Weffort e o pensamento político brasileiro

Enviado por Edison Bariani


Francisco Weffort. Formação do pensamento político brasileiro. Idéias e personagens. São Paulo: Ática, 2006. 360p.

Em seu mais recente livro, Francisco Weffort propõe-se oferecer uma "introdução ao pensamento político brasileiro". Para tanto, esboça uma linha de formação deste pensamento por meio de alguns autores eleitos como representativos, com base na exemplaridade de idéias e na premissa de que "[...] as idéias se revelam não apenas nas palavras, mas também nas ações" (WEFFORT, 2006, p. 7).

Os protagonistas desse processo de formação são, assim, não somente aqueles que exerceram "[...] a precedência e a influência na formulação de idéias relevantes para a formação do povo e do Estado", mas, também, os que exerceram "influência prática" sobre estes temas em sua época, ou seja, os "homens de ação" (WEFFORT, 2006, p. 12) [1].

Daí a presença do Padre Vieira, Verney, José de Alencar, Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Oliveira Vianna, os isebianos (mormente Hélio Jaguaribe), e também dos jesuítas, do Marquês de Pombal, José Bonifácio, Bernardo de Vasconcelos, etc. Significativas são as lembranças de Bernardo de Vasconcelos, Alencar e Oliveira Vianna, por vezes esquecidos, e, mais ainda, a de Rômulo de Almeida, personagem muito influente no pensamento e construção institucional do Brasil de meados do século XX [2].

Nesse percurso, Weffort (2006, p. 7-8) segue os indicativos de "[...] algumas particularidades da história das idéias brasileiras quando comparada com a européia", a saber: 1) "[...] que nossas elites pensaram o Brasil durante muito tempo como um "país sem povo""; 2) A "[...] emergência tardia do Estado, como realidade e como objeto de pensamento"; 3) "[...] a herança de uma concepção medieval da totalidade da vida social, com sua característica mistura de aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos".

Weffort (2006, p. 323), respondendo a indagação do livro de Faoro (1994) — do qual é profundamente devedor — sobre se existe um pensamento político brasileiro, assevera a efetividade e originalidade deste pensamento, ainda que caracterizado como "extensão do pensamento luso". Formado a partir de raízes ibéricas, o pensamento luso-brasileiro tem, segundo o autor, como "peculiaridade fundamental" o fato de que "[...] seu tema primordial não vem do rompimento de modos antigos do poder, como na Europa, mas do contato dos europeus com culturas e povos que desconheciam" (WEFFORT, 2006, p. 326).

Dispondo do instrumental totalizador advindo de sua herança medieval, o pensamento ibero-americano viu-se às voltas, inicialmente, com a existência de uma humanidade que desconhecia; já o pensamento luso-brasileiro é instado — desde seus primórdios — a lidar com a sua primeira questão: a do "reconhecimento dos povos novos". Assim, a abordagem totalizadora e a necessidade de um entendimento amplo dos vários aspectos (sociais, culturais, políticos) da vida colonial conduziram a uma indistinção dos aspectos propriamente políticos, entendidos como autônomos — autonomia essa considerada típica das sociedades modernas (como a Inglaterra, França e Holanda).

Frente à necessidade inicial de entender quais eram os sujeitos político-sociais, o pensamento luso-brasileiro recorreu a interpretações generalizantes da vida social, inaugurando uma tradição. Nessa tradição, a idéia — posta como recorrente — de que as elites pensantes no Brasil elidiram a presença do povo e relevaram o papel do Estado é revista pelo autor [3].

Para Weffort (2006, p. 329), "[...] o povo é o tema primordial da história das idéias no Brasil, o tema relativo à formação do Estado chegou a nós com enorme atraso", e, ao contrário do que comumente era afirmado, "[...] o povo e a cultura brasileira, com sua imensa diversidade, formaram-se aqui antes do Estado, que só começou a ser construído com a chegada de D. João VI e com a independência, depois de três séculos de duração da colônia" [4].

Debruçadas sobre a questão da formação, as primeiras obras que "[...] começaram a fechar o círculo de indagações sobre a nova humanidade" foram as de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque e Caio Prado Jr., e, nesse sentido, "[...] os fundadores do Iseb foram legítimos sucessores, aos quais incumbiu retomar o tema das origens coloniais e da formação do povo". Entre os anos 1920 e 1950, esses pensadores deram a perceber que "[...] o grande problema das elites na formação da sociedade brasileira era menos o de criar um povo do que o de reconhecer o povo realmente existente e que, aliás, nessas mesmas décadas, começava a emergir para as luzes do cenário político"; desse modo, "[...] depois de 1950 — e muito por influência dessas levas de pensadores de após 1920 e 1930 — [é] que se desenvolveram no país a ciência política, a sociologia, a antropologia e a economia, como ciências" (WEFFORT, 2006, p. 328) [5].


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