O EZLN e a guerrilha informacional: a política no mundo encantado da mídia e da comunicação



  1. Introdução
  2. Guerrilha informacional
  3. A questão da utilização (ou não) da tecnologia midiática
  4. Perigos da política midiatizada: a personificação e o ser carismático
  5. Considerações finais
  6. Bibliografia
  7. Notas

INTRODUÇÃO

O Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) se caracteriza como uma guerrilha sui generis na cronologia dos movimentos sociais da América Latina. Em 1º de janeiro de 1994 se levantam em armas, no sudeste do México, estado de Chiapas, indígenas de diversas etnias, com um grito de Ya Basta!, opondo-se a uma silenciosa morte que há mais de 500 anos afligia suas comunidades e antepassados. Além da histórica "defasagem" dessa forma de luta em nosso continente, os insurgentes chiapanecos apresentam ao México e ao mundo novas formas de organização social, reivindicações e aspirações, questionando diversos dogmas engessados das clássicas guerrilhas marxistas dos anos 60 e 70, de orientação leninista. Desse modo, os integrantes do EZLN não têm como objetivo a tomada do poder político do Estado (em sua concepção clássica), não se colocam como uma vanguarda revolucionária, porém, ao mesmo tempo, travam um conflito não apenas localizado, mas com nítida oposição a ordem capitalista "globalizada" (HILSENBECK FILHO, 2004).

Na cronologia do EZLN se expressa uma característica bastante singular, pois de novembro de 1984 a dezembro de 1993 se deu a implementação da guerrilha em Chiapas e a preparação para o conflito armado; porém, a insurreição ou luta armada direta ocorreu apenas de 1º a 12 de janeiro de 1994; e daí em diante até os dias atuais, com pequenos interstícios, como em fevereiro de 1995, trava-se uma luta política em situação de paz armada, ou guerra de baixa intensidade 4. Tem-se, portanto, a trégua durando muito mais tempo do que a confrontação militar, algo inédito nos movimentos guerrilheiros da América Latina (RUBIM, 2002).

O fato de que ao longo desses 10 anos foram raros os confrontos armados, se deve a algumas razões em especial, como por exemplo, a reação da "sociedade civil" mexicana e internacional posicionando-se contra uma espiral da violência; a própria inferioridade militar do EZLN em relação ao exército federal, como afirma o subcomandante Marcos "... sua superioridade militar é evidente. Não podem aniquilar-nos, mas podem repelir-nos e manter-nos nas montanhas: nós não temos a menor possibilidade de derrotá-lo no campo militar" (GENNARI, 2001). Uma outra razão está na concepção do movimento de estratégia de intervenção na sociedade, com vistas a sua auto-organização, e na sua visão de mudança revolucionária, que será, no México, o produto de uma combinatória de diversas formas de luta e agentes, em variadas direções, e não de uma forma unilateral de mudança social – só a via armada ou somente a via pacífico-política, como afirma o subcomandante Marcos:

Nós pensamos que a transformação revolucionária no México não será produto da ação em um único sentido. Isto é, não será, em sentido restrito, uma revolução armada ou uma revolução pacífica. Será, primordialmente, uma revolução que resulte da luta em variadas frentes sociais, com muitos métodos, sob diferentes formas sociais, com graus diversos de compromisso e de participação. (CECEÑA, 2001, p. 191).  

Logo, para o EZLN, a mudança se dará em várias frentes, de distintos modos, não sendo a sua experiência a única e nem mesmo a mais legítima, mas a forma que eles encontraram, contudo, há outras formas e organizações de grande valor. No caso mexicano as circunstâncias históricas mostravam a fragilidade do Estado não em sua situação militar, mas no campo político, o EZLN desvelou ao mundo um México que deveria estar escondido e ser esquecido, um país desigual, repleto de miséria, conflitos e contradições 5, isso justamente na data em que, segundo declarações oficiais, ele estaria entrando para o "1º mundo", já que no 1º dia de 1994 entrava em vigor o Tratado de Livre Comércio da América do Norte, congregando EUA, México e Canadá, acordo que apenas permitia a livre circulação de mercadorias, e que por sua vez teve diversas conseqüências nefastas para as populações rurais mais pobres do México.

O EZLN passou a considerar a "sociedade civil" e a mídia como interlocutores políticos com um papel privilegiado, observando nos meios de comunicação um outro caminho a ser seguido 6, o que leva alguns autores como Rubim (2002) e Castells (2000), sustentarem a idéia que em decorrência da fragilidade militar do EZLN, eles buscam constantemente na luta política a destruição político-simbólica da legitimidade estatal.


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