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Efeitos do período de serviço corrente e anterior e do período seco sobre a produção de leite de vac (página 2)

Jaime Araujo Cobuci, Ricardo Frederico Euclydes, Roberto Luiz Teodoro, Rui

Entretanto, Thompsom, Freeman e Berger (1982), verificaram que no estudo de modelos nos quais se inclui o pico de produção, o uso de fatores de ajuste não foi satisfatório para períodos de serviço superiores a 180 dias. O ajuste das produções em função do período de serviço resultou em menores trocas na capacidade de transmissão dos touros (PTA). Teixeira et al. (1995), mencionam que tanto vacas primíparas, como as multíparas foram afetadas de forma semelhante e que o ajustamento não deveria ter efeito prático.

Em vacas da raça Hariana na Índia, Singhi e Desai (1962) verificaram que o máximo de produção de leite na lactação seguinte era obtido com período seco entre 60 e 90 dias e que períodos superiores a 90 dias não traziam aumento na produção. Funk, Freeman e Berger (1987) mostraram que vacas que tiveram um período seco entre 60 e 69 dias produziram mais na lactação seguinte. Vacas com período seco inferior a 40 dias produziram menos leite e pelo fato da herdabilidade para este fator ser inferior a 0,07, os autores acreditam que fatores de ajuste (multiplicativos) devem ser utilizados.

Por outro lado, Schaeffer e Henderson (1971) e também Valente et al. (1994) mencionam que as estimativas de herdabilidade para período seco variam de 0,12 a 0,34, não sendo, desta forma conveniente o ajustamento. Também Parekh e Dutt (1995), obtiveram resultados evidenciando que a utilização de fatores de ajuste para período seco não foram efetivos para ajuste da produção láctea. Além disto, Marinho (1988) verificou que os parâmetros zootécnicos recomendados para as raças leiteiras taurinas são inadequados para as raças zebuínas submetidas ao mesmo tipo de seleção.

Considerando-se as divergências nos trabalhos de pesquisa oriundos na literatura e pela inexistência de trabalhos nesta área envolvendo vacas da raça Gir, decidiu-se pela realização deste trabalho, que teve como objetivo estudar os efeitos do período de serviço corrente e anterior, bem como do período seco anterior sobre a produção de leite até 305 dias de lactação de vacas da raça Gir.

Material e métodos

Os dados utilizados neste trabalho são oriundos do programa de melhoramento da raça Gir, coordenado pela EMBRAPA Gado de Leite, ABCGIL, ABCZ, centrais de processamento de sêmen e criadores, no qual continha registros referentes a 19.016 lactações. Estes, dados após algumas eliminações para dar maior confiabilidade ao estudo, resultaram em um arquivo com 4504 lactações de animais "puros" para as análises de período de serviço corrente e anterior (PSC e PSA) e 10.598 lactações para as de período seco (PSECO). Para as análises de PSC e PSA e de PSECO foram usados registros de 16 e 20 rebanhos, respectivamente (Tabela 1).

Os rebanhos foram subdivididos em dois níveis de manejo com relação à produção média de leite até 305 dias, dos animais paridos até os 64 meses de idade. Considerou-se nível alto de manejo como sendo igual ou acima de 2505,13 kg de leite para PSC e PSA e de 2413,30 kg para PSECO e nível baixo de manejo para registros abaixo destas médias. Os registros de PSC e PSA permaneceram entre 21 e 320 dias, divididos em 13 classes (Classes de PSC e de PSA) e PSECO entre 0 e 400 dias, dividido em 18 classes (Classes de PSECO), conforme Tabela 2. Foram mantidas as lactações com duração entre 90 e 400 dias e uma produção em 305 dias acima de 225 kg e inferior a 10.000 kg.

O modelo geral utilizado para descrever cada registro da produção de leite, incluiu os efeitos de nível de manejo, rebanho dentro do nível, estação e ano de parto, além dos efeitos linear e quadrático da idade da vaca ao parto em meses, bem como os efeitos, em cada caso, do período de serviço corrente (PSC), ou do período de serviço anterior (PSA) ou do período seco (PSECO).

Para as análises foi utilizado o método dos quadrados mínimos para se obter a significância dos efeitos, através do pacote computacional S.A.S. (1995). Se gundo Braga (1982) o modelo descontínuo (LRP) se ajusta em casos onde ocorre uma mudança brusca na curva que representa os dados, o que foi observado no presente estudo tanto para período de serviço corrente como anterior. Desta forma utilizou-se o método de regressão por meio do ‘Linear Response Plateau’ (LRP) através do pacote computacional SAEG (Euclydes, 1983), sendo o mesmo empregado na estimação dos fatores de ajuste.

Resultados e discussão

Pelas análises estatísticas (Tabela 3) referentes à produção de leite até 305 dias dentro do arquivo de classes de período de serviço corrente (CPSC) e de classes de período de serviço anterior (CPSA), observou-se que todos os efeitos, com exceção das interações entre nível e classe de período de serviço e entre estação de parto e classe de período de serviço, foram significativos (P<0,01), tanto no estudo de período de serviço corrente como no de período de serviço anterior.

Vacas submetidas ao nível alto de manejo apresentaram maior produção de leite (2512 kg em comparação a 1976 kg) nos arquivos de período de serviço. É possível supor que este resultado possa ser devido, segundo especulações de Lucci (1997), a uma provável melhor suplementação alimentar associada ao fato de uma presumível associação entre qualidade genética e nível de manejo.

As vacas paridas na estação seca produziram mais leite até 305 dias (2203 kg comparado a 2286 kg) nos arquivos de período de serviço), sugerindo que vacas paridas nesta estação podem apresentar uma melhor condição corporal ao parto, associando-se ao fato de estas receberem uma melhor suplementação. Outro fator que pode refletir em queda de produção na estação das águas está relacionado às altas temperatura e umidade que causam desconforto ao animal (Galvão, 1993).

Com relação às diferenças significativas encontradas entre os rebanhos dentro de cada nível de produção, elas são provavelmente devidas à variabilidade genética, técnicas operacionais e objetivos dos produtores (Ledic, 1992).

Com relação ao estudo do PSC observou-se uma mudança brusca na curva que representa os dados, o que segundo Braga (1982), justifica o estudo pelo modelo descontínuo (LRP). No presente caso o uso de um modelo quadrático mostrou valores extremamente elevados de período de serviço corrente ou anterior os quais não condizem com a realidade, tendo em vista que a produção se estabiliza quando há aumentos no períodos de serviço.

Pela Figura 1 pode-se observar que quando se considerou a análise por LRP, encontrou-se uma relação linear positiva entre as produções de leite até 305 dias e CPSC até um patamar de 2440 kg (período de serviço corrente contido na nona CPSC - 231 dias) e, a partir daí uma estabilização. A equação quadrática que se ajusta a estes dados apresenta um ponto de máxima de 2435 kg (PSC de 286 dias), ou seja 55 dias a mais. Com base no resultado do modelo qua-drático é possível inferir-se que poderíamos atrasar a cobertura até 286 dias e mesmo assim teríamos incrementos na produção, o que é questionável pois a análise pelo modelo LRP mostra que acima de 231 dias há uma estabilização na produção, mesmo quando se atrasa a cobertura até 320 dias.

Sanders (1990) e a ACGHMG (1998) citam que ocorre um prejuízo considerável para cada dia de atraso na cobrição. Lemos (1986) concluiu que períodos de serviço longos prejudicam a produção na vida útil do animal e com base nestes resultados, acredita-se que mesmo o valor de 231 dias é prejudicial, pois reduz a produção por dia de intervalo, sendo recomendável reduzir o período de serviço para valores bem menores.

A Figura 2 mostra uma defasagem ainda maior entre os pontos de máxima considerando os dois modelos. Quando se considerou a análise por LRP, obtevese uma relação linear positiva entre as produções de leite até 305 dias e CPSA até um patamar de 2327 kg (período de serviço anterior contido igualmente na nona CPSA - 223 dias) e, a partir daí uma estabilização. A produção máxima estimada com base no modelo quadrático foi de 2350 kg (PSC de 325 dias), o que representa 102 dias a mais. Este resultado conduz à especulação de que seria válido retardar a cobrição até 325 dias pós-parto quando se deseja uma alta produção, o que também não encontra respaldo nos valores observados, visto que acima de 223 dias não há mais aumentos e sim uma estabilização na produção, mesmo quando se atrasa a cobertura até 320 dias.

Estes resultados são, desta forma, semelhantes aos obtidos para período de serviço corrente, o que reforça a necessidade de se reduzir o período de serviço.

Tendo em vista que as CPSC e CPSA influenciaram significativamente a produção de leite, verificou-se ser importante a elaboração de fatores de ajuste multiplicativos, independente do nível de manejo e da estação de parto. Estes fatores de ajuste foram estimados com base no modelo descontínuo (LRP) e terão como objetivo minimizar as distorções das produções de leite até 305 de vacas da raça Gir, com relação a período de serviço corrente e anterior (Tabela 4), tendo como finalidade, serem utilizados nos programas de seleção de touros e vacas.

Os resultados obtidos diferem dos encontrados por Ramos (1984), Polastre (1985) e Vidal, 1986 citado por Souza (1991) os quais mencionam que períodos de serviço longos influenciam negativamente a produção de leite, enquanto que Lemos (1996) concluiu que períodos de serviço longos embora melhorem a produção total, podem prejudicar a lucratividade da propriedade diminuindo a produção na vida útil do animal.

Deve-se considerar que a redução do PSC e do PSA poderia trazer uma maior rentabilidade para a propriedade, com a venda de um maior volume de leite e um maior número de animais. Desta forma, é questionável a viabilidade econômica de se aguardar até um PSC de 231 dias ou um PSA de 223 dias pós-parto para se fazer a cobrição, com a finalidade de se obter uma maior produção de leite em uma única lactação, ao invés de se obter uma maior produtividade durante toda a vida dos animais.

O período seco anterior e a interação de nível com CPSECO não influenciaram a produção de leite até 305 dias (P>0,05). É importante ressaltar que o período seco foi responsável por apenas 0,14 % da variação total, enquanto os períodos de serviço responderam por 1 a 3 % da variação total, o que mostra a baixa influência do período seco anterior sobre a produção de leite. As demais variáveis influenciaram (P<0,01) a produção de leite até 305 dias (Tabela 5).

Os resultados obtidos nas análises do período seco,diferem de alguns autores consultados, tais como Singhi e Desai (1962), Funk, Freeman e Berger (1987) e Makuza e McDaniel (1996), os quais encontraram influência significativa do período seco, sugerindo que a duração ideal é de aproximadamente 60 dias, mas concordam com Schaeffer e Henderson (1971) e Valente et al. (1994) os quais mencionam que as estimativas de herdabilidade para período seco variam de 0,12 a 0,34, semelhantemente também aos de Parekh e Dutt (1995), mostrando que não há necessidade da elaboração de fatores de ajuste multiplicativos para a produção de leite em função de período seco anterior.

Acredita-se que a não influência de CPSECO sobre a produção de leite até 305 dias em vacas da raça Gir se deva principalmente aos baixos níveis de produção nas lactações analisadas, fato que não levaria a um grande desgaste do animal e nem dos tecidos da glândula mamária, necessitando-se entretanto de maiores estudos para esclarecer o ocorrido, pois contraria o encontrado na literatura. 

Conclusões

De uma forma geral, os efeitos de meio influenciam a produção de leite em animais da raça Gir, sendo que o período seco anterior, diferentemente dos períodos de serviço corrente e anterior, não influenciam a produção de leite nos rebanhos estudados.

Há necessidade de se utilizarem fatores de ajuste multiplicativos, para corrigir a produção de leite até 305 dias de vacas da raça Gir, com relação ao período de serviço corrente e anterior.

Não se faz necessária a utilização de fatores de ajuste multiplicativos para a produção de leite até 305 dias em relação ao período seco anterior em vacas da raça Gir dentro dos padrões de produção dos rebanhos considerados.

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Cláudio Pories Prosperi2 Antonio Ilson Gomes De Oliveira3 Tarcísio De Moraes Gonçalves4 Rui Da Silva Verneque5 Mário Luiz Martinez5 Aloísio Ricardo Pereira Da Silva6
rsverneq[arroba]cnpgl.embrapa.br

  1. Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor, apresentada ao Departamento de Zootecnia da UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS(UFLA).
  2. Técnico do DMV/UFLA e aluno de mestrado em Zootecnia/UFLA – Caixa Postal 37, 37.200-000 – Lavras - MG
  3. Professor Aposentado/UFLA e bolsista do CNPq
  4. Professor Assistente/ UFLA
  5. Pesquisador da EMBRAPA/Gado de Leite
  6. Professor Adjunto/ UFLA.


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