Potencialidades pedagógicas dos movimentos sociais populares

Enviado por Rosalvo Schütz


  1. Pressupostos
  2. Níveis formativo-pedagógicos nos movimentos sociais populares
  3. Perspectivas
  4. Referências

No presente trabalho, evidenciaremos o potencial de dimensões pedagógicas inerentes à dinâmica atual dos movimentos sociais populares. A partir de-les, enquanto espaços concretos de questionamento, ruptura e projeção social, procuraremos vislumbrar perspectivas emancipatórias.

A inevitável situação de confrontação externa e de vivenciamentos radicais internos exigem dos movimentos sociais populares uma postura de constante enfrentamento da totalidade social, que vai do cotidiano ao estrutural. Muito além de classificar o potencial dos mesmos a partir de parâmetros idealistas, trata-se de tomar as condições e pressupostos existentes, com suas contradições, fraquezas e potencialidades, e as transformar em material de uma utopia concreta e vivenciável.

Pressupostos

Ao buscar colocar em evidência as potencialidades pedagógicas dos movimentos, estamos partido de três pressupostos que queremos explicitar desde logo, e que dizem respeito a uma definição dos movimentos sociais populares, à primazia pedagógica do processo e aos mecanismos de legitimação.

Movimentos sociais populares

Os movimentos sociais populares, para nós, caracterizam-se pelo seu caráter coletivo e dinâmico, socialmente organizado e que, de forma consciente e coletiva, buscam transformar situações de opressão, sejam elas econômicas, políticas, sociais, culturais, raciais, de gênero ou de opção sexual. Diferenciamse, portanto, daqueles movimentos que não buscam de forma alguma rupturas sociais, e dos atores sociais que são regrados pela legalidade institucional do direito moderno ou subordinados a organizações institucionais como partidos, ONGs ou pastorais. É sempre a postura prática que define o caráter popular ou não-popular de um movimento. Assim, por exemplo, uma parte do movimento sindical, que ousa estender sua ação para além do papel que lhe é institucionalmente delegado, pode ser considerado parte dos movimentos sociais populares. Esta concepção viabiliza, portanto, a construção de uma identidade de classe a partir da diversidade.

Enquanto expressão visível e viva de um conflito social e não apenas enquanto sinais de crise, os movimentos estão em constante transformação. Transformações estas que se pautam pelas relações sociais tensas em que estão inseridos e/ou que vivenciam internamente. A identificação de causas e atores conflitivos bem como o alcance da projeção do novo, no entanto, dependem muito da capacidade de análise e reflexão sobre esta realidade complexa. Os movimentos sociais populares são, pois, por si só, a unidade entre teoria e prática, sujeito e objeto. É no processo mesmo, enquanto espaço de construção constante, consciente e coletiva, que se vão estabelecendo as condições de ruptura individual e social. Meios e fins se condicionam mutuamente e, por isso, desaparecem enquanto atos distintos na práxis cotidiana. Obviamente estas não são questões totalmente conscientes e incorporadas no cotidiano. A existência e definição de um movimento social popular é antes um constante processo de libertação das condições sociais opressoras que se manifestam também no vanguardismo e no espontaneísmo internos. O progressivo tornar-se consciente (da consciência em si para a consciência para si) desta condição e de seus potenciais, no entanto, é determinante para poder avançar em direção a rupturas estruturais.

Primazia pedagógica do processo

Nossas leituras da realidade bem como os nossos projetos de futuro se orientam dentro de um horizonte compreensivo por nós construído a partir dos contextos em que vivemos. Dependendo deste, espande-se ou limita-se nossa capacidade de pensar e agir para além do que nos é apresentado como normal e necessário. É um movimento circular no qual interagem simultaneamente nossa leitura da realidade presente, da história e a construção de nossos sonhos e utopias. É a possibilidade que temos de nos libertar de qualquer pretenso determinismo histórico ou social. Todos nós vivemos, de uma ou outra forma, orientados por essas utopias. Conseguir fortalecer utopias, e portanto leituras e vivências da realidade, orientados pela esperança e construção de um sentido de vida que ultrapasse os supostos determinismos da dinâmica atual é um dos principias desafios enfrentados pelos movimentos sociais populares. Denunciar a crueldade, mas também, a partir dela mesma, apontar para possíveis desejáveis, são momentos decisivos para levar ao engajamento e gerar esforços pessoais e coletivos.

A unidade entre a realidade e o possível, entre teoria e prática, é a organização e a vida concreta dos movimentos. É, pois, na construção dos instrumentos, das metodologias, formas de relação e ação que vai se constituindo, enquanto processo, o inédito. Pois é ali que se constitui o capital cultural/social, nossas estruturas de sentimentos e, portanto, de conduta em relação aos outros, aos meios e conosco mesmos. São dimensões não simplesmente ensináveis por teorias, mas que também não emergem espontaneamente a partir da realidade reificada. O envolvimento da integridade emotiva das pessoas e a reflexão crítica e criativa são ingredientes indispensáveis. As conquistas e mudanças, por poderem ser consideradas frutos da construção ou da conquista coletiva e consciente, adquirem, assim, um sentido emancipatório.


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