidade de duas semeadoras com diferentes mecanismos de abertura e colocação da semente no solo em uma única velocidade, variando-se os teores de água em quatro níveis com quatro repetições, num total de 32 parcelas experimentais, ocupando uma área de 60 m2, sendo 30 m de comprimento e 2 m de largura cada parcela . Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e comparados pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. As análises estatísticas dos dados foram realizadas, utilizando-se o programa computacional Saeg, Versão 8.

A patinagem das rodas motrizes foi determinada, baseando-se na relação entre o número de voltas do rodado do trator sem carga e com o trator em condições de trabalho durante os testes experimentais, conforme equação 1.

A patinagem da roda acionadora da semeadora foi determinada pela relação entre o número de voltas da roda teórico e medido no campo, mediante a equação 2. O número de voltas da roda acionadora foi medido, ao longo da parcela experimental de 40 m, enquanto o número teórico de voltas que a roda acionadora deveria girar, sem patinar, foi calculado, utilizando-se o perímetro da roda.

O consumo de combustível foi determinado por meio de um fluxômetro, constituído de uma bureta de vidro graduada em mL, conectada ao sistema de alimentação do motor do trator. De posse dos dados de consumo de combustível e do tempo de cada teste, calculou-se o consumo

O índice de velocidade de emergência de plântulas foi avaliado, em um comprimento de 10 m na linha de plantio. O número de sementes inicial foi determinado, de acordo com a uniformidade de distribuição de sementes pela semeadora-adubadora. A contagem das plântulas emergidas foi feita, diariamente, durante, aproximadamente, 14 dias.

A determinação do índice de velocidade de emergência de plântulas foi feita, utilizando-se a fórmula proposta por Maguire (1962), substituindo o termo germinação por emergência.

Resultados e discussão

O Quadro 2 é apresenta a influência do teor de água do solo sobre a patinagem da roda motriz do trator. Não foram observadas diferenças estatísticas entre as semeadoras, para patinagem do trator, mesmo havendo diferenças técnicas entre as duas máquinas, em que o modelo Vence Tudo teve os seus componentes ativos arrastados, durante o deslocamento, exigindo, assim, maior esforço; e o modelo Rotacaster que é acionada pela tomada de potência.

A patinagem variou com o teor de água do solo, observando-se menor valor para 0,34 kg kg-1 . Nos teores de água do solo estudados, as patinagens ficaram dentro da faixa proposta pela ASAE (1996), que é de 8 a 10% em solo firme; isso ocorreu devido à potência do trator estar bem acima daquela requerida pela máquina. Fatores como a altura de garras dos pneus, que estavam abaixo dos 10% recomendados para troca e uso de lastros, podem ter interagido levando a estes resultados.

O Quadro 3 apresenta o consumo horário de combustível do trator, determinado para as duas semeadoras-adubadoras nos diferentes teores de água do solo. Não houve efeito significativo das semeadoras nem do teor de água do solo, sobre o consumo de combustível. Entretanto, o trator apresentou maior consumo de combustível com a semeadora Rotacaster, o que foi ocasionado pela maior patinagem ocorrida no trator e pela tomada de potência, que permaneceu ligada para acionamento dos mecanismos de corte do solo, exigindo, assim, maior potência do motor.

A influência do teor de água do solo sobre a patinagem das semeadorasadubadoras é apresentada no Quadro 4. Não houve efeito do teor de água do solo sobre a patinagem das semeadoras. Entretanto, houve um aumento da patinagem com a elevação do teor de água, para as duas máquinas.

Ocorreram diferenças estatísticas em relação às máquinas, sendo a maior patinagem verificada na semeadora Rotacaster, o que ocorreu devido ao fato de esta estar equipada com pneus lisos, o que ocasiona uma menor eficiência de tração. Estes valores estão de acordo com os propostos por Balastreire (1990), ou seja, 8% para roda de borracha lisa e 4% para borracha ranhurada.

A semeadora-adubadora Rotacaster apresentou maior número de sementes para as umidades de 0,29 kg kg-1 e 0,42 kg kg-1 (Quadro 5). Tal fato é devido a semeadoraadubadora apresentar mecanismos dosadores de sementes de baixa precisão. Para a semeadora-adubadora Vence Tudo houve uma maior distribuição de sementes à maior umidade.

O coeficiente de variação médio do número de sementes distribuídos para os teores de água foi de 11,3% para o modelo Vence Tudo, ficando próximo aos valores médios de 10,01%, encontrados por Oliveira (1997) e 12,22% verificados por Mantovani et al. (1992), enquanto, para a Rotacaster houve um coeficiente de variação 16,3%, devido o mecanismo de distribuição ser de baixa precisão.

Na análise do índice de velocidade de emergência no campo, houve comportamento superior da semeadora Vence Tudo, para os teores de umidade de 0,29; 0,37 e 0,42 kg kg-1 (Quadro 6). Um fator que influenciou esta maior emergência foi a diferença técnica entre as semeadoras. A semeadora Vence Tudo faz as correções das variações da superfície do solo, e isso faz com que a semente fique a uma mesma profundidade de semeadura. Além disso, esta semeadora tem discos que fazem o recobrimento das sementes antes da compactação, favorecendo a emergência. Já

o modelo Rotacaster, por ser acoplado à tomada de potência do trator, trabalha a uma mesma altura, com os mecanismos de distribuição de semente no solo, fazendo com que, em certos locais, a semente fique sem cobertura e isso interfere na germinação, possivelmente, devido à falta de água, afetando o estande, o que, segundo Mantovani (1992), afeta significativamente a produtividade da cultura.

À umidade de 0,42 kg kg-1 houve maior velocidade de emergência no campo, utilizando a Vence Tudo, o que coincidiu com a maior distribuição de sementes no solo nesse teor de água (Quadro 5), refletindo-se, assim, no número de plantas germinadas.

Conclusões

  • Os teores de água estudados não interferiram no consumo de combustível do trator, para as duas semeadorasadubadoras
  • teor de água do solo não influenciou a patinagem do trator, para as duas semeadoras-adubadoras.
  • Houve menor patinagem, ao utilizar a semeadora-adubadora Vence Tudo.
  • teor de água do solo não interferiu no índice de velocidade de emergência, para as duas semeadoras-adubadoras.

 

Referência bibliográfica

ASAE -American Society of Agricultural Engineers. Agricultural machinery management data. ASAE Standards S313.2. St. Joseph, Michigan, p.332-339, 1996.

ASAE -American Society of Agricultural Engineers. Soil cone penetrometer. ASAE Standards S313.2. St. Joseph, p.820-821, 1998.

BALASTREIRE, L. A. Máquinas agrícolas. São Paulo: Manole, 1990. 307p.

CASÃO JUNIOR, R. Avaliação do desempenho da semeadora-adubadora Magnum 2850 PD no basalto paranaense. Londrina: IAPAR, 1998. 47p. (IAPAR circular, 105).

FONSECA, M. G. C. Plantio direto de forrageiras: sistema de produção. Guaíba, RS: Agropecuária, 1997. 101p.

GASSEN, D., GASSEN, F. Plantio direto o caminho do futuro. Passo Fundo, RS: Aldeia Sul, 1996. 207p.

KONDO, M. K., DIAS JÚNIOR, M.S. Compressibilidade de três latossolos em função da umidade e uso. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.23, n.2, p.211-218, 1999.

LANDERS, J. N., Fascículo de experiências de plantio direto no cerrado. Goiânia, Go: Associação de Plantio Direto no Cerrado, Fundação Cargill. 1995. 261p.

MAGUIRE, J. D., Speed of germination-aid in selectyon and evaluation for seedling emergence and vigor. Crop Science, Madison, v. 2, n.1, p. 176 -177, 1962.

MANTOVANI, E. C., BERTAUX, S., ROCHA,

F. E. C. Avaliação da eficiência operacional de diferentes semeadoras-adubadoras de milho. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.27, n.12, p.1579-1586, 1992.

OLIVEIRA, M. L.; VIEIRA, L. B.; MANTOVANI, E. C.; SOUZA, C. M.; DIAS,

G. P. Avaliação de uma semeadora para o plantio direto, em dois solos com diferentes tipos de cobertura vegetal. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília, v.35, n.7, p.1455-1463, 2000.

RIBEIRO, M. F. S. Mecanização agrícola. In: DAROLT, M. R. Plantio direto: pequena propriedade sustentável. IAPAR, Londrina: 1998. p. 95-111. (Circular, 101).

SILVA, J. G. Ordens de gradagens e sistemas de aração do solo, desempenho operacional, alterações na camada mobilizada e respostas do fejoeiro (Phaseolus vulgaris L.). Botucatu: UNESP,

Elton Fialho dos Reis2, Luciano Baião Vieira3, Caetano Marciano Souza4, Carlos Ernesto G. R. Schaefer5, Haroldo Carlos Fernandes3
haroldo[arroba]ufv.br

1 Parte da tese apresentada pelo primeiro autor para obtenção do grau de Mestre em EngenhariaAgrícolapelaUniversidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG.
2 Doutorando em Engenharia Agrícola, DEA-UFV, 36571-000, Viçosa, MG-Brasil. E-mail: elton[arroba]alunos.ufv.br
3 Professor Adjunto, D.S., Dep. Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Viçosa. 36571-000
4 Professor Adjunto, D.S., Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa. 36571-000
5 Professor Adjunto, Ph.D., Dep. de Solos, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 36571-000.



 Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.