Aristóteles para biólogos



 

Profa Luzia Marta Bellini
Departamento de Fundamentos da Educação Universidade Estadual de Maringá

 

Introdução:

O que têm em comum Aristóteles e os estudantes de biologia? Como pensar Aristóteles "conversando" com biólogos? É raro um estudante de biologia buscar em uma biblioteca alguma obra de Aristóteles, mesmo que ele tenha ouvido falar que as primeiras contribuições para a classificação animal tenham sido feitas por esse filósofo nos 12 últimos anos de sua vida. Afinal, deve pensar o estudante, as primeiras classificações biológicas, de fato, devemos a Lineu, no século XVIII.

No entanto, não é bem assim. A leitura de Aristóteles, como a de Platão pode ser uma instigante tarefa para os biólogos em formação. Se pensarmos o que levou esses filósofos à procura de como se dá o conhecimento, de como conhecemos, vamos admirar mais ainda o espírito inquieto e perspicaz dos gregos antigos que são, de uma forma ou outra, a herança que temos para pensar o conhecimento de nossas áreas.

O que dizer de Demócrito, por exemplo, que desenvolveu a teoria sobre a natureza chamada atomismo? Nesta teoria os seres surgem por composição dos átomos, que, em grego, significa a menor partícula das coisas, a parte que não pode mais ser dividida, cujas formas são redondas, lisas, rugosas, pontiagudas e se combinam de acordo com essas diferenças. Como os átomos são invisíveis para a percepção, somente podemos conhecê-los pelo pensamento (Chauí, 1999). Brilhante Demócrito! Aí, temos um instigante caminho para estudar a teoria do conhecimento.

Como Demócrito chegou a esta teoria? O que é pensamento para ele? São questões importantes também para todos aqueles que se dispõem a estudar as ciências naturais.

Nesse sentido, para apresentar Aristóteles a uma comunidade de biólogos como esta, de estudantes de biologia, mestrandos e doutorandos do Programa de Ecologia da Universidade Estadual de Maringá, podemos mudar a perspectiva de interpretação de Aristóteles. Vamos nos referir ao Aristóteles (384- 322 a.C.) problema mais geral que encontramos em todos os domínios das ciências: "determinar o papel da experiência e a contribuição das construções operatórias do sujeito na elaboração dos conhecimentos" (Piaget, Garcia, 1979). Quero dizer com isso que nossa preocupação é pensar que tipo de conhecimento é a biologia e pensar o pensamento dessa ciência e, até mesmo, quais são os instrumentos para o pensamento do estudante de biologia.

Para os gregos conhecer como se dava o conhecimento era um problema.

Para conhecer basta a percepção? O é pensar? Quais são as fontes do conhecimento? Os conhecimentos provêm das sensações? Das percepções? Da linguagem? Do raciocínio? Para Aristóteles (Chauí, idem, p.112) havia "sete formas ou graus do conhecimento: sensação, percepção, imaginação, memória, raciocínio e intuição". Essas seriam as fontes do conhecimento; o conhecimento cresceria em um continuo da sensação para a intuição, último grau ou o ato de pensamento puro. Não haveria ruptura entre esses graus, entre o conhecimento sensível e o pensamento propriamente dito; o conhecimento seria formado por acumulação de dados e informações. Como podemos notar, parece-nos que Aristóteles se aproxima muito daquilo que, nós, biólogos, pensamos do ato de conhecer.

Vejamos Platão. Para Platão a fonte do conhecimento pode ser vista no exemplo da matemática: nada na matemática devemos aos órgãos do sentido. O conhecimento matemático não necessita das sensações, nem de experimentação, é um conhecimento que depende do raciocínio, forma ou grau superior que permite o conhecimento. "O raciocínio treina e exercita o nosso pensamento, preparando-o para uma purificação intelectual que lhe permitirá alcançar uma intuição das idéias ou das essências que formam a realidade ou que constituem o Ser" (Chauí, idem, p.112).

Necessário compreender aqui que estamos diante de duas posições epistemológicas antagônicas: o empirismo e o racionalismo. No século XX, Jean Piaget deixa mais claras essas duas posições epistemológicas quando discute as epistemologias da matemática, da física e da biologia. Por ora, interessa-nos descobrir um pouco da história do nascimento da posição de Aristóteles e relacioná-la à biologia.

Enquanto Aristóteles distinguia sete graus do conhecimento que formariam o conhecimento em uma sucessão e acumulação de conhecimentos, do sensível ao pensamento intelectual, Platão distinguia quatro graus de conhecimento, do inferior ao superior: crença, opinião, raciocínio e intuição intelectual (Chauí, idem, p.112). Distingue aparência e essência do conhecimento. Crença e opinião são conhecimentos ilusórios, são conhecimentos das aparências, já raciocínio e intuição são graus superiores do conhecimento, são graus que permitem ao homem alcançar as idéias ou as essências; são os atos de conhecimento, a essência é a verdade das coisas ii O mito da caverna elaborado por Platão apresenta os homens prisioneiros da caverna, isto é, das aparências, das sombras, dos conhecimentos ilusórios, as crenças e opiniões. Os homens somente se libertam das aparências quando alcançam o raciocínio e a intuição das idéias ou das essências.

 


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