Saúde da família



  1. Resumo
  2. Introdução
  3. Equipe de saúde no PSF: caminhos e possibilidades
  4. Algumas reflexões e suas conexões com o trabalho em equipe
  5. Interdisciplinaridade e transdisciplinaridade: um campo em construção no PSF
  6. A interação habermasiana: construindo um novo caminho
  7. Considerações finais
  8. Referências

RESUMO

O trabalho em equipe, embora não seja uma exclusividade da Saúde da Família, representa um de seus principais pilares, ainda pouco discutido em pesquisas na saúde coletiva. A perspectiva da integralidade das ações favorece uma ação inter/transdisciplinar. Na construção do projeto de Saúde da Família, é necessário que o trabalho em equipe seja norteado por um projeto assistencial comum e que os agentes desenvolvam uma ação de interação entre si e com a comunidade. Para tanto, é imprescindível o desenvolvimento de uma prática comunicativa orientada para o entendimento mútuo. Esse artigo apresenta considerações preliminares sobre o trabalho em equipe na Estratégia de Saúde da Família sinalizando seus entraves e possibilidades na construção desse modelo assistencial.

Palavras-chave: Trabalho em equipe, Saúde da família, Modelo assistencial

Teamwork: a challenge for family health strategy consolidation

ABSTRACT

Teamwork is one of the main pillars of Family Health Care projects, although it is not a strategy exclusively applied to such programs. It is not frequently discussed in current collective health research studies, but the perspective resulting from the full range of its action favors interdisciplinary and transdisciplinary actions. Thus, when building a Family Health Project, teamwork should be guided by a common health care purpose and the players involved should develop an interaction movement within the team itself as well as in relation to the community. It is therefore critical to establish communication practices for mutual understanding. This paper presents some preliminary considerations on the teamwork strategy in Family Health Care actions, indicating barriers and potentials in the construction of this health care model.

Key words: Teamwork, Family health, Health care mode

Introdução

A importância do trabalho em equipe na ESF (Estratégia Saúde da Família) é ressaltada, principalmente, pelo aspecto de integralidade nos cuidados de saúde. Considerado um dos princípios doutrinários do Sistema Único de Saúde (SUS), a integralidade reveste-se, no decorrer dos anos 90, e principalmente nesse início de século, de uma importância estratégica ímpar para a consolidação de um novo modelo de atenção à saúde no Brasil. Para alguns autores, entre eles Mattos1; Mattos2 e Cecílio3, deve ser pensada como uma imagem-objetivo, portanto polissêmica, com variados sentidos. Essencialmente, trabalhamos com a concepção de integralidade como uma dimensão/valor das práticas de saúde. Além de contribuir nessa organização, a integralidade busca uma apreensão ampliada das necessidades de saúde da população atendida. Portanto, pode ser entendida como um "tipo de marcador contínuo" que pode incluir os aspectos objetivos e subjetivos resultantes da interação/relação dos atores em suas práticas no cotidiano das instituições4.

Devemos nos lembrar que, durante toda a década pós Constituição Brasileira de 1988, a marca registrada desse período foi a tensão entre o SUS e o modelo neoliberal na área da saúde representado entre outros aspectos pela redução de gastos públicos, políticas seletivas/focalizadas, incentivos às atividades privadas/mercado. O projeto reformador da saúde, consolidado na Reforma Sanitária brasileira, deparou-se assim, no início dos 90, com o forte conflito entre os desejos de mudanças oriundos de sua proposta original e a dura realidade política-econômica-social do período, o que resultou em maiores dificuldades para a implementação do sistema (e seus princípios), conforme Rocha5.

O Programa Saúde da Família (PSF) é criado em 1994, tendo como antecessor o PACS (Programa de Agentes Comunitários em Saúde), e nos seus primeiros anos de existência foi marcado por inquietações e críticas à sua proposta, conforme aponta Paim6. Posteriormente, num sucessivo acréscimo de novas proposições, normatizações, modalidades de incentivo (financiamento) e consolidação de práticas inovadoras e exitosas em vários municípios brasileiros, passou a ser considerado como estratégia de reestruturação do sistema de saúde, a partir da Atenção Básica. Tem como pressupostos a implementação dos princípios do SUS (entre o quais a integralidade, que nos interessa mais de perto no presente artigo), e portanto caráter substitutivo ao buscar um novo modelo de atenção, baseado na promoção da saúde. Tem como elementos centrais o trabalho com adscrição de clientela, o acolhimento como porta de entrada para as Unidades de Saúde da Família, a visita domiciliar, a integralidade das práticas e a equipe multiprofissional7.

O trabalho em equipe tem como objetivo a obtenção de impactos sobre os diferentes fatores que interferem no processo saúde-doença. A ação interdisciplinar pressupõe a possibilidade da prática de um profissional se reconstruir na prática do outro, ambos sendo transformados para a intervenção na realidade em que estão inseridos.

Assim, a abordagem integral dos indivíduos/famílias é facilitada pela soma de olhares dos distintos profissionais que compõem as equipes interdisciplinares. Dessa maneira, pode-se obter um maior impacto sobre os diferentes fatores que interferem no processo saúde-doença. É sempre bom lembrar que a estruturação do trabalho em equipes multiprofissionias no PSF (Programa de Saúde da Família), por si só, não garante uma ruptura com a dinâmica médico-centrada; para tanto, há necessidade de dispositivos que alterem a dinâmica do trabalho em saúde, nos fazeres do cotidiano de cada profissional 8. Há que se identificar, nessas equipes, os elementos que configurariam uma nova lógica no agir desses profissionais e na forma como se produz o cuidado em saúde.


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