O problema do mal em hannah arendt por nádia souki

7889 palavras 32 páginas
O problema do mal em Hannah Arendt Nádia Souki*

Resumo: Nesta reflexão serão apresentados três momentos paradigmáticos da evolução na concepção de mal na obra de Hannah Arendt. Em um primeiro momento, ela se refere ao mal radical” em Origens do Totalitarismo (1951). No segundo, ela inaugura o termo balidade do mal”, no contexto do julgamento do criminoso de guerra Adolf Eichmann em Jerusalém (1963), e, no último, retoma a concepção de “banalidade do mal”, articulando-a com a de “vazio de pensamento”, em A vida do Espírito (1975). Serão examinados o nascimento do termo, seu contexto histórico, suas implicações ao nível político e a polêmica levantada em torno de sua originalidade. Finalmemente, avalio a atualidade das formulações de
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Arendt trata com especifidade dessa questão, tratando-a em abordagens distintas mas interligadas, de modo a configurar uma espécie de desenvolvimento do conceito. Os momentos constitutivos desse processo estariam presentes em Origens do totalitarismo (1951), em Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal (1963) e em A vida do espírito: o pensar, o querer, o julgar (1975). Portanto, ela persiste nessa pergunta e nessa 2 ARENDT. Origens do totalitarismo. Trad.: Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p.510.

reflexão, no curso de 24 anos, sempre renovando e ampliando sua posição. Examinemos, então, cada um desses momentos. As linhas de um pensamento A primeira vez que Hannah Arendt refere-se ao problema do mal é em 1951 na segunda edição revisada de As Origens do Totalitarismo, na qual afirma: É inerente a toda nossa tradição filosófica que não possamos conceber um “mal radical”, e isso se aplica tanto à teologia cristã, que concedeu ao próprio Diabo uma origem celestial, como a Kant, o único filósofo que, pela denominação que lhe deu, ao menos deve ter suspeitado de que este mal existia, embora logo o racionalizasse no conceito de um “rancor pervertido” que podia ser explicado por motivos compreensíveis.3 A expressão ‘mal radical’ remete a Kant, quem a introduziu em sua obra A religião dentro dos limites da simples razão para referir-se a uma propensão da vontade a desviarse dos imperativos morais

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