A história do Divã

2606 palavras 11 páginas
A história, a simbologia e a contemporaneidade do divã, móvel emblemático do ambiente psicanalítico com todos os seus significados
"Meu eu interior derreteu-se, logo que me coloquei no sofá velho, esfarrapado. Como o meu corpo afundou no macio de algodão, a minha alma desmoronou com ela, as lágrimas encheram meus olhos. Não teria sido o mesmo se eu estivesse sentado em uma cadeira. Qualquer coisa que suporta minhas costas reforça minha resistência."
Essa ode ao divã – peça irremovível do cenário psicanalítico que nele persiste mesmo quando nele não está presente – foi entoada por um paciente, conforme descrito por Sebnem Senyener, jornalista e novelista turca, em seu artigo “How the divan became the couch?“. Revela também o papel desse
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Os turcos levaram a moda a Europa que lá se fixou onde começou a recobrir sofás, e assim – a exemplo do que ocorreu com o Conselho – tomar-lhe a “identidade”. Sofá virou divã.
Mas até Madame Benvenisti presentear Freud com um divã azul, a peça era apenas elemento de decoração. No consultório do psicanalista foi muito mais do que isso. De novo Gay: “O famoso divã constituía por si só um espetáculo, amontoado de almofadas, com um tapete aos pés para uso dos pacientes, caso sentissem frio e coberto por um tapete persa, um Shiraz.” A elegância e tranquilidade aparentes que convidavam o paciente a deitar-se e a divagar por sua história não traduzia a tempestade emocional que poderia assolar o analisando. Recostado em seu leito, de costas para o analista, com vistas para o teto – metáfora do que pode ser impeditivo ou do que pode ser rompido – o consulente se ajusta a um espaço que já foi comparado ao leito de Procusto, o personagem da mitologia grega que oferecia repouso aos viajantes. Seria um belo anfitrião não tivesse ele o hábito de amputar os membros daqueles que não se ajustavam às medidas da cama ou esticar os que não a preenchessem por inteiro.
O divã do analista, em verdade, é tanto pró como anti-procustiano. Procusto, que significa “o esticador”, mantinha-se intolerante às diferenças imanentes entre as pessoas e procurava igualá-las cortando ou estendendo seus corpos, tendo por medida seu leito, um leito que

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