Contradições na teoria de Kant e nas suas interpretações



  1. O númeno é a coisa em si
  2. A coisa em si afecta a sensibilidade para produzir nela o fenómeno, é causa deste
  3. Quando kant define a coisa em si (nùmeno) como objecto fora de nós.
  4. Quando kant afirma que o númeno pode estar dentro ou pode estar fora, ser um correlato da sensibilidade ou não.
  5. E quando kant afirma a impossibilidade de existência do númeno.
  6. Idealismo dogmático e idealismo céptico – uma confusão de kant
  7. O objecto transcendental que ora é númeno ora deixa de ser.
  8. Não há dois espaços, mas um só, na doutrina de kant

Colocar em causa filósofos consagrados como Kant, em certos aspectos do seu pensamento, não é, necessariamente, negar o brilhantismo da arquitectónica de pensamento que estruturaram laboriosamente. Não existe nenhuma obra filosófica suficientemente extensa de um pensador que não apresente, num ou noutro ponto, essencial ou secundário, uma incoerência, um paralogismo, uma ambiguidade.

1. Contradições sobre o númeno e outros erros teóricos de Kant

Quem disser que Kant não se contradiz na "Crítica da Razão Pura" não conseguiu penetrar na floresta do seu sistema ontognosiológico e aperceber-se de que o pensamento kantiano sofre fracturas por não ter um centro de gravidade único.  

O NÚMENO É A COISA EM SI

Um primeiro ponto a assentar na interpretação de Kant: númeno é o mesmo que coisa em si.

«O nosso entendimento recebe, deste modo, uma ampliação negativa, porquanto não é limitado pela sensibilidade, antes limita a sensibilidade, em virtude de denominar os númenos as coisas em si (não consideradas como fenómenos).» ».(Kant, Crítica da Razão Pura, Fundação Calouste Gulbenkian, pag 271).

«O conceito de um númeno, isto é, de uma coisa que não deve ser pensada como objecto dos sentidos, mas como coisa em si (exclusivamente por um entendimento puro), não é contraditório, pois não se pode afirmar que a sensibilidade seja a única forma possível de intuição. Além disso, este conceito é necessário para não alargar a intuição sensível até às coisas em si e para limitar, portanto, a validade objectiva do conhecimento sensível (pois as coisas restantes, que a intuição sensível não atinge, se chamam por isso mesmo númenos, para indicar que os conhecimentos sensíveis não podem estender o seu domínio sobre tudo o que o pensamento pensa). Mas em definitivo não é possível compreender a possibilidade de tais númenos e o que se estende para além da esfera dos fenómenos é (para nós) vazio; quer dizer, temos um entendimento que, problematicamente, se estende para além dos fenómenos, mas não temos nenhuma intuição, nem sequer o conceito de uma intuição possível, pelo meio do qual nos sejam dados objectos fora do campo da sensibilidade e assim o entendimento possa ser usado assertoricamente para além da sensibilidade.»

(Kant, Crítica da Razão Pura, Fundação Calouste Gulbenkian, pag 270; o bold é de nossa autoria).

Assim o entendimento, denominado, nesta vertente idealizadora do númeno, razão noutras partes da CRP, pensa o númeno

Note-se que o númeno é uma coisa, não um conceito. Logo essa coisa há-de ter, na espacialidade ideal abstracta, um lugar: dentro de nós, fora de nós ou fora e dentro em simultâneo. As noções de dentro-fora e limite entre dentro e fora são categorias do pensamento e não apenas da sensibilidade. Algo que não está em lugar nenhum é algo que está fora, idealmente pensando.

Kant admite o sujeito enquanto númeno – e aqui númeno adquire um sentido de objecto interno ao espírito humano – no que se refere à causalidade da acção moral:

«Pelo seu carácter inteligível porém (embora na verdade dele só possamos ter o conceito geral) teria esse mesmo sujeito de estar liberto de qualquer influência da sensibilidade e de toda a determinação por fenómenos; e como nele, enquanto númeno, nenhuma mudança acontece que exija uma mudança dinâmica de tempo, não se encontrando nele, portanto, qualquer ligação com fenómenos enquanto causas, este ser activo seria, nas suas acções, independente e livre de qualquer necessidade natural como a que se encontra unicamente no mundo sensível.»

(Kant, Crítica da Razão Pura, Fundação Calouste Gulbenkian, pag 468).


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