Cultura, Tradição e Memória. A Juventude entre a Permanência e a Ruptura

Enviado por Nildo Viana


"A crítica arrancou as flores imaginárias que enfeitavam as prisões, não para que o homem use as prisões sem qualquer fantasia ou consolação, mas para que se liberte delas e apanhe a flor viva". Karl Marx.

Os conceitos são termos complexos que exigem uma análise aprofundada para expressar seu significado. Os termos possuem múltiplos significados, dependendo da época e de que os usam. O termo cultura possui inúmeras definições, tal como tradição e memória. Assim, o primeiro ponto a destacar no presente texto é o seu objetivo: esclarecer os conceitos de cultura, tradição e memória e, após isto, relacioná-los com o processo de permanência e ruptura em sua conexão com a juventude. Isto tudo será feito a partir de um determinado ponto de vista, de determinado referencial teórico-metodológico, que julgamos mais adequado, mas que alertamos que não é o único, alerta que os doutrinadores nunca fazem.

Entre as centenas de definições de cultura, preferimos a de que ela é o conjunto das produções intelectuais da humanidade. Logo, ao contrário de outras definições, não colocamos a "cultura material" como parte do conceito, nem a idéia de que cultura é a "alta cultura", a cultura das elites. Todos os seres humanos produzem cultura, isto é, produzem idéias, saberes, concepções, etc., e, por conseguinte, não é privilégio de ninguém. Por conseguinte, não existe ninguém que não tenha cultura. Quando se diz isso, se quer dizer, na melhor das hipóteses, de que determinada pessoa não possui cultura erudita ou escolar e, na pior, que é ignorante, o que revela apenas uma visão preconceituosa, pois todos os seres humanos ignoram milhares de fatos, idéias, etc. e se julga mal aqueles que não em acesso aquilo que temos. A idéia de que os costumes, cultura material, etc., significam cultura, ao lado das produções intelectuais, serve para esvaziar o conceito, pois se tudo é cultura, ela perde a possibilidade de esclarecer os fenômenos sociais.

A partir de nossa definição de cultura, que delimita o conceito, tornando-o restrito ao mundo das produções intelectuais, representações mentais, podemos ainda ver que possui enorme abrangência. A religião, a moral, a filosofia, a ciência, as obras literárias, as representações cotidianas (vulgo "senso comum"), etc., são manifestações culturais. No entanto, a cultura não é algo estático, vive em constantes mudanças. Entender estas mudanças requer compreender o seu processo histórico de formação, suas divisões, etc. A cultura é constituída socialmente e ela mesma é um fenômeno social. Ela não é produzida a partir do nada e sim a partir das relações sociais concretas. A cultura camponesa tem sua base no modo de vida camponês, tal como a moderna cultura urbana tem sua base no modo de vida moderno e assim sucessivamente.

Durante o desenvolvimento histórico da humanidade ocorreu inúmeras mudanças culturais, que sempre acompanharam as mudanças sociais. As grandes mudanças sociais, a passagem de uma forma de sociedade para outra (a passagem da sociedade feudal para a capitalista, ou da escravista para a feudal, por exemplo) promoveram grandes mudanças culturais. No entanto, no interior de uma mesma forma de sociedade (feudal, escravista, tributária, etc.) também ocorrem mudanças culturais. Porém, nada se compara ao ritmo de velocidade das mudanças culturais na sociedade moderna. Para se compreender a velocidade das mudanças culturais na sociedade moderna é preciso compreender esta sociedade e suas características próprias e essenciais.

A sociedade capitalista moderna é radicalmente diferente das sociedades que lhe antecedeu. É por isso que muitos sociólogos e outros especialistas opuseram as chamadas "sociedades tradicionais" à chamada "sociedade moderna", tal como Durkheim, W. W. Rostow, entre outros. A oposição entre tradição e modernidade foi se consolidando e assim surgiram os adeptos da modernidade e os defensores da tradição. A época na qual esta oposição entre tradição e modernidade ficou mais visível foi durante o período no qual se desenvolveu o processo da Revolução Francesa. Os primeiros defensores do tradicionalismo foram os representantes intelectuais e populares do regime feudal, defendendo a moral, a religião, a família. Os chamados "pensadores conservadores", como Burke, De Maistre, entre outros, foram os seus principais porta-vozes. Do outro lado, os representantes intelectuais e populares da modernidade, do regime capitalista, da burguesia, saíram em defesa da laicidade, da razão, da autonomia do indivíduo. Estas concepções antagônicas são constituídas socialmente e ligadas aos interesses de classes sociais e não produções arbitrárias. Assim, a tradição está sempre ligada à relações sociais determinadas, também tradicionais, de caráter pré-capitalista, ou, como ocorre posteriormente, não-capitalista. Com a emergência e hegemonia do modo de produção capitalista, as relações sociais tradicionais são solapadas e destruídas paulatinamente e junto com ela a cultura que lhe corresponde.

A vitórias das revoluções burguesas não ocorreram na mesma época nos diversos países. A Revolução Burguesa na Rússia só ocorreu no início do século 20 e a brasileira em 1930. Após as revoluções burguesas, ainda permanecem resquícios de relações de produção pré-capitalistas – que acabam sendo totalmente destruídas – e surgem relações de produção não-capitalistas que herdam a cultura tradicional, por ser mais compatível com suas relações sociais e com a herança cultural recebida via família. Estas relações de produção não-capitalistas são a base de relações sociais tradicionais, herdeiras de relações de produção pré-capitalistas.


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