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Implante Autólogo Ovariano no Omento Maior – Estudo Experimental (página 2)

Lucyr J. Antunes

Com relação aos resultados obtidos no esfregaço vaginal, no Grupo I (controle) as ratas exibiram ciclos vaginais com seqüência regular das fases (diestro, proestro, estro e metaestro), tanto no terceiro quanto no sexto mes pós-operatório, com produção normal de hormônios ovarianos.

No Grupo II (ooforectomia bilateral), todos os animais permaneceram em diestro durante 14 dias consecutivos, no terceiro e sexto mes pós-operatório. As ratas deste grupo foram consideradas como não produtoras de hormônio ovariano.

No Grupo III (implante autólogo de ovário íntegro), os exames citológicos dos esfregaços vaginais de onze ratas mostraram os mesmos resultados observados no Grupo II. A produção hormonal ovariana dessas ratas também foi considerada inexistente. Entretanto, outras três ratas apresentaram ciclos estrais incompletos, sugerindo produção ovariana deficiente. Apenas uma rata voltou a ciclar normalmente após o 6º mês pós-operatório.

No Grupo IV (implante autólogo de ovário fatiado), apenas três ratas não ciclaram; oito animais tiveram padrão citológico compatível com estro, embora a seqüência das fases não tenha sido típica, e quatro ratas tiveram ciclos estrais normais. Este grupo caracterizou-se por produção hormonal deficiente em metade dos animais, porém, cerca de 27% das ratas mostraram padrão citológico vaginal compatível com função ovariana normal.

Ao exame macroscópico dos ovários implantados, observou-se que no Grupo III houve preservação da parte externa do ovário e ausência de fibrose em 10 ratas (Figura 1a). Nas outras cinco, havia sinais de fibrose no local de implantação ovariana no omento maior.

No Grupo IV, 14 implantes apresentavam arquitetura aparentemente normal e sem fibrose ou reações aos fios cirúrgicos, bem como omento maior de aspecto habitual (Figura 1b). Apenas em uma rata houve sinais macroscópicos de fibrose nos ovários implantados. O restante da cavidade abdominal, em todos os grupos, apresentou-se normal.

O estudo histológico realizado no sexto mês pós-operatório mostrou que, no Grupo III, dez animais mantiveram arquitetura histológica dos implantes ovarianos na forma íntegra semelhante ao grupo controle, com ausência de infiltrados inflamatórios, degenerações e necroses (Figura 2a). Angiogênese e diferenciação dos folículos em vários estádios de maturação também foram observadas. Entretanto, as outras cinco ratas apresentaram sinais de degeneração e fibrose em seus ovários. No Grupo IV, 14 ratas mantiveram os ovários auto-implantados fatiados com histoarquitetura preservada, além de numerosos folículos em diferentes fases de maturação e angiogênese mais exuberante em relação ao Grupo III (Figura 2b). A degeneração ovariana ocorreu em apenas um animal do Grupo IV.

Com base nos achados dos ciclos estrais, da macroscopia e da histologia dos implantes ovarianos, as ratas que tiveram os ovários auto-implantados na forma fatiada apresentaram melhor preservação morfofuncional em relação àquelas que tiveram o implante realizado na forma íntegra (p<0,05).

Discussão

O objetivo principal do implante autólogo ovariano é preservar a função ovariana e minimizar os efeitos indesejáveis do climatério precoce em mulheres ooforectomizadas1-3. No presente trabalho, a avaliação da função ovariana teve como base o estudo da citologia do epitélio vaginal16, cuja interpretação seguiu a orientação de Long e Evans17. Estes autores também descreveram os tipos celulares e a duração de cada uma das quatro fases do ciclo estral em ratas.

Segundo a literatura, os enxertos ovarianos avasculares apresentam uma pequena taxa de viabilidade, acompanhada de quase ausência funcional24. Tal situação faz com que diversos autores optem pela anastomose microvascular para manter a viabilidade dos enxertos, porém, mesmo assim a produção hormonal mantém-se reduzida14,25. Por outro lado, no presente trabalho, apesar de um terço dos ovários íntegros terem mostrado sinais histológicos de degeneração, em todos os outros casos sua vitalidade foi mantida.

Portanto, a técnica de implante autólogo avascular no omento maior preserva a vitalidade dos ovários, principalmente se forem fatiados. Todavia, a função dos ovários íntegros não foi satisfatória. Já no caso dos ovários fatiados, obteve-se uma boa resposta endócrina em cerca de 27% das ratas.

Por meio de uma avaliação simples, investigou-se a melhor maneira de implantar os ovários: íntegra ou fatiada. Sabe-se que, para se obter uma avaliação mais rigorosa sobre a viabilidade dos implantes ovarianos, vários outros parâmetros deveriam ser analisados7,15,23. Porém, os padrões morfofuncionais observados foram suficientes para a comparação entre os grupos.

Concluindo, o implante autólogo ovariano no omento maior de ratas é tecnicamente simples e mantém os ovários viáveis. Entretanto, sob aspecto funcional, apenas os ovários fatiados tiveram atividade hormonal satisfatória. Os resultados preliminares desta investigação precisam ser complementados com estudos adicionais de dosagem hormonal e em outras espécies de animais antes de uma melhor afirmação sobre a eficácia dos implantes autólogos ovarianos.

ABSTRACT

Purpose: in order to maintain the gonadal function after oophorectomy, morphofunctional aspects of ovarian autotransplantation to the greater omentum and the best kind of implantation, intact or sliced, were investigated.

Methods: forty cycling female Wistar rats were randomly divided into four groups: Group I (n = 5), control – laparotomy; Group II (n = 5), bilateral oophorectomy; Group III (n = 10), intact ovarian autotransplantation to the greater omentum; and Group IV (n = 10), sliced ovarian autotransplantation, both to the greater omentum. The estrous cycle was investigated in the third and sixth postoperative months and histological studies of the ovarian implants were carried out considering: degeneration, fibrosis, inflammatory reaction, angiogenesis, follicular cysts, follicular development and corpora lutea.

Results: the animals of Group I preserved the cycling sequence. The rats of Group II remained in diestrus. In Group III, 11 rats remained in diestrus, three presented incomplete cycles and one showed normal cycle. In Group IV, three animals remained in diestrus, eight showed incomplete cycles and four showed normal cycles. The histology of the ovaries of Group III was normal in ten female rats; however, the ovaries of the other five animals presented degeneration. In Group IV, 14 female rats had ovaries with preserved morphological aspect, and signs of degeneration occurred in one.

Conclusions: the ovarian autotransplantation to the greater omentum is viable and the sliced form presented better morphofunctional aspects than the intact implants.

KEY WORDS: Ovary. Ovarian cycle. Autotransplantation, ovary. Colpocytology. Oophorectomy.

Agradecimentos

Ao Dr. Wagner Gomes Dias e Dra. Vivian Resende, por auxílios na coleta dos dados. Agradecemos também ao CNPq e FAPEMIG pelos auxílios financeiros que permitiram a realização deste trabalho.

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Luiz Ronaldo Alberti, Leonardo de Souza Vasconcellos, Juliano Ferreira Barbosa, Andy Petroianu
petroian[arroba]medicina.ufmg.br
Departamento de Cirurgia, Faculdade de Medicina
Universidade Federal de Minas Gerais
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