Estudo dos prejuízos cognitivos na dependência do álcool

Enviado por Ronaldo Laranjeira


RESUMO

O presente trabalho objetiva verificar se há alterações na área de percepção visual e na memória imediata em 152 participantes masculinos com o diagnóstico de alcoolismo. Para a avaliação neurocognitiva foi utilizado o teste Figuras Complexas de Rey, aplicado em dois momentos, com um intervalo de três meses entre os mesmos. Aplicou-se uma única vez o SADD, objetivando avaliar a gravidade da dependência do álcool. Os resultados encontrados no teste Figuras Complexas de Rey, no que tange à memória, foram significativos (p=0,0001). Os resultados obtidos no SADD mostram que 72% dos participantes apresentaram dependência grave e 28% moderada. Dentre os participantes com dependência grave, houveram diferenças significativas quanto à memória (p=0,0001). No que tange à manutenção da abstinência, 66,3% dos sujeitos mantiveram-se abstinentes, e 33,7% recaíram. Nos abstinentes, encontraram-se resultados significativos em relação às duas funções cognitivas, percepção visual e memória. Aqueles que não mantiveram-se abstinentes, apresentaram melhoras quanto à memória (p=0,02).

Palavras chave: Abstinência, Dependência alcoólica, Grau de dependência, Memória, Prejuízos cognitivos.

The Cognitive Impairment In Alcohol Dependence Abstract: The objective of the present work is verify if there are changes on visual perception and in the immediate memory, in a sample of 152 masculine inpatients, with the alcoholism diagnostic. For the neurocognitive valuation was used the test Figuras Complexas de Rey, applyed in two moments, between three months.

Was applyed once the SADD, to avalue the dependence gravity. The results of the test Figuras Complexas de Rey, in the memory variable, was significant (p=.0001). The results obtained on the SADD, showed that 72% of the patients had serious dependence and 28% had moderate. The serious ones, on memory variable, presented signicant diferences (p=.0001). In relation of the maintenance of abstinence, 66,3% keeped abstinence and 33,7% falled back. In the abstinence group, were found significat results in both variable, copy and memory. The patients that didn’t keep abstinence had significant results on memory variable (p=.25).

Key words: Abstinence, Alcohol dependence, Cognitive impairment, Dependence Level, Memory.

O uso crônico de álcool é freqüentemente associado à prejuízos nas áreas motora e cognitiva, assim como, têm-se demonstrado que este uso provoca alterações no desempenho de determinadas funções cerebrais (Brown, Tapert, & Brown, 2001; Zlotnick & Agnew, 1997).

A avaliação de habilidades cognitivas em alcoolistas tem interessado pesquisadores clínicos por causa de uma aparente especificidade de prejuízo, reversibilidade ou disfunção com abstinência, e possíveis relações com o funcionamento psicossocial (Ackermann, Mann, Gunther, & Stetter, 1999).

A prevalência e heterogeneidade do prejuízo cognitivo, observado em alcoolistas e outras desordens de uso de substância, sugerem que o déficit detectado cedo pode ser clinicamente relevante (Zlotnick & Agnew, 1997; Swstzwelder, Pyapali, & Turner, 1999). A avaliação de prejuízos neuropsicológicos nesta população parece ser útil para as combinações individuais das demandas cognitivas de intervenção, para informar as expectativas e estratégias que provêm do tratamento e para determinar a necessidade de reforço cognitivo (Brown, Tapert, & Brown, 2001).

As mudanças cognitivas em alcoolistas estão relacionadas com o grau de decréscimo no uso de álcool, e que se isso não acontece, há um decréscimo continuo na qualidade das funções cognitivas (Swstzwelder, Pyapali, & Turner, 1999). Quanto ao período de abstinência necessário para uma recuperação significativa, supõe-se que esta já ocorra nas primeiras semanas da abstinência (Ackermann, Mann, Gunther, & Stetter, 1999), e a mesma vai variar de acordo com severidade e a duração dos sintomas de abstinência.

A principal área de cognição que necessita de uma avaliação mais padronizada e abrangente é a memória, sendo que esta consiste no significado que cada organismo registra frente a exposição à eventos ou experiências (Lezak, 1995). As atividades mentais que as pessoas geralmente chamam de memória incluem uma variedade de funções, que em pessoas organicamente saudáveis, operam de forma mais ou menos eficiente (Lezak, 1995).

A memória em indivíduos com a síndrome da dependência alcoólica, freqüentemente se apresenta prejudicada (Arias, Santin, & Rubio, 2000; Langlais & Ciccia, 2000; Pfefferbaum, Sullivan, & Rosenbloon, 2000). Mas assim como as outras funções cognitivas (Ackermann, Mann, Gunther, & Stetter, 1999), tende a melhorar já nas primeiras semanas de abstinência.

Entretanto, isto pode ser diferente, e pode ocorrer um estabelecimento permanente destes déficts. Este é o caso, quando se instala a síndrome de Korsakoff. Esta se caracteriza por perdas significativas na memória anterógada, isto é, inabilidade em lembrar novas informações por mais de alguns segundos, assim como uma deficiência na abstração e na capacidade de resolução de problemas (Pfefferbaum, Sullivan, & Rosenbloon, 2000). Esta síndrome esta relacionada a deficiência em uma enzima que metaboliza a tiamina (vitamina B) em pacientes alcoólicos (Arias, Santin, & Rubio, 2000; Langlais & Ciccia, 2000). Outra patologia que também é resultado de um uso prolongado de álcool é a demência alcoólica. Estes pacientes apresentam comprometimento na realização de testes neuropsicológicos e há evidências, através de exames de tomografia computadorizada, que existe uma retração cortical. A reversão desta retração cortical pode ocorrer durante um período longo de abstinência, o que sugere que a perda neuronal não é o único fator responsável pela atrofia cerebral alcoólica (Yudofsky & Hales, 1996).

De acordo com Bates (1997), mais da metade dos indivíduos que apresentam-se para o tratamento de alcoolismo demonstram de leve a severo déficits no raciocínio abstrato, funções executivas, habilidades visoespaciais, novos aprendizados e memória (Marlatt, Blume, & Schmaling, 2000). E estudos de neuroimagem têm confirmado que a disfunção cerebral ligada ao álcool é reversível em muitas pessoas, seguido um tempo depois da abstinência do álcool (Brown, Tapert, & Brown, 2001). No entanto, existem substanciais diferenças individuais (Brown & Tapert, 2000), dependendo da habilidade neurocognitiva específica que está prejudicada, e da extensão do prejuízo e da velocidade da recuperação (Hohmann, Savage, & Candon, 2000; Pfefferbaum, Sullivan, & Rosenbloon, 2000).

A utilização da testagem neurocognitiva neste momento, pode auxiliar a escolha apropriada do tratamento específico para cada paciente com diferentes prejuízos cognitivos. Isto pode auxiliar também na localização do estágio de tratamento em que o paciente se encontra. Primeiramente deve-se esperar que os sintomas agudos da síndrome de abstinência tenham cessado por completo.

Depois, inicia-se uma estimulação cognitiva para acelerar a completa recuperação, salvo nos casos de comprometimento e prejuízos mais graves (Evert & Oscar-Berman, 1995).

Dentro deste contexto, objetiva-se avaliar as alterações no desempenho da memória imediata de alcoolistas ao longo de três meses, verificando se há relação entre os prejuízos na memória imediata e o grau de severidade da dependência alcoólica.

 


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