Colecionismo de “fim-de-século”

Enviado por Agnelo de Souza Fedel


  1. Criando e desenvolvendo "auras"
  2. As "auras" das Coleções Caseiras
  3. Revistas em Quadrinhos e seus colecionadores
  4. Uma Tríade Mítica
  5. Desenvolvendo Mitos Colecionistas
  6. As Histórias em Quadrinhos e as Revistas em Quadrinhos
  7. Mercado Norte-Americano
  8. Mercado Brasileiro
  9. Mercado Abrangente
  10. Bibliografia utilizada

  "Essas novas mercadorias são as mais

humanas de todas, pois vendem a

varejo os ectoplasmas de humanidade,

os amores e os medos romanceados,

os fatos variados do coração e da alma."

Edgar Morin, 1962.

Criando e desenvolvendo "auras"

Quando Walter Benjamin publicou o seu texto "A obra de arte na época de sua reproduti-bilidade técnica"[1] ele procurou avaliar os efeitos da produção, do consumo de massa e da repro-dução técnica sobre as obras de arte.  Esse texto foi um marco nas discussões sobre a própria Indústria Cultural e sua relação com a sociedade de massa.  Colocado como um crítico ás idéias dos pensadores da Teoria Crítica, principalmente por seu otimismo frente aos processos de reprodução em massa, Benjamin acabou abrindo espaço para outras discussões referentes ao uso e efeitos que os processos de reprodução produzem nas obras de arte e, também, para a arte popular e industrial.  Segundo Dominic Strinati[2],

"Ele (Benjamin) afirma que a obra de arte, devido a sua original imersão em rituais e cerimônias religiosas, adquire uma espécie de "aura", que atesta sua autoridade e imparidade, sua  singularidade no tempo e espaço.  Desde que estabeleceu no centro das práticas religiosas, que legitimaram culturalmente e  integraram socialmente a ordem predominante, a obra de arte adquiriu, com essa função ritual, a aura associada á religião." [3]

Essa concepção de criação e desenvolvimento de uma "aura religiosa" para a obra de arte é, para Benjamin, o principal ponto de encontro da massa com a própria obra de arte, agora transformada em objetos reproduzidos em série, distribuídos pelos meios difusores e de comunicação.  O próprio Benjamin confirma tal colocação quando comenta, como exemplo, a fotografia:

"(...) a obra de arte se emancipa, pela primeira vez na história, de sua existência parasitária, destacando-se do ritual.  A obra de arte reproduzida é cada vez mais a reprodução de uma obra de arte criada para ser reproduzida.  A chapa fotográfica, por exemplo, permite uma grande variedade de cópias; a questão da autenticidade das cópias não tem nenhum sentido." [4]

Dessa maneira, W. Benjamin, parecendo contradizer as idéias dos "pais" da Teoria Crítica quanto á Indústria Cultural, não apenas atesta o caráter positivo de "destruidor de auras" que as técnicas de reprodução possuem, mas abre um novo caminho para a discussão sobre o próprio conceito sobre a obra de arte.  Não entra em discussão o caráter "único" da obra de arte original, mas apenas o fluxo sagrado de sua observação e interpretação em sua reprodução, na qual a "aura" não mais existe.  No entanto, essa "aura" só existe porque lhe é dada (á obra de arte) autenticidade de sagrado; de esfera "única" dentro de determinados paradigmas culturais.

Se, por um lado, aprendemos (ou fomos obrigados a reconhecer) como cultura (ou alta cultura) obras de Picasso ou de Philip Grass, poderemos, agora, talvez reconhecer outras formas de arte e cultura, tais como os livros antigos, selos e até papéis de carta, miniaturas de Kinder Ovo, figurinhas ou revistas de histórias em quadrinhos, desde que possuam alguma força "aurítica" que comprove sua magnitude.

Edgar Morin[5], que já procurou discutir as diferenças entre a alta cultura e cultura de massa por meio do reconhecimento (ou detecção) da chamada Terceira Cultura (ou Mass Cultu-re), levantou a problemática da Neurose[6] que norteia, segundo ele, todo o comportamento do consumidor em nosso século.  A constituição da cultura de massa enquanto cultura é seu ponto principal.  Como o próprio Morin definiu:

"...uma cultura constitui um corpo complexo de normas, símbolos, mitos e imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade, estruturam os instintos, orientam as emoções.  Esta penetração se efetua segundo trocas mentais de projeção e de identificação polarizadas nos símbolos, mitos e imagens da cultura como nas personalidades míticas ou reais que encarnam os valores" [7].

Partindo do que significa cultura para Morin e de uma nova concepção de objetos de valores diversos, selecionados ora segundo um profundo mas difuso mercado de trocas, ora por uma mitificação e "aurificação" simbólica desses objetos advinda de grupos sociais que procu-ram criar e desenvolver sua própria "cultura", reconhecendo nela um novo sentido, ou seja, uma nova regra de projeção mítica/simbólica, surge, aí, um novo processo de significação cultural.


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