Análise do poema "O que há em mim é sobretudo cansaço"

934 palavras 4 páginas
O poema que vamos analisar de seguida insere-se na 3ª Fase da poesia de Álvaro de Campos - a fase do pessimismo, da abulia, do tédio e da angústia existencial. O tema do poema é, portanto, o cansaço do sujeito poético face à vida, face à realidade em que vive.
O poema pode ser dividido em quatro partes lógicas (correspondentes às quatro estrofes). Na primeira estrofe (primeira parte lógica), o sujeito poético refere que se sente cansado com o que o rodeia. A causa do seu cansaço não é isto ou aquilo, nem ter feito tudo ou não ter feito nada, ele sente-se simplesmente cansado, no sentido literal. Contrariamente ao que referiu na primeira parte do poema, na segunda estrofe (segunda parte lógica do poema), o “eu” indica as razões do seu
…exibir mais conteúdo…

Para as outras pessoas (os que amam o infinito, os que desejam o impossível e os que nada querem) há algo que as faz viver e sonhar de forma equilibrada (“a média entre tudo e nada”). Para o sujeito é bem diferente pois o facto de não ser compreendido e de não atingir os seus desejos traduz-se num “supremíssimo cansaço/ Íssimo, íssimo, íssimo, / Cansaço...” (vv.28 a 30). O poeta sente, com felicidade, um infecundo cansaço, pois encontra uma razão para tal fraqueza – a incapacidade das realizações.
O poema apresenta um ritmo lento, ausência de rima (verso livre), irregularidade de versos por estrofe e aliteração em “s” (“Essas coisas todas” (v.9)).
As figuras de estilo presentes são a repetição (utilização frequente do substantivo “cansaço” para transmitir também esse sentimento ao leitor), a anáfora (“Há sem dúvida quem (…) / Há sem dúvida quem (…) / Há sem dúvida quem (…)” (vv.14 a 16)); “Porque (…) / Porque (…) / Porque” (…) (vv.18 a 20) e “Para eles (…) / Para eles (…) / Para eles” (vv.23 a 25)), a hipérbole (utilização do grau superlativo absoluto sintético para marcar o exagero) e a antítese (“infinitamente o finito” (v.18); “impossivelmente o possível” (v.19); “média entre tudo e nada” (v.25) – podem mesmo ser considerados oxímoros). É de referir a presença de verbos no presente do indicativo (“amo” (v.18); “desejo” (v.19)) e no presente do conjuntivo (“ame” (v.14), “deseje” (v.15)) e o predomínio de orações coordenadas

Relacionados

  • Antologia poética - modernismo
    4157 palavras | 17 páginas
  • senhora trabalho
    9033 palavras | 37 páginas
  • Transgeracionalidade na psicanalise
    8672 palavras | 35 páginas
  • Animação sociocultural
    4559 palavras | 19 páginas
  • EXERCÍCIO DE ELABORAÇÃO DE UM PLANO MUNICIPAL DE TURISMO – RAPOSOS/MG
    17114 palavras | 69 páginas
  • Tcc criatividade em sala de aula
    16634 palavras | 67 páginas
  • Métodos Redação
    15869 palavras | 64 páginas
  • A aquisição da lingua brasileira de sinais (libras) pela familia do surdo
    16685 palavras | 67 páginas