Neuropsicomotor



  1. Resumo
  2. Introdução
  3. Material e método
  4. Resultados
  5. Discussão
  6. Referências

Determinantes biológicos e ambientais no desenvolvimento neuropsicomotor em uma amostra de crianças de Canoas/RS

 RESUMO

Este estudo verificou a prevalência de suspeita de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e possíveis associações a fatores ambientais e biológicos, bem como à competência materna, em uma amostra de crianças de até 6 anos residentes no município de Canoas/RS. Às mães foi aplicado um questionário sobre fatores socioeconômicos e reprodutivos, condições da criança ao nascer, patologia da criança, estrutura familiar, atenção à criança e componentes da competência materna. Avaliou-se a suspeita de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor via teste de Denver II. Visitaram-se quarenta clusters pelo processo de amostragem probabilística por cluster na cidade de Canoas/RS. O delineamento do estudo foi analítico transversal. Segundo os resultados, há prevalência de suspeita de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor de 27% (n=53) das 197 crianças avaliadas. A análise multivariada mostrou os seguintes fatores associados à suspeita de atraso no desenvolvimento: baixa renda familiar (or=9,3), gestação materna com intervalo interpartal inferior a 18 meses (or=3,9) e mães sem o apoio dos pais da criança (or= 7,0). Os resultados afirmam a importância de programas de geração de renda, educação em saúde e planejamento familiar para a prevenção de atraso no desenvolvimento infantil.

Palavras-chave: Fatores ambientais, Fatores biológicos, Competência materna, Desenvolvimento infantil

Environmental and biological determinants of neuropsychomotor development in a sample of children in Canoas/RS

ABSTRACT

The object of this study is to determine the prevalence of potential delays in neuropsychomotor development and their possible association with, on one hand, environmental and biological factors, and maternal competence on the other, in a sample of children up to six years old living in Canoas, in Rio Grande do Sul state. A questionnaire was submitted to mothers including questions on social, economic and reproduction factors; child´s conditions at birth; child´s pathologies; family structure; child care and elements on maternal competence. The potential for neuropsychomotor development delay was assessed by the Denver II Test. Forty clusters were visited in Canoas, a city in Rio Grande do Sul state, in accordance with the cluster probabilistic sampling process. From 197 children assessed by this analytical cross-section study, there was a 27% (n=53) prevalence of potential delay in neuropsychomotor development. The multivariate analysis showed that factors associated with potential development delays were: low income (or = 9,3); mothers with less than 18-month intervals between pregnancies (or=3,9) ; and lack of support from child´s father (or=7,0). These results support the importance of implementing income generating programs, health education, and family planning in order to prevent child development delays.

Key words: Environment factors, Biological factors, Maternal competence, Child development

Introdução

As crianças que vivem em países em desenvolvimento estão expostas a múltiplos riscos, entre os quais o de apresentarem uma alta prevalência de doenças, o de nascerem de gestações desfavoráveis e/ou incompletas e o de viverem em condições socioeconômicas adversas. Tal cadeia de eventos negativos faz com que essas crianças tenham maior chance de apresentar atrasos em seu potencial de crescimento e desenvolvimento1,2. Estudos demonstram que as formas pelas quais se manifesta a dificuldade quanto ao desenvolvimento infantil podem estar relacionadas a fatores biológicos, genéticos, psicológicos e ambientais, geralmente envolvendo interações complexas entre eles3. Por essa razão, o impacto de fatores biológicos, psicossociais (individuais e familiares) e ambientais no desenvolvimento infantil tem sido objeto de inúmeros estudos nas últimas décadas 4,5.

Historicamente, os estudos sobre desenvolvimento têm colocado as características biológicas da população infantil como determinante principal dos atrasos intelectuais da criança. Tais idéias podem ser verdadeiras para crianças gravemente comprometidas6,7, porém, não para a maioria das crianças que apresentam um atraso moderado ou leve no seu desenvolvimento2. Um único evento, exceto se resultar em dano orgânico irreversível, não é preditivo de desfecho de desenvolvimento. A identificação de uma criança de risco pode ocorrer pela natureza do ambiente no qual ela nasceu, ou por sua condição orgânica ou por ambos os fatores8 .

Um problema biológico pode ser agravado por um ambiente não-estimulador, mas, por outro lado, pode também ser reduzido por um ambiente de apoio. Os múltiplos fatores envolvidos na determinação dos problemas de desenvolvimento e comportamento infantis são mais dependentes da quantidade do que da natureza dos fatores de risco, visto que diferentes fatores de risco produzem resultados semelhantes9.

A pobreza, por exemplo, é considerada um tipo de ameaça constante, que aumenta a vulnerabilidade da criança, pois pode causar subnutrição, privação social e desvantagem educacional10. Pesquisadores ressaltam que crescer na pobreza consiste uma ameaça ao bem- estar da criança e numa limitação de suas oportunidades de desenvolvimento. A miséria econômica é um fator de risco que, em determinadas situações, não vem desacompanhado; ela permeia a relação conjugal, contribuindo para o aumento da incidência de conflitos entre os pais e produzindo um efeito direto no relacionamento desses com a criança. Desta forma, ocasiona o que alguns autores denominam como miséria afetiva11.

Na maioria dos estudos conduzidos nas áreas do desenvolvimento infantil e de relações sociais, a interação entre mãe e criança tem sido considerada um recorte importante para o estudo da organização comportamental e competências do bebê, adquiridas no contexto desta relação. Desde a concepção, mães e bebês participam de um sistema muito complexo de relações, o qual emerge, se organiza e se modifica através do curso da evolução e de eventos culturais interpostos ao desenvolvimento subseqüente de ambos. A qualidade da interação inicial é considerada um importante fator mediador entre os eventos perinatais e o seu posterior desenvolvimento, particularmente no que se refere à comunicação, socialização e cognição12 .

Diversas teorias psicológicas incluem em seus pressupostos que a natureza das experiências com os cuidadores durante a infância exerce influência no desenvolvimento cognitivo, emocional e social da criança13,14,15. Uma vez que em nossa sociedade, em geral, é a mãe a principal cuidadora do(a) filho(a), uma mãe competente pode ser uma fonte rica em estímulos, podendo desencadear respostas adequadas da criança13,16. No presente estudo, a competência materna é considerada um construto composto por quatro componentes (rede de apoio, satisfação marital, saúde materna e característica da criança), que interligados, tornam-se um exemplo claro da complexa interação de fatores ambientais e biológicos na determinação do desenvolvimento infantil.

Segundo Tarkka17, em um estudo sobre os determinantes da competência materna em mães primíparas, utilizou-se um questionário estruturado que foi aplicado em 248 mães. Realizada análise multivariada, a autora elaborou um modelo com determinantes para o estudo da competência materna, dos quais os mais importantes foram a saúde mental da mãe, o sentimento de sucesso nos cuidados com a criança e o temperamento da criança. A autora concluiu que a competência materna é fortemente influenciada pelo contexto familiar e cultural da mãe, pelas características da criança e da mãe, bem como pelo suporte social recebido pela mãe.


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