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Eficácia do fomesafen aplicado via água de irrigação por aspersão no controle de Bidens pilosa (página 2)

Luciana Castro Geraseev

Material e métodos

O experimento foi conduzido em casa de vegetação, no período de julho a setembro de 2003. Os tratamentos foram dispostos no esquema fatorial 4 x 3 x 2 + 3, sendo quatro doses do fomesafen (60, 120, 180 e 240 g ha-1), três estádios de desenvolvimento da B. pilosa (1, 7 e 14 dias após a emergência DAE), dois métodos de aplicação (pulverização e herbigação) e três testemunhas sem herbicida (uma para cada estádio de desenvolvimento da planta daninha). Foi empregado o delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições. Cada unidade experimental constou de um vaso com capacidade de 4,0 L.

Foi avaliado o herbicida fomesafen {5-[2cloro-4-(trilfluorometil) fenóxi]-N-metilsulfonil2-nitrobenzamida}, marca comercial Flex. Suas principais características são: formulação solução aquosa (SA) 250 g L-1 do i. a.; solubilidade em água (Sw) de 600 g L-1 a 25 ºC (sal de Na); pressão de vapor (Ca) de 1,33 10-8 kPa a 50 °C; constante de ionização ácida (pKa) de 2,7 a 20 °C; coeficiente de partição octanol/água (Kow) de 794 em pH 1; coeficiente de repartição carbono/água (Koc) médio de 60 mL g-1 de solo; e meia-vida de dois a seis meses, na dose de 240 g ha-1 (Rodrigues e Almeida, 2005).

No enchimento dos vasos, usou-se um Argissolo Vermelho-Amarelo câmbico, com 3,69% de matéria orgânica e 49% de argila. Após o enchimento dos vasos com solo até um cm da borda, foram distribuídas 50 sementes pré-germinadas de B. pilosa, por vaso. Em seguida, as sementes foram cobertas com solo até a borda dos vasos. Diariamente, aplicou-se irrigação com lâmina de água de 4,72 mm, pois, esta foi a lâmina de água possível de ser aplicada pelo sistema de irrigação que mais se aproximava de uma irrigação adequada para as culturas de feijão e soja.

Na aplicação do herbicida pelo método convencional, empregou-se pulverizador hidráulico, com pressão constante, equipado com barra de bicos hidráulicos de jato plano F 110/0.8/03 da Lurmark. Durante as pulverizações, a altura da barra em relação à parte superior das plantas e o espaçamento entre os bicos foram de 0,5 m. A velocidade de deslocamento do aplicador foi de 4,8 km h-1 e a pressão de operação foi de 300 kPa. O volume de pulverização foi equivalente a 200 L ha-1 .

Na herbigação, empregou-se um sistema de irrigação constituído de depósito para 50 L (1), motobomba centrífuga de um cv (2), registros (3), filtro de linha (4) manômetro (5), e emissores do tipo difusor com jato de abertura de 90° e 180° (6 e 7 respectivamente) (Figura 1).

Os tratamentos que não receberam herbicida, também, foram irrigados com esta lâmina de água. Cada herbigação teve duração de 5 minutos, sendo realizada entre 7 e 10 horas da manhã. As temperaturas e umidades relativas do ar em cada aplicação foram, respectivamente, de 27°C e 75% na primeira aplicação (1 DAE), de 22°C e 82% na segunda aplicação (7DAE), e de 23°C e 79% na terceira aplicação (14 DAE). O Coeficiente de Uniformidade de Christiansen (CUC) da água aplicada pelo simulador foi de 95,9%.

Com um DAE, 59% das sementes haviam germinado e emergido, sendo que as plântulas apresentavam-se com as folhas primárias abertas e altura média de 0,72 cm. Com sete DAE, 81% das sementes haviam originado plantas, cuja altura média foi de 2,25 cm e apresentavam o primeiro par de folhas definitivo. Com 14 DAE, as plantas tinham altura média de 3,87 cm e já haviam iniciado desenvolvimento do 3°par de folhas.

A avaliação da eficácia dos tratamentos foi feita visualmente em intervalos de sete dias após as aplicações do herbicida, empregando-se a escala proposta pela Asociación Latinoamericana de Malezas (1974) (Quadro 1). Após a colheita das plantas aos 35 DAE, foi determinada a massa seca. Para isso, fez-se o corte das plantas rente ao solo. Em seguida, elas foram secas em estufa a 70 ± 1 °C, durante 72 horas.

A massa de plantas secas foi submetida à análise de variância. As médias do fator estádios de desenvolvimento da planta daninha foram comparadas pelo teste de Newman Keuls, a 5% de probabilidade; na a comparação dos métodos de aplicação usouse o teste F. O teste de Dunnett, a 5% de probabilidade, foi empregado para a comparação das médias de cada tratamento, que recebeu o herbicida com as respectivas testemunhas.

Resultados e discussão

Em plântulas recém-emergidas (1 DAE), as doses de 60 e 120 g ha-1 proporcionaram controle regular a bom aos sete DAE, mas as plantas recuperamse aos 14 DAE (Quadro 2). Aos 35 DAE, não houve diferença significativa entre os métodos de aplicação na massa das plantas secas, quando a aplicação foi feita com um DAE, nessas duas doses o (Quadro 3), mas as médias de ambos os métodos foram menores que a da testemunha (1,777 g vaso-1) que não recebeu herbicida (Quadro 4). Independentemente do método de aplicação com um DAE, o controle da espécie daninha melhorou com a dose de 180 g ha-1 (Quadros 2 e 3). Em relação à testemunha, a massa de plantas secas foi reduzida em mais de quatro vezes (Quadro 4). Na dose de 240 g ha-1 , o controle – entre bom e excelente (Quadro 2) – foi melhor com pulverização (Quadro 3), mas a herbigação reduziu a massa de plantas em mais de oito vezes, em relação à testemunha (Quadro 4).

Em geral, o controle proporcionado pelo fomesafen foi melhor, quando a espécie estava com sete DAE do que com um DAE (Quadros 2 e 4). Nas doses de 60 e 120 g ha-1 , a pulverização em plantas com sete DAE fez com que as plantas produzissem menor massa (avaliada aos 35 DAE), em relação à pulverização em plântulas com um DAE; na dose de 180 g ha-1, este fato ocorreu com ambos os métodos; na dose de 240 g ha-1 , apenas a herbigação reduziu-a (Quadro 3). A pulverização reduziu mais a massa das plantas que a herbigação nas doses de 60 e 120 g ha-1, mas não houve diferença entre as médias dos métodos de aplicação, nas doses de 180 e 240 g ha-1 .

O controle da espécie daninha com 14 DAE foi pior que o obtido, quando ela se encontrava com um DAE ou sete DAE (Quadro 2). Houve maior massa de plantas secas, quando a herbigação foi feita com as doses de 120 e 180 g ha-1 , em plantas com 14 DAE do que em plantas com um DAE ou sete DAE; na pulverização, esse fato ocorreu com a dose de 240 g ha-1 (Quadro 3). A pulverização reduziu mais a massa de plantas secas que a herbigação nas doses de 120 e 180 g ha-1 , mas não houve diferença entre os métodos de aplicação nas doses de 60 e 240 g ha-1 (Quadro 3). Na pulverização, apenas a dose de 60 g ha-1 não afetou a produção de massa de plantas secas em relação à testemunha; na herbigação, isso ocorreu com as doses de 60 e 120 g ha-1 (Quadro 4). Segundo Lorenzi (2000), o controle do B. pilosa com quatro a oito folhas com fomesafen varia de 50% a 85%. O controle variou de 41% a 60%.

Este estudo corrobora os resultados obtidos por Dowler, (1984, 1985); Vieira & Fontes (1995); Fontes et al. (1999); Leite et al. (1999); Leite (2001): controle entre bom e excelente da B. pilosa com o fomesafen aplicado via água de irrigação por aspersão na dose em torno da recomendada, ou seja, 240 g ha-1 . Os resultados também indicam que, embora

o controle da planta daninha seja um pouco menos eficiente com a dose de 180 g ha-1 , especialmente em plântulas com um DAE, a herbigação é tão eficaz quanto a pulverização. Este herbicida, na forma de sal de sódio, tem alta solubilidade em água (600.000 mg L-1) (Rodrigues e Almeida, 2005), característica esta desfavorável na herbigação de produtos aplicados em pós-emergência. No entanto, sua rápida absorção pela folhagem e a absorção pelas raízes parece compensar a alta solubilidade do herbicida (Vieira et al., 2003). Quanto a fungicidas e inseticidas, que também visam a parte aérea das plantas, os resultados de pesquisa têm demonstrado que a quimigação também é eficiente, em muitas situações, para os produtos com baixa solubilidade em água (Vieira & Sumner, 1999; Vieira, 1994). Quanto aos fungicidas, os resultados com os produtos sistêmicos têm sido melhores que com os de contato, provavelmente devido à sua rápida absorção pela folhagem e à absorção pelas raízes (Vieira & Sumner, 1999).

O grande volume de água aplicado na herbigação parece ser compensado, pelo menos em parte, pela absorção do fomesafen pelas raízes e pela mais rápida absorção e translocação dele na planta. A absorção do fomesafen pela folhagem das plantas daninhas e sua translocação, provavelmente, são estimuladas pelo microclima (alta umidade do ar e do solo) em torno das plantas, durante período relativamente longo, em que elas recebem a solução diluída do herbicida. Ademais, segundo Boydston & Al-khatib (1993), a superfície foliar exposta ao herbicida pode ser dobrada na herbigação, pois, ambas as faces das folhas são atingidas pela solução.

Conclusões

  • fomesafen aplicado via água de irrigação proporcionou melhor controle de B. pilosa, quando aplicado no estádio de sete dias após a emergência (DAE).
  • Não há controle adequado de B. pilosa, com as doses de 60 e 120 g ha-1 .
  • Na dose de 180 g ha-1, o fomesafen é eficaz, somente, quando aplicado em plantas de B. pilosa com sete DAE, independentemente do método de aplicação.
  • Na dose recomendada do fomesafen de 240 g ha-1, a herbigação entre os estádios de desenvolvimento de um DAE a sete DAE proporciona bom a excelente controle da planta daninha.
  • Em plantas com 14 DAE, mesmo na dose de 240 g ha-1 , o fomesafen é pouco eficiente, independentemente do método de aplicação.

Agradecimento

Os autores agradecem ao CNPq pelo financiamento desta pesquisa.

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Renato Adriane Alves Ruas2, Mauri Martins Teixeira3, Rogério Vieira Faria4, Antônio Alberto da Silva5, Haroldo Carlos Fernandes6, Fernando Pinheiro dos Reis7
haroldo[arroba]ufv.br

1. Parte da tese do primeiro autor.
2. Agrônomo, Prof. Substituto, DEA/CCA/UFV. Fone (31)3899-2046, E-mail:
ruas[arroba]vicosa.ufv.br
3. Agrônomo, Prof. Adjunto, DEA/CCA/UFV.
4. Agrônomo, EMBRAPA/EPAMIG, Viçosa/MG.
5. Agrônomo, Prof. Adjunto, FIT/CCA/UFV.
6. Eng. Agrícola, Prof. Adjunto, DEA/CCA/UFV.
7. Licenciado em Matemática, Prof. Adjunto, DPI/CCE/UFV.



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