Refletindo sobre as identidades culturais, a "raça" e a etnicidade



Com vistas nas peculiaridades que os diferentes povos buscam manter em seu lugar, percebe-se que os sistemas de comunicação globalmente interligados, as imagens e influências da mídia, a busca pela inserção no mercado mundial de estilos e a velocidade das informações contribuem para desvincular, descaracterizar e até desalojar as identidades culturais no tempo e nos lugares. Esta compressão de distâncias e das escalas temporais possibilita a exposição das culturas locais a influências externas, tornando difícil conservar as identidades culturais intactas ou impedir seu enfraquecimento em virtude do bombardeamento e infiltração de outras culturas.

Frente a estas considerações, torna-se difícil conceber a existência de sociedades auto-suficientes, ou seja, fechadas ao mundo exterior. No entanto, percebe-se que algumas comunidades tendem a se retrair até o instante em que se torne impossível o afastamento das outras sociedades. Isso porque o capitalismo e a globalização contribuem para a mitigação das fronteiras culturais e a homogenização das relações sociais, fazendo com que as crenças e hábitos, ou seja, o professar de simbolismos seja descaracterizado no tempo e no espaço por algumas comunidades, ao passo que, outras, podem vir a retomar tais características, seus símbolos – sua identidade.

Pierre Bourdieu ao se referir ao poder simbólico, o caracteriza como sendo invisível, só podendo ser exercido "com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem" (2003: 07). Os sistemas simbólicos, entendidos como estruturas estruturantes (mito, língua, arte, ciência) provindos da tradição neo-kantiana, são vistos como instrumentos do conhecimento e da construção do mundo dos objetos, como "formas simbólicas" que na inscrição de Durkheim tomam os fundamentos de uma sociologia das formas simbólicas para se tornarem "formas sociais, quer dizer, arbitrárias (relativas a um grupo particular) e socialmente determinadas" (BORDIEU, 2003: 08).

Nessa discussão sobre simbolismo, Bourdieu ao trabalhar a questão da identidade e da representação, acredita que a procura de critérios objetivos tanto para identidade regional, quanto étnica deve estar pautada no fato de que na prática social esses critérios são objetos de representações "mentais" (como língua, sotaque), e de representações "objectuais" (como emblemas, bandeiras, construções), ou seja, estruturantes e estruturadas, onde "por outras palavras, as características que os etnólogos e os sociólogos objectivistas arrolam funcionam como sinais, emblemas ou estigmas, logo que são percebidas e apreciadas como o são na prática" (2003: 112).

Giddens acrescenta que "o conceito de raça é um dos mais complexos da sociologia, principalmente devido à contradição entre seu uso cotidiano e sua base científica (ou inexistência desta)" (2005: 205), o que ocorre é que as pessoas enganam-se ao acreditar que os seres humanos possam ser separados em diferentes raças biologicamente, isso se prova nos estudos de alguns autores que distinguem quatro ou cinco raças principais ao passo que outros chegam a reconhecer três dúzias.

O início dos estudos sobre a raça se deu no final do século XVIII e início do século XIX com o intuito de justificar a ordem social emergente à medida que a Inglaterra e outras nações da Europa tornavam-se potências imperiais e submetiam outros territórios e povos a seu domínio. Nesta época, o conde Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) propôs a existência de três raças, sendo os brancos, negros e amarelos, que mais tarde influenciariam Adolf Hitler e sua ideologia nazista.

Para uma análise do ponto de vista da sociologia, os cientistas sociais sustentam a raça como um conceito vital, ainda que altamente contestado, a utilizando entre aspas para refletir seu uso enganoso, mas corriqueiro. Então, a "raça" pode ser entendida "como um conjunto de relações sociais que permitem situar os indivíduos e os grupos e determinar vários atributos ou competências com base em aspectos biologicamente fundamentados" (GIDDENS, 2005: 205).

Ao clarificar a noção de "raça", cuja idéia implica erroneamente a noção de algo definitivo e biológico, Giddens apresenta também o conceito de etnicidade, com um significado puramente social, onde "a etnicidade refere-se às práticas e às visões culturais de determinada comunidade de pessoas e que as distingue das outras" (2005: 206). Ou seja, diferentes características podem servir para distinguir um grupo étnico de outro, dentre eles a língua, história ou linhagem, religião, os estilos de roupas, adornos e hábitos.

No entanto, alguns antropologistas físicos levantam sérias dúvidas a respeito da validade dos conceitos tradicionais, aferições e classificações sobre raça. Anderson e Parker acrescentam que "já foi até mesmo sugerido que o termo "raça" seja definitivamente abandonado" (1971: 584), ainda para eles

"raça, como conceito científico, aplica-se unicamente aos agrupamentos biológicos de tipos humanos. Isso se refere aos grupamentos de pessoas que tem em comum um certo conjunto de características físicas inatas e uma origem geográfica dentro de uma determinada área" (ANDERSON E PARKER, 1971: 576).


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