Contra-revolução, trabalho e classes sociais

 

A crise em que estamos mergulhados é tão profunda nas conseqüências e tão extensa no tempo, que se converteu em uma crise sui generis: ao invés dos pulsos destrutivos como na crise de 1929, temos o que Mészáros denomina de um continnum. Passou a ser a forma de reprodução do sistema do capital na época da "produção destrutiva"(Mészáros:1995). O nosso modo de vida, e a reprodução de nossa sociedade, incorporou a crise como se ela fosse um dado natural. O resultado dificilmente poderia ser outro: aos poucos nos tornamos insensíveis às suas conseqüências mais cruéis, à crescente perdularidade do sistema, à destruição voraz do planeta e ao embotamento da vida cotidiana de todos e de cada um de nós.

Um quadro como este apenas é possível porque vivemos no período contrarevolucionário mais longo desde que as revoluções surgiram como fenômeno social – e isto não se deu há muito tempo. A primeira revolução foi a Inglesa do Século XVII, mas a primeira que mostrou ao mundo do que exatamente se tratava foi a Grande Revolução Francesa, que se estendeu de 1789 a 1815. Foi apenas a partir dela que os homens reconheceram, em escala social, a história como o resultado de suas ações. E foi este fato, ao fim e ao cabo, lembremos, que possibilitou a Hegel a descoberta da história enquanto processo e, a Marx, a descoberta do homem enquanto o demiurgo de sua própria história. Desde a Revolução Francesa, não houve nenhum outro período no qual o capital se tornou tão hegemônico e tão plasmado à vida cotidiana como nos últimos trinta anos. Nunca antes a humanidade se comportou tão homogeneamente como se "não houvesse alternativa" ao capital.

Entre as características de um período revolucionário está, também, o fato de fazer das principais contradições da sociedade o nódulo articulador da vida cotidiana; o que vale dizer, ele insere os antagonismos e contradições nas alternativas, nas necessidades, nas possibilidades (com os correspondentes processos de valoração, de produção de conhecimentos científicos, de reflexão estética, etc.) dos processos sociais, atos singulares de cada indivíduo inclusos. Com isto, como dizia Lenin, aprende-se em uma semana de luta revolucionária o que não se aprenderia em anos de vida "normal". Nos períodos revolucionários, como a reprodução social adquire uma nova qualidade no seu todo, também os atos singulares, que são seus elementos indispensáveis, são articulados por uma nova relação do indivíduo, das classes, dos inúmeros complexos sociais, com a história.

 



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Sergio Lessa
sergio_lessa[arroba]yahoo.com.br


 
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