Da ética construtivista à ética sustentável: a trajetória do design.



  1. Resumo
  2. A reorganização das relações sociais: os primórdios do design
  3. Racionalidade e estética: o design, o mercado e a lógica
  4. O resgate da ética: o design, o meio ambiente e a sociedade
  5. Conclusão
  6. Referências bibliográficas

Resumo

A percepção de responsabilidade ética no design passou por diversas fases ao longo do século XX. Inicialmente centrado no resgate das estruturas sociais tradicionais abaladas pela Revolução industrial, o design acabou por assumir um papel ativo na construção de uma nova sociedade, coerente com as demandas de reformulação que os avanços tecnológicos exigiam. O avanço do século levou a enfoques menos engajados socialmente, mais focados ora na estética, ora na lógica, desenvolvendo-se segundo as exigências de uma expansão do consumo e da noção de bem estar nele baseada. Esta ênfase no consumo conduziu a extremos que acabaram por despertar, entretanto, uma nova consciência social, inicialmente voltada para a questão ambiental e mais tarde ampliada para questões tais como justiça e equidade. As novas orientações éticas que passaram a reger o design exigem, no século XXI, que ele exerça uma responsabilidade social além do campo da produção: ele deve assim trazer sua contribuição para a condução de um processo de reeducação da sociedade, calcado em novas formas de bem estar, que possam atingir uma parcela maior da população e ao mesmo tempo manter-se dentro do respeito aos limites dos recursos do planeta. Este artigo retraça o processo de evolução das preocupações do design e destaca a importância da orientação ética de suas propostas no contexto globalizado e fragmentado do início do século XXI.

PALAVRAS-CHAVE: design, responsabilidade social, sustentabilidade

From constructive ethics to sustainable ethics: the path of design

Abstract

The perception of the ethical responsibility of design has gone through various phases along the 20th century. Initially centered on the rescue of the traditional social structures shaken by the Industrial Revolution, design later undertook an active role on the construction of a new society, coherent with the demands imposed by the reformulation of the technological progress. As the century went along new approaches came up, less concerned with social issues, focused on esthetics or on logics, developing itself according to the demands of the expansion of consumption and the well being notion associated to it. However, this emphasis on consumption lead to extremes that ended by arousing a new social consciousness initially focused on the environmental issue and later extended to matters such as justice and equity. In the 21st century, the new ethical orientations that guide design demand that its exercise of social responsibility go beyond the production field; it must bring its contribution to the conduction of a process of reeducation of society, based on new forms of well being, that would attain a larger part of the population and at the same time keep itself within the limits of the planet resources. This paper retraces the evolution of design concerns and stresses the importance of the ethical orientation of its proposals in the globalized and fragmented context of the beginning of the 21st century.

KEY WORDS: design, social responsibility, sustainability.

1. A reorganização das relações sociais: os primórdios do design

No século XIX houve uma aceleração na tendência de afastamento dos grandes sistemas filosóficos: a noção moderna de disciplinaridade foi produto desta nova visão, ligada à evolução das ciências naturais, à "cientifização" do conhecimento, à Revolução Industrial, aos avanços tecnológicos e à agitação agrária [KLEIN, 1990]. O conceito de design, entretanto, em elaboração nesta época, foi vinculado a diversas disciplinas, numa indefinição que mostra a fluidez de suas fronteiras: ora ligado às artes, ora às ciências exatas, ora às ciências humanas; como extensão de cursos de artes, engenharia ou arquitetura, muitas vezes de forma marginal: os contornos da disciplina nunca foram efetivamente definidos. Esta abertura no campo de possibilidades dentro do qual os designers operam tem feito com que eles sejam sempre confrontados a escolhas que definem seu maior ou menor envolvimento social e ético [MANZINI, 2006]. Assim, ao longo de pouco mais de uma centena de anos estas escolhas têm conduzido a orientações diversas, que de certa forma exteriorizam as pressões sociais de cada época. Nascido em um momento histórico extremamente dinâmico, conturbado e revolucionário, em que novas formulações tentavam materializar as mudanças que estavam ocorrendo, o design foi inicialmente imbuído de grande responsabilidade social, seja por meio da busca e resgate de valores coletivos, seja, mais tarde, através da tentativa de contribuir para a transformação e reorganização das relações sociais. O estreitamento dos laços que ligavam a técnica, a função, o saber tradicional, o conhecimento dos materiais, o conteúdo cultural, a criação e a forma que os continha foi reivindicado ainda no século XIX por Ruskin, Morris e outros que, através do movimento Arts and Crafts, "tentaram elevar o status da produção artesanal como uma alternativa à produção em massa pelas máquinas" [BUCHANAN, 1995:32]. O Arts and Crafts, enquanto tentativa de passar do "produto de interesse individual ao produto de interesse coletivo" [ARGAN, 2005: 253] teve ampla repercussão teórica e está nas raízes de diversos movimentos que surgiram no início do século XX como, por exemplo, o atelier de produção artesanal fundado por Hoffmann, na Áustria - as Wiener Werkstatte - o De Stijl, na Holanda, a Deutscher Werkbund e a Bauhaus, na Alemanha. No que diz respeito à expressão política e social, a Deutscher Werkbund, surgida em 1907, destacou-se como uma das tentativas pioneiras de utilizar o design como elemento de afirmação de identidade nacional [CARDOSO, 2004]. Funcionando como um fórum onde se encontravam empresários, políticos, artistas, arquitetos e designers, propunha-se


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