Cooperativismo: uma resistência à exclusão



  1. Contexto de exclusão dos trabalhadores
  2. A importância da solidariedade na sociedade
  3. Potencial do cooperativismo diante do desemprego
  4. Referencias

Trabalhadores procuram emprego na Ford

ABC/Paulista - Brasil - Foto: Irmo Celso

O atual estágio da economia mundial tem apresentado um conjunto de características que influenciam de maneira decisiva na construção de políticas públicas e na organização dos trabalhadores. O fenômeno da ampliação do desemprego, e a sua relação com a redução de postos de trabalho, tem colocado um grande número de pessoas numa condição de trabalho precária, sem acesso a direitos sociais e com baixa perspectiva de retorno à empregabilidade formal. A situação se agrava se centrarmos nossa análise na parcela da população que, por longos períodos, sequer consegue um trabalho temporário e informal. Para esses, o que resta são as campanhas de caridade, esmolas, ou o caminho da criminalidade como alternativa de sobrevivência.

As políticas públicas diante do desemprego têm sido apresentadas, basicamente, através das seguintes ações: a) promoção de cursos de qualificação profissional, com a tentativa de reinserir trabalhadores excluídos do mercado de trabalho em função da incorporação tecnológica nas empresas; b) incentivo direto do Estado em parcerias com as empresas, vinculando incentivos com a manutenção e ampliação de postos de trabalho; c) destinação de cestas básicas e recursos como forma de auxílio emergencial; d) criação de frentes de trabalho, de caráter emergencial e temporário.

Uma outra ação pública possível para o enfrentamento da exclusão de trabalhadores do processo produtivo, e que já vem sendo adotada, é a organização de grupos para geração de renda através de cooperativas. Este é um trabalho relativamente recente e que, em nosso entendimento, precisa avançar, pois contempla, além da possibilidade de geração de trabalho, a perspectiva da organização da produção de uma maneira alternativa. A ação coletiva das pessoas no trabalho produtivo e na gestão do seu próprio empreendimento permite não apenas a sua inclusão social no mercado mas, principalmente, sua participação como cidadão capaz de se organizar e se constituir como sujeito político na sociedade.

O contexto de exclusão dos trabalhadores

A constatada crise da economia mundial, agravada com o fim do Estado de bem-estar social, apresenta conseqüências desastrosas para a maioria dos países. O crescimento econômico previsto não se concretizou e, na maioria dos casos, houve estagnação. Conforme o economista João Machado, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a economia mundial, que se mantinha num crescimento de 4% na década de 60, chegou ao final da década de 90 com apenas 1% (1). O custo social disso, por sua vez, é catastrófico: a) a diferença entre países ricos e pobres têm aumentado em 110 vezes, desde a 2ª Guerra Mundial até a década de 90 (2); b) aumenta consideravelmente a distância entre ricos e pobres dentro dos países.

De maneira mais conjuntural, as principais características decorrentes da crise mundial são as seguintes: a) crise do trabalho assalariado, com acentuada precarização nas relações de trabalho; b) despolitização das relações sociais; c) acento na competitividade com a perspectiva de que apenas alguns se "salvam" já que não há "espaço" para todos; d) reestruturação produtiva; e) tentativa de substituição do modelo fordista/taylorista de produção, alterando as formas de gestão tradicionais nas empresas; f) incorporação de novas tecnologias, dispensando atividades repetitivas e gerando problemas de qualificação profissional; g) corte de gastos públicos e a conseqüente redução das políticas sociais.

O desemprego, que daí decorre, atinge praticamente todos os países, numa dimensão nunca antes vista. Conforme Relatório da Organização Internacional do Trabalho – OIT - o total de desempregados no mundo é de 1 bilhão e 200 milhões de pessoas, o que corresponde a um terço da população. Este é o tamanho da exclusão que exige providências, uma vez que a maioria da população o aponta como o maior problema da atualidade em diversas pesquisas de opinião pública.

Uma outra face do problema é o aumento do trabalho precário, pois se o emprego na sua forma tradicional está diminuindo, isso não significa concluir que o trabalho como um todo esteja desaparecendo. O que ocorre é que houve uma significativa diminuição do operariado tradicional e o aumento da classe-que-vive-do-trabalho(3). Isso se verifica principalmente através da  terceirização, com a ampliação do setor de serviços; da heterogeneização, com a maior participação das mulheres em atividades antes ocupadas por homens; e das relações informais de trabalho, portanto, sem direitos sociais e trabalhistas previstos em lei. Diante desta nova realidade, organizações sindicais e governos são desafiados a se envolverem com a organização de novas formas de geração de trabalho e renda.

Se o cooperativismo, por um lado, reproduz a lógica da terceirização ou da precarização das relações de trabalho, por outro, passa a ser um importante instrumento de resistência ao atual contexto de exclusão. O reforço à organização dos trabalhadores desempregados por meio da ação integrada dos governos com entidades da sociedade civil permite, no mínimo, que se amenizem problemas de grande parte da população que se encontra despossuída de meios e conhecimentos para superar sua condição de excluídos.


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