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Regime de Metas para a Inflação (página 2)

Edilson Aguiais

Existem vários estudos que apontam alguns itens que são desejáveis para o sucesso na implantação do regime de metas de inflação, dentre eles:

  • Autonomia do BC: O Banco Central precisa ter autonomia para tomar as decisões concernentes aos instrumentos de política monetária. Como o instrumento utilizado é a taxa de juros, o BC precisa ter autonomia para ditar esta taxa;
  • Situação Fiscal sob controle: para a implantação do regime de metas é necessário que o país esteja com uma situação fiscal estável e sob controle;
  • Sistema Financeiro Estável: Em meio á crises fica mais difícil a implantação do regime principalmente por estar baseado na credibilidade do BC.
  • Conhecimento da Situação Econômica do país: é de suma importância que o BC tenha o conhecimento da situação do país para prever as medidas necessários para a condução da política econômica.

Dada a implantação do regime, e tendo como instrumento as mudanças na taxa de juros da economia, pode-se mensurar em que nível esta mudança na condução da política econômica irá surtir efeitos na economia. Dentre os principais efeitos que podem ser sentidos são eles:

  • A demanda agregada: influencia na demanda agregada pois, um aumento na taxa de juros faz com que o custo de oportunidade de não poupar aumente. Então os trabalhadores preferirão poupar a consumir retraindo a demanda agregada na economia, o que contrai a expansão da inflação.
  • Expectativas dos agentes: sabendo que, a uma taxa de juros mais alta, os agentes preferirão investir na esfera financeira a produzir. Sabendo que as expectativas são racionais, o BC deve transmitir maior confiança ao mercado pois assim os agentes possuem motivos suficientes para reduzir as suas expectativas futuras.
  • Créditos: dado o aumento na taxa de juros, o credito torna-se mais caro. A taxa de juros é o preço do crédito. Com um custo mais alto na obtenção dos empréstimos, o empresário tenderá a não ampliar a sua capacidade produtiva pois se tornou mais caro produzir.
  • Salários: assumindo que a inflação é um aumento continuado de todos os preços na economia, para as pessoas que vivem de salários, ou renda fixa, o controle da inflação se torna essencial. Caso exista um aumento na taxa de inflação, o poder de compra da moeda é corroído afetando os investimentos de renda fixa. Geralmente as pessoas mais pobres gastam todo o seu dinheiro na compra de bens de consumo, não possuindo outras fontes de renda. Assim concluímos que a inflação é um imposto sobre os mais pobres.
  • Riqueza: Como a inflação é um fenômeno monetário, que trata exatamente da depreciação da moeda, a riqueza é depreciada a cada dia. Em um ambiente inflacionário a riqueza se consome rapidamente pois amanha não se consegue adquirir a mesma quantidade de mercadorias que hoje com a mesma quantidade de dinheiro.

Dados os efeitos que a inflação pode ter na economia, o regime de metas aparece como uma política monetária diferente visto que os agentes podem ter uma visão completa da economia, e não apenas em partes como ocorria anteriormente.

Nos quesitos formais do regime é adotado um índice para verificar as variações dos preços no decorrer do tempo. Este índice é escolhido de acordo com as particularidades de cada pais. Por exemplo, no Brasil é adotado o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), em outros países utiliza-se o núcleo de inflação (core inflation). Este índice foi eleito por ser o que mostra as variações nos preços da ampla maioria da população brasileira.

Também se torna necessário definir se a meta é pontual ou pode oscilar em um intervalo. A grande maioria dos paises que adotaram o regime de metas trabalha com uma banda intervalar para os níveis ditos como aceitáveis de inflação, com exceção da Turquia, que tem uma meta fixa para a inflação (e as taxas de juros mais altas). A adoção de bandas para a variação de preços se torna importante porque dá uma maior flexibilidade ao BC na hora de definir a taxa de juros. Mas é interessante nos preocuparmos com o tamanho desta banda intervalar. Ela não deve ser muito pequena, visto que se a inflação efetiva for maior que a meta o BC tem a sua credibilidade comprometida, e nem grande em excesso pois os agentes perceberão a falta de comprometimento do BC com a meta pré-fixada.

Existe ainda a necessidade de estabelecer um horizonte temporal para o cumprimento da meta. Mas neste quesito existe outra preocupação interessante. Se o horizonte da meta for curto demais, o BC não terá subsídios para alcançar a meta. Se for demasiadamente grande, os agentes perderão a credibilidade na política visto que a inflação os ambientes tendem ao equilíbrio.

Por ultimo temos que definir, caso o BC não consiga convergir a inflação corrente para a meta esperada, de qual modo será esta justificativa e se existirá punição. Em geral, os países que adotaram o regime optaram por uma carta aberta, do presidente do BC ao governo ou á população explicando os motivos do não cumprimento e apontado soluções para que isso não volte a ocorrer.

A transparência na condução da política monetária foi de vital importância para a consolidação desta nova forma de condução da economia. O BC emite periodicamente boletins informando á população a situação econômica do país o que gera uma confiança dos agentes quanto ao futuro da economia.

É fato que o regime de metas tem dado certo em diversas economias emergentes. O Chile, por exemplo, conseguiu "dominar" a inflação após a adoção deste regime. Para fazermos distintas as características de cada país podemos classifica-los em grupos. Segundo a adoção do FMI os países podem ser classificados em três níveis:

  • Ecletic inflation targeters (EIT): países que possuem uma economia desenvolvida a tal ponto que não precisam se comprometer com o regime de metas. São os países que tem a moeda como instrumento de reserva de valor internacional. Como exemplo podemos citar os EUA e a União Européia.
  • Full fledged inflation targeters (FFIT): são países que têm um nivel de credibilidade no mercado internacional entre médio e alto e que se comprometem a cumprir a meta previamente estabelecida. Neste grupo está o Brasil e a maioria dos países emergentes.
  • Inflation targeters lite(ITL): são os países que anunciam uma meta de inflação mas, por causa de sua baixa credibilidade, não conseguem cumprir a meta. Geralmente são países que estão passando por crises internas ou implantando um sistema de metas crível.

Estas informações foram dadas por economistas do FMI acerca da situação de credibilidade dos BC na economia mundial. Os países foram classificados conforme "os indicadores de clareza e da credibilidade de seu comprometimento com o regime de metas"

Existem outros estudos que tratam desta classificação para estas economias que tem encontrado maior aceitabilidade entre economistas. Este estudo apresentado por Trumam(2003) que adota outros princípios para a classificação destes paises, como segue:

  • Maintainers: neste grupo estão os países que já atingiram uma inflação baixa e preocupam-se apenas em mantê-las nos patamares já atingidos. Estes países não necessitam de explorar a taxa de sacrifício da economia pois já conseguiram atingir níveis baixos na variação dos preços.
  • Convergers: são os paises que já estão a caminho de buscar a inflação baixa desejada. Estes paises já possuem uma credibilidade de media a alta no mercado internacional e buscam, pelos moldes da política monetária, se tornarem maintainers.
  • Squeezers: são os paises que estão em uma situação que buscam, a todo vapor, reduzir a suas taxas correntes de inflação. Estes são paises que, geralmente, estão passando por crises e reconstruindo a sua economia.

Como já pode ser percebido, esta classificação proposta por Truman, inovou no aspecto de trazer uma analise dinâmica das economias. Assim um país pode facilmente passar de uma posição para a outra em determinados períodos. Por exemplo, o Brasil, que estava situado no grupo dos converger em 1999 e 2000, passou a ser squeezer no período de 2001 a 2003, graças ao fato de não cumprir com as metas estabelecidas.

Em suma, o Regime de Metas de Inflação busca o controle da inflação via, variações na taxa de juros básica. Para a instituição deste regime aconselhável que se tenha ambiente favorável com um sistema bancário estável, situação fiscal sobre controle e autonomia do BC. È necessário tomar algumas precauções no momento de adesão á este regime visto que altera os todos ciclos econômicos vigentes.

Tem como princípios institucionais a escolha de um índice de observação, banda, horizonte da meta e transparência. Esta ultima, fundamentada na tese de independência do Banco Central e aceitando que a credibilidade do BC é vital para o bom funcionamento da economia.

Ainda não se pode dizer que o regime de metas é o ‘Santo Graal" da economia contemporânea, mas é fato que este novo método de condução da política monetária tem alcançado notável sucesso, arrebatando mais adeptos a cada dia.

Bibliografia

FARHI, Maryse. Analise Comparativa do regime de metas de inflação: pass-through, formatos e gestão nas economias emergentes. São Paulo, 2007. Unicamp.

CARVALHO, Fernando J. Cardim. Economia Monetária e Financeira. Ed. Campus,2007.

Banco Central do Brasil, http://www.bcb.gov.br/?SISMETAS <acessado em 30/11/2007>

Economia Unicamp, http://www.eco.unicamp.br/artigos/artigo84.htm <Acessado em 30/11/2007>

Economia PUC, http://www.econ.puc-rio.br/gfranco/A142.htm <Acessado em 30/11/2007>

Economia Br, http://www.economiabr.net/2001/10/01/1metas-inflacao.html <Acessado em 30/11/2007>

TRUMAN, Edwin M. inflation targeting in the world economy. Washington, DC: Institute for international Economics, 2003 apud FARHI, Maryse. Analise Comparativa do regime de metas de inflação: pass-through, formatos e gestão nas economias emergentes. São Paulo, 2007. Unicamp.

 

Edilson Aguiais

edilsongyn[arroba]gmail.com

Ciências Econômicas

Faculdades Alfredo Nasser.



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