Primeira Dama, o que é?

Enviado por Isabel Amaral


Segundo a enciclopédia hoje em dia mais consultada no mundo, a famosa Wikipédia, Primeira Dama é a mulher de um chefe de Estado eleito. A expressão terá sido criada, em 1849, por um presidente dos Estados Unidos - que fazia o elogio fúnebre da esposa de um seu antecessor - e, segundo parece, passou a ser de uso corrente, nos Estados Unidos, a partir da segunda metade do século XIX. Mas não se trata de um título oficial. Primeira Dama, com efeito, é uma designação vulgar, sobretudo utilizada pela comunicação social.

Há, nesta expressão, uma pompa algo pretensiosa, que parece arremedar um título nobiliárquico - conferido ainda por cima sem que seja necessário mais do que uma certidão de casamento. Por isso, o título de Primeira Dama - que uma «primeira dama» com Jacqueline Kennedy evidentemente detestava, afirmando que First Lady lhe parecia nome de cavalo… -, esse título pode ter surgido (mas é só uma hipótese de trabalho) como o equivalente republicano de rainha. Mas, enquanto uma rainha pode e deve ser considerada a primeira senhora do seu reino, é duvidoso que a mulher de um presidente da República deva reivindicar, e ainda menos proclamar, a mesma condição.

Foi aliás por isso, decerto, que nas repúblicas da Europa (onde não havia colonizador para substituir e macaquear) as mulheres dos respectivos presidentes levaram muito tempo a ocupar, na vida pública, um lugar de destaque semelhante áquele que ocupou, desde a eleição de George Washington, em 1790, a mulher do presidente dos Estados Unidos.

A Primeira Dama, com efeito, cedo fez parte da vida política norteamericana. Basta recordar que, já em 1877, Lucy, a mulher do presidente Rutherford B. Haynes, não hesitou em definir a sua própria agenda e em ter um programa autónomo, sobretudo no plano da acção e da solidariedade social. Depois dela, muitas foram as mulheres dos presidentes dos Estados Unidos que adoptaram comportamento idêntico ao de Lucy Haynes, com destaque para Eleanor Roosevelt - que levou a extremos nunca vistos o papel de Primeira Dama.

O exemplo da América do Norte foi seguido pelos seus vizinhos do Centro e do Sul, que adoptaram a expressão Primeira Dama para designar a mulher do seu presidente - mas também a mulher do governador de Estado ou do prefeito de uma cidade. Isso também sucede, aliás, a norte, onde as mulheres dos governadores são consideradas as primeiras damas dos Estados que seus maridos governam. No caso da Califórnia, pelo menos, a designação de Primeira Dama encontra consagração em diplomas e documentos oficiais do Estado.

Algumas dessas primeiras damas vieram depois a assumir responsabilidades ainda maiores, chegando á chefia do Estado - como se fossem as legítimas herdeiras de seus maridos. Isto sucedeu, já por duas vezes, na Argentina - com Isabelita Peron, segunda mulher de Juan Peron (a quem sucedeu na presidência da República após a sua morte), e agora com Cristina Kirchner, que sucede, também ela, ao marido como presidente da República. Isto poderá suceder também com Hillary Clinton, se ela conseguir, primeiro, ser a candidata democrata ás eleições de Novembro e, depois, se conseguir derrotar o candidato republicano, John McCain.

Pelo contrário, no Velho Continente, a esposa do presidente da República começou por ser - e durante muitas décadas foi - uma figura discreta, que ajudava o marido a receber em sua casa, é certo, mas que não o acompanhava em cerimónias públicas e, muito menos, desempenhava papel de relevo na vida política do seu país.

É na segunda metade do século XX que o panorama começa a alterarse na Europa - e a mulher do chefe de Estado, quando não seja uma rainha, vai crescentemente participando na vida pública do seu país. Isto tem a ver obviamente com as significativas mudanças entretanto ocorridas nas sociedades europeias: a chamada emancipação da mulher, a sua entrada no mercado de trabalho, a sua crescente intervenção na vida política, a sua afirmação nos vários domínios da actividade social. Nos tempos que correm, ninguém perceberia que a mulher do presidente se limitasse a ser a mulher do presidente.

O próprio presidente precisa que ela não o seja. A Primeira Dama ocupa (é verdade que em nome do marido, em sua representação) espaços a que ele não chega, produz discursos e representa papéis que, melhor entendidos pelo facto de terem origem numa mulher, prolongam e consolidam o estatuto, o poder e a popularidade do marido.

Por outro lado, a política torna-se cada vez mais espectáculo, obrigando á criação de novas personagens e também de novos discursos e narrativas. As Primeiras Damas satisfazem essas novas necessidades, como Carla Bruni, a nova mulher do presidente Sarkozy, em França, não deixará de demonstrar á saciedade. Se tudo correr bem, é claro…


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