Sobre o erro no ensino da pesquisa científica

Enviado por Raymundo de Lima


  1. Errar para aprender
  2. Errada é a escola que não valoriza o erro
  3. Considerações finais e provisórias
  4. Referências

"Todo conhecimento comporta o risco do erro e da ilusão"

Edgard MORIN 

"Todo erro nos indica um caminho a evitar  mas, nem toda descoberta nos indica um caminho a seguir"

Giovanni VALILATI

Desejamos sempre acertar na prova escolar, na profissão escolhida, na compra de um produto, na escolha da pessoa pra casar, enfim, desejamos acertar na vida.

O dito popular que diz "errar é humano"não impede o desprezo que o social tem sobre o erro. Os pais fazem de tudo para os filhos não cometerem erros. A escola, além de ignorar o valor do erro no processo de aprendizagem dos alunos, premia o acerto e castiga o erro. Cabe perguntar: é o aluno que erra ou o que acerta que merece mais atenção da professora? Desejamos alunos e filhos infalíveis ou demasiadamente humanos reconhecidos de seu erro?

Errar para aprender

Na antiguidade, Plutarco observava que o ser humano não pode deixar de cometer erros; é com os erros, que os homens de bom senso aprendem a sabedoria para acertar no futuro. Algo parecido também ocorre no campo da ciência.

Como professor de metodologia da pesquisa aprendo todo dia que o erro faz parte do processo de investigação científica. Francis Bacon (séc. 17), um dos fundadores da ciência moderna, recomendava ao pesquisador desprezar as falsas noções  ou "ídolos", que impedem as descobertas científicas. Também Descartes considerava um dever do homem de bom senso evitar os erros.  Hoje, com o amadurecimento das discussões epistemológicas, é possível o entendimento de que nenhuma teoria científica está imune de erros. Como produtos humanos que são, todas as teorias científicas são imperfeitas.

Na ciência, o erro não se opõe á busca da verdade, mas é visto como uma decorrência transitória desta busca. "O contrário da verdade, vale sempre repetir, não é erro, mas a mentira! O erro decorre da liberdade de investigar e será vencido, antes de tudo, pela superação de nossos preconceitos e pela disposição de sempre procurarmos novos caminhos para alcançar o que se nos oferece como um bem" observa o professor Lauro F. B.Silveira. O "maior erro [do pesquisador] seria subestimar o problema do erro", observa Edgar Morin.

Para o professor de Teologia da PUC-SP, Mario Sergio Cortella, "o erro não ocupa um lugar externo ao processo de conhecer; investigar [cientificamente] é bem diferente de receber uma revelação límpida, transparente e perfeita. O erro é parte integrante do conhecer não porque "errar é humano", mas porque nosso conhecimento sobre o mundo dá-se em uma relação viva e cambiante (sem o controle de toda e qualquer interveniência) com o próprio mundo" (CORTELLA, 2000).

A história da ciência reconhece inúmeros casos em que os erros sinalizaram a correção do procedimento usado pelo pesquisador. Talvez o maior inventor de nosso tempo, Thomas Alva Edison (1847-1931), dentre as suas mais de mil invenções patenteadas, para inventar a lâmpada incandescente ele teria realizado mais de 1.150 experimentos fracassados antes de chegar ao êxito de sua invenção[1]. Também o embriologista Ian Wilmut (1945), declarou ter falhado 276 vezes antes de conseguir criar um clone (cópia idêntica) de uma ovelha, em 1997 que ainda provoca muitas discussões sobre a ética na ciência[2]. Albert Sabin, inventor da vacina contra a poliomielite, lembrou sistematicamente que a invenção e a campanha de erradicação da paralisia infantil tinha sido "um trabalho de muitos, principalmente de todos aqueles que erraram antes para que o caminho do acerto ficasse mais curto depois" (MORAIS, op.cit, p. 22).

"A dimensão eminentemente ética do conhecimento faz com que o erro não se oponha á busca da verdade, mas seja visto como uma decorrência transitória dessa busca. O contrário da verdade, vale sempre repetir, não é erro, mas a mentira! O erro decorre da liberdade mesma de investigar e será vencido, antes de tudo, pela superação de nossos preconceitos e pela disposição de sempre procurarmos novos caminhos para alcançar o que se nos oferece como um bem. Fugir á aventura de investigar, reter como propriedade privada nossas idéias, impedindo que sejam postas á prova do experimento ou que sejam compartilhadas e mesmo suplantadas pelas idéias dos outros, é que faz prevalecer a ganância, o egoísmo e as formas autoritárias de opressão", escreve Silveira (2003)[3].

Errada é a escola que não valoriza o erro


Página seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.