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Eleições 2004: Uma análise do desempenho petista (página 2)

Dejalma Cremonese

Analisando os números finais do resultado já no primeiro turno, percebeu-se o expressivo crescimento do PT, que obteve a votação de 16,3 milhões (17,17% dos votos válidos). Na comparação percentual feita em relação às eleições municipais de 2000, o PT aumentou sua votação em 37,7% - havia obtido então 11,9 milhões de votos. No PSDB, o avanço também foi significativo, embora um pouco menor, passando de 13,5 para os atuais 15,7 milhões (16,5% dos votos válidos) em relação às eleições de 2000. O terceiro partido mais votado foi o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), com 14,2 milhões de votos; seguido pelo PFL (Partido da Frente Liberal), 11,2 milhões; PP (Partido Progressista), 6,1 milhões; PDT (Partido Democrático Trabalhista), 5,5 milhões; PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), 5,2; PL (Partido Liberal), 5,0; PPS (Partido Popular Socialista), 4,9 e PSB (Partido Socialista Brasileiro), 4,4 milhões de votos, conforme o Tribunal Superior Eleitoral.

2.1. Vitórias eleitorais nos municípios e capitais (1ºturno)

Já no primeiro turno, o PT ganhou a prefeitura de seis capitais de estados e elegeu 400 prefeitos em todo o país (um aumento de 114% em relação às eleições de quatro anos atrás). Em Belo Horizonte (MG), o prefeito petista Fernando Pimentel foi reeleito com 68,5% dos votos; da mesma forma, em Recife (PE), João Paulo (PT) foi reeleito com 56% dos votos. O PT também venceu em Aracaju (SE), Macapá (AP), Palmas (TO) e Rio Branco (AC).

Em termos nacionais, o PT foi o partido que mais votos recebeu para prefeito nos 5.562 municípios brasileiros. Embora esteja longe de conquistar o maior número de administrações, é preciso registrar que o PT foi, dentre as grandes agremiações, a que mais cresceu nesse quesito, quando comparado ao total de cidades em que venceu no pleito anterior. Já PMDB, PSDB, PFL e PP, que seguem numericamente à frente da legenda governista, diminuíram sua participação em relação a 2000. O PTB obteve um pequeno aumento. Da mesma forma, PPS, PSB, PL e PDT cresceram no cotejo com o pleito anterior.

O PMDB foi o partido que conquistou o maior número de prefeituras e cadeiras nos legislativos municipais, conforme levantamento divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mesmo assim, o partido encolheu. Ao todo, foram eleitos 1.045 prefeitos peemedebistas no primeiro turno, contra 1.257 em 2000. O segundo colocado foi o PSDB. Em relação ao ano 2000, os tucanos também elegeram menos. Na eleição do dia 3 de outubro, o PSDB elegeu 859 prefeitos. Em 2000, foram 990. Em terceiro lugar ficou o PFL, com 785 prefeitos. O partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva conquistou, no primeiro turno, 400 prefeituras. Em 2000, o PT elegeu 187 prefeitos e 2.485 vereadores. Os 10 partidos que tiveram mais vereadores eleitos foram: PMDB - 8.311, PSDB - 6.562, PFL - 6.461, PP - 5.452, PTB - 4.210, PL - 3.825, PT - 3.677, PDT - 3.250, PPS - 2.816 e PSB - 1.832.

3. Segundo turno: resultados gerais no Brasil

O PT foi o partido que mais conquistou prefeituras nas 43 cidades em que houve eleições no 2º turno. O PT fez 11 prefeituras das 23 em que concorreu, 48% de aproveitamento; o PSDB concorria em 20 municípios no 2º turno e venceu em 9 (45%); O PMDB venceu em 6 cidades das 12 em que disputou (50%); O PDT disputava 7 cidades e venceu em 5 (66,6%); O PPS venceu em 4 cidades das 5 em que disputou (80%);  O PSB disputou em 5 municípios e venceu em 4 (80%); O PTB disputou em 3 municípios e venceu em 2 (66,6%); O PSDC ganhou em 1 município e o PFL disputou em 5 municípios e não ganhou em nenhum.

Apesar de o PSDB eleger 119 prefeituras a menos em relação às eleições de 2000, o partido obteve melhor êxito nos grandes centros urbanos. O PSDB governará 871 cidades que abrigam 25,617 milhões de eleitores, o equivalente a 21,4% do país. O PT terá prefeitos em 411 municípios, com 17,055 milhões de eleitores (14,2%). No total, os tucanos governarão 8,56 milhões de eleitores a mais que o PT. Em terceiro, o PMDB governará 1.057 cidades, com 16,890 milhões de eleitores (14,1%).

O quadro abaixo elenca algumas siglas partidárias que tiveram o número de prefeituras diminuído em relação às eleições de 2000. Dentre estes se encontram o PMDB, PSDB, PFL e PP. Os partidos que aumentaram o número de prefeituras foram o PTB, PT, PL, PPS, PDT, PSB, PV e PCdoB.

Performance partidária nos municípios do Brasil 2000 e 2004

Evolução

Colocação

Partido

2000

2004

Diferença

Percentual

Negativa

PMDB

1.257

1.057

-200

-16%

Negativa

PSDB

990

871

-119

-12%

Negativa

PFL

1.028

790

-238

-23%

Negativa

PP

618

552

-66

-10%

Positiva

PTB

398

425

+27

+6%

Positiva

PT

187

411

+224

+120%

Positiva

PL

234

381

+147

+62%

Positiva

PPS

166

306

+140

+84%

Positiva

10º

PDT

288

305

+17

+6%

Positiva

11º

PSB

133

176

+43

+32%

Positiva

12º

PV

13

56

+43

+330%

Positiva

13º

PCdoB

1

10

+9

+900%

 

 

Outros

246

222

-25

-10%

 

 

Total

5.559

5.562

+2

 

 Fonte: Quadro elaborado a partir dos resultados oficiais (TSE)

3.1. Vitória do PSDB

O crescimento eleitoral do PT obtido no primeiro turno não se repetiu no segundo, mais precisamente nas grandes cidades das regiões Sul e Sudeste do país e nas capitais onde os petistas amargaram as maiores derrotas: Porto Alegre, Curitiba e São Paulo. No mais importante centro político e financeiro do país, São Paulo, o PT perdeu a prefeitura para o PSDB. A candidata à reeleição Marta Suplicy fez, no primeiro turno, 35,8% dos votos e seu opositor, José Serra, obteve 43,5%, uma diferença de 7,7 pontos percentuais pró-Serra. No segundo turno, depois de uma dura disputa entre os candidatos, José Serra confirmou sua vitória com 3.330.179 (54,86%) votos contra 2.740.152 (45,14%) de Marta Suplicy, uma diferença de 9,72%.

No segundo turno as dificuldades da candidata petista foram imensas, pois contou com o reforço do PSB (Partido Socialista Brasileiro), mas não da candidata derrotada Luiza Erundina (3,96%), e do PP (Partido Progressista) de Paulo Maluf (11,91%). Pelos resultados finais, comprovou-se que a transferência de voto de um partido para outro não ocorre de maneira automática na política brasileira. O PP de Maluf apoiou a candidata petista no segundo turno, mas os votos dos malufistas não migraram na totalidade para Marta Suplicy.

Depois da derrota sofrida no segundo turno das eleições presidenciais de 2002 para Luiz Inácio Lula da Silva (61,27% contra 38,73% dos votos), poucos apostavam no futuro político de José Serra. Com a vitória do candidato tucano em São Paulo, Serra e seu partido PSDB, além de vencer a administração petista de Marta Suplicy (vitrine do PT) e conquistar o maior colégio eleitoral e a maior cidade do país, José Serra torna-se uma das principais lideranças do PSDB.

Há um consenso, entre os analistas políticos, de que o PT e o PSDB foram os grandes vencedores das eleições municipais 2004, na medida em que passarão a governar 14 das 26 capitais, 3 a mais do que nos dias atuais, a partir de 2005. Porém, o balanço final teve significados políticos diferenciados para ambos: a vitória petista foi organizacional, na medida que os votos recebidos foram provenientes de todas as partes do Brasil. Os candidatos petistas obtiveram êxito nos grotões, cidades médias e nas capitais do Norte-Nordeste, mas o partido acabou perdendo o domínio de grandes centros urbanos para o PSDB que, por sua vez, passará a governar o maior número de eleitores a partir de 2005. No que se refere à conquista de prefeituras, o PT mais do que dobrou o número, passando de 187 há quatro anos para um total de 411 nas eleições de 2004 (já inclusas as 11 cidades conquistadas no 2º turno). Outro dado importante diz respeito ao número total de votos: pela primeira vez o PT foi o partido mais votado numa eleição municipal, tanto no primeiro quanto no segundo turno.

3.2. Governando as capitais: hegemonia do PT e do PSDB

O PT concorreu em nove capitais no 2º turno das eleições 2004, mas venceu em apenas três. No total o PT vai administrar 9 capitais a partir de 2005. Nestas, o partido obteve, igualmente, o maior número de votos (6,9 milhões). No entanto, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdeu suas duas capitais mais estratégicas, São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS). O PSDB conquistou cinco capitais: São Paulo (SP), Curitiba (PR), Cuiabá (MT), Florianópolis (SC) e Teresina (PI), somando 6,3 milhões de votos no segundo turno. O PDT obteve uma vitória importante em Salvador (BA), onde derrotou o candidato do pefelista Antônio Carlos Magalhães. Os pedetistas ganharam ainda as prefeituras de Maceió (AL) e São Luís (MA). Outro partido que conquistou três capitais foi o PSB: João Pessoa (PB), Natal (RN) e Manaus (AM). O PMDB, partido que obteve o maior número de prefeituras no País (1.045), teve um desempenho pífio nas capitais, elegendo apenas os prefeitos de Goiânia (GO) e Campo Grande (MS).

Outro partido tradicional com mau resultado foi o PFL, que elegeu apenas Cesar Maia à prefeitura do Rio de Janeiro e perdeu em seu reduto mais importante, Salvador. O PTB, partido da base aliada do governo, conquistou a prefeitura de Belém do Pará. Já o PPS acabou com 16 anos de mandato petista na prefeitura de Porto Alegre (RS), elegendo o ex-senador José Fogaça. O PPS também elegeu o prefeito de Boa Vista (RR).

Capitais conquistadas e suas respectivas agremiações políticas 2000 e 2004

Evolução

Colocação

Partido

2000

2004

Diferença

Positiva

PT

8

9

+1

Positiva

PSDB

3

5

+2

Positiva

PSB

2

3

+1

Positiva

PDT

2

3

+1

Manteve

PPS

2

2

0

Manteve

PMDB

2

2

0

Positiva

PTB

0

1

+1

Negativa

PFL

3

1

-2

Negativa

PL

3

0

-3

Negativa

PP

1

0

-1

 

 

TOTAL

26

26

 

Fonte: Quadro elaborado a partir dos resultados oficiais (TSE)

3.3. O controle político nas maiores cidades

Analisando o universo das 96 cidades mais relevantes politicamente, incluindo as 26 capitais e as 70 cidades com mais de 150 mil eleitores (38,7% de todos os eleitores do Brasil), chega-se aos seguintes números: o PT, embora tendo ainda o controle político da maioria das cidades, cai de 29 prefeituras para 24. O PSDB mantém o mesmo número de prefeituras nesta modalidade.

Evolução dos partidos nas 96 maiores cidades do Brasil

Evolução

Colocação

Partido

2000

2004

Diferença

Negativa

PT

29

24

-5

Manteve

PSDB

19

19

0

Manteve

PMDB

11

11

0

Positiva

PDT

8

11

+3

Positiva

PSB

6

8

+2

Positiva

PPS

4

8

+4

Negativa

PFL

9

6

-3

Negativa

 

Outros

10

9

-1

 

 

Total

96

96

 

Fonte: Quadro elaborado a partir dos resultados oficiais (TSE)

Os tucanos permanecem no comando político de 19 municípios. O PMDB mantém sua hegemonia política na maioria das prefeituras do Brasil (1.057), mas conquistou apenas 11 das 96 cidades mais importantes e apenas 2 capitais. O PFL foi o partido que sofreu a maior derrota nestas eleições. O partido perdeu nas duas capitais onde disputou o segundo turno: Salvador (BA) e Manaus (AM), e ganhou em apenas 6 das 96 cidades mais importantes. A maior vitória entre as cidades mais importantes foi no Rio de Janeiro.

3.4. Total de votos de cada partido

Dos quatro principais partidos, PT e PSDB ampliaram e PMDB e PFL reduziram sua fatia no total de votos, numa comparação entre o primeiro turno de 2000 e o de 2004.

Evolução

Colocação

Partido

2000

Percentagem

2004

Percentagem

Diferença

Positiva

PT

11.938.734

14,3%

16.326.047

17,15%.

+2,85%

Positiva

PSDB

13.518.346

16%

15.747.592

16,54%

+0,54%

Negativa

PMDB

13.257.650

15,69%

14.249.339

14,97%.

-0,72%

Negativa

PFL

12.973.544

15,35%

11.238.408

11,81%

-3,74%

Fonte: Quadro elaborado a partir dos resultados oficiais (TSE)

Já no segundo turno, com a derrota do PT em São Paulo, o eleitorado a ser governado pelos petistas reduziu sensivelmente em relação a 2000. Os partidos que mais evoluíram foram PV, PCdoB e PPS, enquanto que PTB e PT reduziram seu domínio sobre o eleitorado.

Evolução

Colocação

Partido

2000

2004

Diferença

Positiva

PSDB

18.463.915

25.615.145

+39%

Negativa

PT

21.590.995

17.055.262

-21%

Negativa

PMDB

19.541.475

16.889.596

-14%

Negativa

PFL

16.796.596

15.506.423

-8%

Positiva

PDT

6.322.915

8.627.693

+36%

Positiva

PPS

4.102.926

6.752.066

+65%

Negativa

PP

7.799.270

6.726.691

-14%

Manteve

PSB

5.645.221

5.654.486

0

Negativa

PTB

12.634.749

6.705.263

-47%

Positiva

10º

PL

4.304.448

4.920.752

+14%

Positiva

11º

PV

431.420

1.471.592

+241%

Positiva

12º

PCdoB

275.598

480.113

74%

Fonte: Quadro elaborado a partir dos resultados oficiais (TSE)

4. Cenário político gaúcho (1º turno)

O Rio Grande do Sul realizou eleições em seus 496 municípios, num total de 24.159 seções. O total de eleitores aptos foi de 7.543,188; desses, 6.715,654 (89,1%) compareceram e 827.534 (10,9%) se abstiveram de votar. O percentual de votos válidos no estado foi de 6.354.298 votos (94,6%), com 151.693 votos em branco (2,2%) e 209.663 nulos (3,1%). Nas últimas eleições municipais de 2000, 7.112.134 estavam aptos a votar e 6.325.105 (88,9%) compareceram, numa abstenção de 787.029 eleitores (11,0%). Os votos válidos somaram 5.983.700 (94,6%), com 150.413 votos brancos (2,3%) e 190.992 eleitores anularam o voto (3,02%). Se traçarmos um paralelo entre as eleições municipais de 2000 e 2004, vê-se que o percentual de comparecimento foi 0,02% maior em 2004 e nos votos válidos foi idêntico ao anterior.

Na administração das prefeituras, no que se refere ao gênero, a supremacia continua sendo dos homens. Foram eleitos 479 prefeitos (96,5%) e apenas 18 prefeitas (3,5%) no estado. Das 4.574 vagas para as câmaras municipais, foram eleitos 4.035 vereadores (88,2%) e 539 vereadoras (11,7%).

No Rio Grande do Sul, PMDB e PP continuam sendo os partidos que administram o maior número de prefeituras. Nas eleições municipais de 2000, a supremacia era do PP (PPB, na época), que elegeu 174 contra 139 do PMDB. Nas eleições 2004, a ordem se inverteu, o PMDB foi o partido que mais elegeu prefeitos no primeiro turno, 136 (+ 1 no 2º turno =137), seguido do PP, 134. Os peemedebistas perderam o comando de duas cidades em relação à eleição de 2000. Já o PP teve uma perda maior: 40 municípios. Em terceiro, segue o PDT, que apresentou o maior crescimento proporcional, passando de 78, em 2000, para 97 prefeitos. Em quarto lugar ficou o PT, que passou de 35 para 43 prefeituras. O PTB segue com a mesma quantidade de prefeituras, 31. O PPS, que até então não detinha nenhuma, agora somou três no primeiro turno e, confirmou mais duas no 2º turno (5 no total) com José Fogaça, que venceu o candidato petista Raul Pont na Capital dos gaúchos, e Bernardo de Souza, que foi vencedor em Pelotas. O PFL aumentou em três o número de prefeituras, passando de 15 para 18. O PSDB ganhou mais duas, e agora soma 17. O PSB, que antes tinha sete, agora tem nove. O PL segue com três, e o PHS conquistou duas prefeituras.

Além de ter sido o partido que mais perdeu prefeitos, os progressistas (PP) amargaram ainda algumas derrotas na tentativa de reelegê-los: é o caso de Juca Alvarez, de São Borja, derrotado por Mariovane Weis (PDT), e do prefeito de Cruz Alta, José Westphalen Corrêa, que foi superado pelo PT de Vilson Santos. Em Erechim, o partido conseguiu a vitória, reelegendo Eloi Zanella. O PTB foi derrotado em Cidreira, onde a prefeita Custódia da Silva (PTB) perdeu para Roberto Camargo (PMDB) e, em Gravataí, o ex-prefeito Abílio dos Santos perdeu para o petista Sergio Stasinski.

Apenas três cidades do Rio Grande do Sul tiveram novas eleições no dia 31 de outubro: Porto Alegre, onde disputaram Raul Pont (PT) e José Fogaça (PPS); Caxias do Sul, onde José Ivo Sartori (PMDB) concorreu contra Marisa Formolo (PT) e Pelotas, onde disputaram o comando da prefeitura Bernardo de Souza (PPS) e Fernando Marroni (PT). O PT foi derrotado em todas. Em Caxias do Sul, José Ivo Sartori venceu com 119.521 (52,43%) votos contra 108.427 (47,57%) de Marisa Formolo, uma diferença de 4,86%. Em Pelotas venceu Bernardo de Souza do PPS com 100.088 (52,38%) contra 91.007 (47,62%) do candidato petista, uma diferença de 4,76%. Em Porto Alegre, Raul Pont (PT) foi derrotado por Fogaça. Pont fez 378.099 (46,68%) contra 431.820 (53,32%) de Fogaça, uma diferença de 6,64%.

Partidos e prefeituras conquistadas: eleições 2000/2004 – RS

Evolução

Colocação

Partido

2000

2004

Diferença

Negativa

PMDB

139

137

-2

Negativa

PP

174

134

-40

Positiva

PDT

78

97

+19

Positiva

PT

35

43

+8

Manteve

PTB

31

31

0

Positiva

PFL

15

18

+3

Positiva

PSDB

15

17

+2

Positiva

PSB

7

9

+2

Positiva

PPS

0

5

+5

Manteve

10º

PL

3

3

0

Positiva

11º

PHS

0

2

+2

 

 

TOTAL

497

496

 

Fonte: Quadro elaborado a partir dos resultados oficiais (TSE)

CONCLUSAO

Desde o término do primeiro turno, já era consenso entre os analistas de que o PT e o PSDB se consolidavam como os partidos mais expressivos da política brasileira. O PT, em termos nacionais, foi o partido que mais votos recebeu para prefeito nos 5.562 municípios no primeiro turno: os petistas receberam 16,3 milhões de votos (17,17% do total), um acréscimo de 37,7% em relação a 2000. No segundo turno, o PT conquistou 411 prefeituras contra 187 das eleições de 2000 (224 a mais - um aumento de 120%), os petistas concorreram em 23 municípios e elegeram 11 (48% de eficiência). Das 10 cidades em que o PT concorreu com o PSDB (confronto direto), os petistas venceram em 6 e os tucanos em 4. O PT governará, igualmente, o maior número de capitais a partir de 2005, serão 9 no total. Nas 96 maiores cidades do Brasil (26 capitais + 70 cidades com mais de 150 mil habitantes), a supremacia também foi petista, com a vitória em 24 municípios. O PT vai administrar o segundo maior número de eleitores: são 17.055.262 em todo o país.

Já o PSDB, recebeu a segunda maior votação entre os partidos, foram 15,5 milhões de votos recebidos no primeiro turno (16,5% do total), mas governará o maior número de eleitores: 25.615.145 em todo o país. O PSDB vai governar 871 prefeituras a partir de 2005, incluídas as 5 capitais conquistadas. Dentre as 96 maiores cidades, os tucanos mantêm o domínio político em 19, inclusive na capital paulista onde José Serra venceu a candidata petista Marta Suplicy.

O PMDB mantém seu domínio nos municípios médio e pequeno porte. Mesmo perdendo 200 municípios em relação às eleições de 2000, o PMDB continua sendo o partido que administra o maior número de prefeituras, com 1.057 em todo o Brasil. O PMDB passa a ser a terceira maior força no total de votos em todo o país. O partido recebeu 14.249.339 votos (14,97% do total). Nas eleições de 2000 o partido ocupava o segundo lugar. O PMDB vai administrar apenas 11 das 96 maiores cidades, sendo duas capitais dentre elas. O PMDB vem declinando sua participação no total de votos em todo o país nas últimas cinco eleições municipais. Em 1988 o PMDB fez 19,52% do total de votos do país, declinou para 15,6% em 1992, 12,54% em 1996, 12,11% em 2000 e, 11,7% em 2004.

O PFL foi o partido que mais declinou nas eleições 2004. O partido aparece na quarta colocação no ranking dos votos (11,2 milhões nas eleições 2004) e administrará 790 municípios a partir de 2005. Comparando com as eleições de 2000, o partido perdeu 238 prefeituras. O partido venceu em apenas seis cidades dentre as 96 maiores, sendo a capital do estado no Rio de Janeiro uma delas. A derrota mais notável deu-se na capital baiana, Salvador, onde o candidato pefelista César Borges, afiliado do senador Antonio Carlos Magalhães, foi derrotado pelo candidato João Henrique do PDT com uma diferença de 532.292 votos (49% do total). Nas últimas cinco eleições municipais o PFL tem declinado, igualmente, seu percentual de votos nas urnas em todo o Brasil. Em 1988 o partido fez 12,14% do total de votos do país, em 1992 baixou para 10,86%, em 1996 diminuiu ainda mais, para 9,97%, em 2000 aumentou o percentual para 11,75%, mas declinou novamente nas eleições em 2004, perfazendo apenas 9,23%.

Pode-se concluir que o ganho petista nas eleições 2004 deu-se no âmbito quantitativo, pois o partido se consolida em âmbito nacional tendo presente sua expressiva votação. Já a vitória do PSDB foi significativa no quesito "qualidade" (ganho ideológico), principalmente no valor simbólico de ter conquistado a maior capital do país, São Paulo. Se a vitória do PT deu-se no âmbito quantitativo (partido que recebeu o maior número de votos no primeiro e no segundo turnos em todo o Brasil), como explicar a derrota do partido em locais estratégicos como Porto Alegre? A derrota pode ser atribuída a um julgamento do Governo Lula? Não necessariamente. Penso que a derrota do PT em Porto Alegre tenha razões mais complexas.

Parece pouco convincente o argumento de que a derrota do PT em Porto Alegre esteja ligada apenas ao desempenho do Governo Lula. Se o argumento fosse verdadeiro, como explicar o crescimento do PT (37%) em todo o país em relação às eleições 2000? O PT cresceu, igualmente, em 20 estados brasileiros, comparando as eleições de 2000 e 2004. A votação petista foi decrescente em apenas 6 estados: Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Alagoas, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte. Em São Paulo, o PT obteve 35,9% dos votos no primeiro turno, apenas 2,3% abaixo da votação registrada em 2000 (ver quadro abaixo).

% votos PT nas eleições municipais 2000 e 2004

Estado

2000

2004

diferença

Piauí

9,7

5,7

-4,0

Alagoas

5,7

2,2

-3,5

Rio Grande do Norte

7,1

4,4

-2,7

Rio Grande do Sul

22,6

20,9

-1,7

Paraíba

4,7

3,7

-1,0

Rio de Janeiro

11,5

10,7

-0,8

São Paulo

24,8

25,3

0,5

Pará

17,7

18,4

0,7

Amazonas

1,1

1,9

0,8

Goiás

9,9

10,8

0,9

Santa Catarina

17,2

18,4

1,2

Maranhão

2,9

4,6

1,7

Bahia

11,9

13,8

1,9

Paraná

12,6

15,1

2,5

Roraima

0,0

2,8

2,8

Mato Grosso

7,7

12,5

4,8

Rondônia

10,3

15,9

5,6

Acre

33,0

39,0

6,0

Espírito Santo

3,8

11,2

7,4

Ceará

2,4

10,3

7,9

Sergipe

14,8

23,0

8,2

Mato Grosso do Sul

19,0

27,6

8,6

Pernambuco

8,8

19,6

10,8

Minas Gerais

8,8

22,3

13,5

Tocantins

2,3

22,5

20,2

Amapá

2,0

34,2

32,2

Fonte: MARENCO (2004)

Outras razões parecem ser relevantes para justificar a derrota do PT em Porto Alegre. Dentre elas, a tendência decrescente dos votos do PT obtidos nos últimos anos (ver tabela):

% votos PT em Porto Alegre

 

88

89

90

92

94

96

98

2000

2002

2004

PREFEITO

34,3

-

-

40,8

-

52,0

-

45,6

-

35,0

GOVERN

-

-

10,6

-

50,7

-

53,6

-

39,9

-

PRESID

-

6,4

-

-

38,8

-

50,4

-

43,6

-

Fonte: MARENCO (2004)

Durante os anos 90 o PT registrou tendência de crescimento de seu eleitorado em Porto Alegre, sendo que o melhor resultado na capital foi alcançado nas eleições para o Governo do Estado, em 1998. A partir desta eleição, começa o declínio no desempenho eleitoral na capital. Duas razões parecem ser essenciais para este ponto de inflexão: a primeira dela está ligada à avaliação negativa por parte do eleitorado à administração do governador Olívio Dutra (no final do segundo ano do seu mandato, 2000), pela truculência e conflitos generalizados do seu governo. A segunda razão para a tendência da perda de eleitores está relacionada à renúncia do prefeito Tarso Genro à prefeitura de Porto Alegre, para concorrer ao governo do estado, depois de ter se comprometido de que governaria a capital até o fim do mandato.

Outra razão para a derrota petista em Porto Alegre diz respeito ao sentimento anti-PT criado por setores da mídia que se opunham ao governo petista acabaram influenciando a opinião pública de maneira negativa. O antipetismo ficou evidente, igualmente, no processo de "transferência" de votos entre o primeiro e o segundo turnos. A oposição articulou-se para derrotar o candidato petista. Diferentemente das eleições anteriores, quando os votos dados a candidatos derrotados distribuíram-se em proporções equilibradas entre o candidato do PT e seu rival, isso não ocorreu em 2004. Dois de cada três eleitores derrotados no primeiro turno confiaram seu voto ao candidato José Fogaça (PPS), no segundo turno.

Transferência votos: primeiro/segundo turno

 

 

1º turno

2º turno

+

2000

Tarso

45

60

15

Collares

20

36

16

2002

Tarso

39

48

9

Rigotto

37

48

11

2004

Pont

35

45

10

Fogaça

28

53

25

Fonte: MARENCO (2004)

O candidato Raul Pont foi derrotado nos bairros com maior renda e maior escolaridade média. O PT não soube apresentar propostas que contemplassem as preocupações e expectativas da classe média. A ausência de propostas para a atração de investimentos capazes de absorver mão-de-obra altamente escolarizada, a valorização do espaço urbano, projetos para o lazer e cultura, contribuiu para reforçar um sentimento de mesmice e incapacidade de projetar o futuro da cidade, associado aos últimos governos petistas. O PT foi vitorioso nos bairros de menor renda onde reside a população que foi mais beneficiada pelas políticas sociais provenientes do Orçamento Participativo (políticas de saneamento, pavimentação e transporte).

% votos segundo renda média bairros Porto Alegre

Renda média/bairro

Pont

Fogaça

Pont 1996

Menos mil reais

48,7

47,3

52,7

Mil a dois mil reais

44,5

51,7

52,4

Dois a quatro mil reais

37,9

58,9

48,1

Mais de quatro mil reais

28,5

68,4

40,4

Fonte: MARENCO (2004)

A estratégia do discurso retrospectivo prevaleceu na campanha eleitoral do PT no horário gratuito. Foi um erro de estratégia na medida que as propostas para uma nova administração petista foram pouco difundidas, prevalecendo as propagandas do que já havia sido feito. O candidato Fogaça soube tirar proveito dessa lacuna e adotou o slogan: "Vamos manter o que é bom e melhorar o que não está funcionando..." na sua medíocre proposta de governo. A burocratização do partido, a pouca mobilidade e a mesmice da militância petista, a "dudalização" do marketing publicitário (propaganda em série), com a centralização no indivíduo e não no partido: "Raul é bom no que faz", igualmente, contribuíram para a derrota petista em Porto Alegre.

BIBLIOGRAFIA

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BAQUERO, Marcello (Org.). Cultura política e democracia: os desafios das sociedades contemporâneas. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, (1994).

BAQUERO. Marcello. Partidos, democracia e cultura política. Porto Alegre: UFRGS, 1996.

CADERNOS ADENAUER IV. Eleições e partidos. Rio de Janeiro: Fundação Konrad Adenauer, 2003.

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MARENCO, ANDRÉ. Quem não sabe por que perde, não saberá como ganhar novamente. Artigo apresentado em sala de aula. Pós-Graduação em Ciência Política, UFRGS, 2004.

NICOLAU, Jairo. Notas sobre as eleições de 2002 e o sistema partidário brasileiro. In. CADERNOS ADENAUER IV. Eleições e partidos. Rio de Janeiro: Fundação Konrad Adenauer, abril 2003.

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TERRA. Eleições 2004. Disponível em . Acesso 2m 07 de novembro de 2004.

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL. Disponível em . Acesso em 10 de novembro de 2004.

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Disponível em . Acesso em 12 de novembro de 2004.

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IBGE (2004).

Tribunal Superior Eleitoral

Terra Eleições. Disponível em < http://noticias.terra.com.br/eleicoes2004/>. Acesso em 20 de novembro de 2004.

Outras derrotas expressivas dos petistas: Caxias do Sul, Pelotas, Blumenau, Campinas, Ribeirão Preto, Cuiabá, Belém, Curitiba, Goiânia, Maceió e Natal.

Considerando que a capital paulista, São Paulo, conta com 7.771.503 eleitores.

Tribunal Superior Eleitoral. Considerando-se apenas os votos do primeiro turno.

Tribunal Superior Eleitoral. Considerando-se apenas os votos do primeiro turno.

 

Autor:

Dejalma Cremonese

dcremo[arroba]hotmail.com

dcremo[arroba]uol.com.br

Professor do Departamento de Ciências Sociais da UNIJUÍ (RS). Doutorando em Ciência Política da UFRGS (Brasil)

Website: www.capitalsocialsul.com.br

Fonte: Revista Espaço Acadêmico Nº43, Dezembro de 2004



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