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O significado da Hegemonia Esportiva para a Educação Física (página 2)

Emerson Gimenes Bernardo da Silva

Já a sociedade política identifica-se com o aparato militar, visto a questão da repressão explicitada por GRAMSCI (1991) para garantir o comando nos momentos de crise.

Portanto, devemos entender que, a elaboração de ideologias por parte do grupo dominante com vistas a manter a sua hegemonia deve ser feita por seus intelectuais, ou seja, os intelectuais orgânicos vinculados á classe burguesa.

Sendo assim, podemos ver que as ideologias tem um papel importante em nossa sociedade. E a propagação de ideologias pelos grupos de intelectuais presentes em nossa sociedade, pode ser interpretada de duas maneiras de acordo com GRAMSCI:  ideologias orgânicas e ideologias arbitrárias.

As ideologias arbitrárias são aquelas "individuais ou de pequenos grupos, artificiais (inventadas), que são de breve duração e tem pouca incidência sobre o real". (GRAMSCI apud COUTINHO, 1981). As ideologias orgânicas são aquelas que:

"...dão expressão ás aspirações de grandes correntes históricas, de classes e grupos com vocação hegemônica e com capacidade de se tornarem classes nacionais, as quais atravessam inteiras épocas históricas e movem a ação de grandes massas humanas." (GRAMSCI apud COUTINHO, 1981).

portanto, nesta última categoria - ideologias orgânicas - um grupo que é dominante, logicamente possui vocação hegemônica e uma capacidade já comprovada como classe nacional.

Nos tópicos anteriores, ao abordarmos a história da Educação Física e a relação do esporte com a indústria cultural, verificaremos que o esporte está impregnado de valores da classe que mantém a hegemonia. Estes valores são o da competitividade, da eficácia, do consumismo, do selecionamento, ou seja, são valores básicos do esporte de rendimento. Portanto, concordamos com BRACHT (1992) quando diz que:

"...a socialização através do esporte escolar pode ser considerada uma forma de controle social, pela adaptação dos praticantes como condição alegada para a funcionalidade e desenvolvimento da sociedade."

Outra questão anteriormente discutida e que servirá como suporte para esta discussão, trata-se da crescente entrada do esporte á partir da década de 40 no Brasil. Vimos que este crescimento deve-se a uma expansão dos meios de comunicação de massa no país, sendo que o esporte já estava incorporado pela indústria cultural. Esta crescente esportivização pela qual passava o país e a falta de legitimidade por parte da Educação Física, fez com que o esporte de rendimento, cada vez entrasse na Educação Física como seu conteúdo, e mais, como seu conteúdo hegemônico.

FREITAS (1991), mostra ainda uma outra faceta desta crescente esportivização na sociedade:

"Para tanto, constrói - se o mito do Homo Sportivus que tendo, por razões óbvias, um desempenho orgânico funcional com limiar de exaustão mais elevado, resistindo, por isso melhor aos agentes estressantes da sociedade de consumo, estará mais apto a ser mais ativo no sistema produtivo, isto é, apresentará maior produtividade no mesmo espaço de tempo e, consequentemente, talvez, estará melhor adaptado aos reverses e ao desgoverno que ornamenta o território brasileiro."

Sendo assim, vemos que vários são os autores que mostram como o esporte está impregnado de valores dominantes, ou seja, da ideologia dominante. E mais, vimos que o esporte apresenta uma supremacia sobre qualquer outro conteúdo hoje na Educação Física, ou seja, é um conteúdo hegemônico dentro de um aparelho privado de hegemonia que é o sistema escolar.

A escola, sendo um aparelho privado de hegemonia, passa comumente a ideologia dominante. Mas ela permite a atuação de intelectuais que não defendem as idéias da classe dominante. Sendo assim, professores de educação física ao atuarem no sistema educacional transmitem ideologias e dentro disso, deve-se analisar essa postura neste processo.

Esta questão está bem referendada em CRITELLI (1981), quando ela diz que:

"A educação, que faz frente a nossa reflexão, pertence a um momento histórico em que núcleos da população da América Latina, e em especial da realidade brasileira, tomam consciência da dominação cultural vivida, identificam concretamente pólos dominadores, assim como a alienação de um modo próprio de ser, culturalmente, que a ação dos dominadores promove."

Podemos ver então, que o período vivido por nós atualmente, está sendo de muita reflexão em torno da educação, a fim de que esta educação não sirva apenas como um meio de dominação imposta á população.

Considerações Finais

Observou-se com este estudo que o esporte tem sido legitimado  cada vez  mais  como  o principal  conteúdo presente na Educação Física, e também  que a grande  infiltração do esporte na população  em nível  mundial  através da mídia  contribui  para  a hegemonia  esportiva  encontrada  no interior das atividades de Educação Física.

Portanto , a Educação Física e a escola brasileira  têm estado  ligadas aos interesses do Estado , o qual não  tem representado as necessidades da maior  parte da população. O esporte caracteriza-se também, da forma que é empregado  na escola  como esporte por esporte , esquecendo-se da prática lúdica que em nossa opinião é o objetivo de tal disciplina, o esporte por sua vez veicula a ideologia do dominante, ressaltando a questão  da seletividade a qual o rendimento está intrinsecamente ligado  onde o professor  é entendido como  treinador   e o  aluno  como  um praticante quase acéfalo, fazendo a prática pela prática.

Tendo- se em vista  o conteúdo hegemônico  da educação Física  que é  o esporte, deveríamos  redefinir  e reestruturar certos conceitos no que diz respeito  aos valores excludentes  presentes  no esporte , para um maior aproveitamento , primar por uma prática voltada para a educação , com maior reflexão e sistematização  dos conteúdos , ligando a prática ao social e ao histórico.

REferências

BRACHT, Valter. Educação física e aprendizagem social.  Porto Alegre: MAGISTER, 1992.

CASTELLANI FILHO, Lino. Pelos meandros da educação física. In: Revista Brasileira de ciências do Esporte. Vol. 14,n. 3, Maio de 1993.

COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci. Porto Alegre: L & PM, 1981.

CRITELLI, Dulce Mára. Educação e dominação cultural - Tentativa de reflexão ontológica. São Paulo: Cortez Editores: Autores associados, 1981.

FREITAS, Francisco Mauri de Carvalho. Educação : contra quem?.  In: Fundamentos pedagógicos da educação física. Rio de Janeiro : Ao Livro Técnico, 1987. P. 96-110.

GRAMSCI, Antônio.  Os intelectuais e a organização da cultura.  8ed.  Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991.

GUIRALDELLI JR., Paulo. Educação física progressista - A pedagogia crítico social dos conteúdos e a educação física. 7ed. São Paulo: Brasiliense, 1989.

KUNZ, Elenor.  O que seria se não houvesse o esporte?  UFSC. (mimeo).

LIMA, Luiz Costa. Teoria da cultura de massa. 2 ed.  Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1978.

OLIVEIRA, Vitor Marinho de (org). Tudo tem a ver com tudo ou apresentação.  In: Fundamentos pedagógicos da Educação Física.  Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1987, p. 11-12.

 

 

Autor:

Emerson Gimenes Bernardo da Silva

emer-gimenes[arroba]bol.com.br

Professor Especialista , Pós-graduado pela Universidade Norte do Paraná , Técnico Desportivo do Município de Maringá.

Professor Mestre pela Universidade Internacional em Lisboa



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