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4. Material e métodos

O experimento foi desenvolvido no Departamento de Zootecnia da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP - Campus de Pirassununga.

Foram utilizados quatro bovinos machos, em crescimento, da raça Holandesa. Os animais foram alimentados inicialmente com dieta basal e posteriormente com dieta aniônica (Tab. 1), oferecidas na forma de ração total. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso (um animal por bloco).

A escolha dos ingredientes da dieta foi feita em função da alta palatabilidade desses alimentos, visando atender às exigências do NRC (1989) para animais que consumiam a silagem de milho como volumoso.

O experimento teve duração total de 53 dias, divididos em duas fases. Até o 30º dia os animais receberam dieta basal e do 30º ao 53º dia, dieta aniônica. Nos primeiros 16 dias eles permaneceram em galpão experimental onde foram adaptados às dietas. No 17º dia foram transferidos para gaiolas metabólicas, onde permaneceram até o 30º dia, sendo os cinco últimos dias (26º até 30º dia) representados pela fase de colheita. Das fezes colhidas de cada indivíduo, pesadas e homogeneizadas, foram retiradas alíquotas de 10% do peso. Amostras de urina correspondentes a 5% do volume total foram retiradas, filtradas em gaze e acondicionadas em garrafas plásticas. Amostras das rações completas foram obtidas diariamente e as eventuais sobras foram pesadas e homogeneizadas, retirando-se alíquotas de 5%.

No 30º dia foram feitas determinações do pH urinário e do pH fecal. Para o pH urinário mensurou-se a primeira urina excretada após a alimentação da manhã. Para as fezes, foram utilizadas amostras de 20g de fezes frescas previamente homogeneizadas, acrescidas de 80ml de água deionizada. Após filtragem da amostra realizou-se a leitura. No último dia dessa fase, cinco horas após a alimentação da manhã, colheram-se amostras de sangue por punção da veia jugular. Amostras de sangue foram obtidas no 12º, 16º, 19º e 23º dia da fase de alimentação com dieta aniônica. Nos cinco últimos dias de experimento (49º ao 53º dia) retiraram-se alíquotas de fezes, urina, ração completa e sobras. No último dia foram feitas determinações de pH urinário e fecal.

As determinações de matéria seca e matéria mineral nas fezes, rações e sobras obedeceram as recomendações da AOAC (1990). O fósforo foi analisado colorimetricamente, seguindo metodologia proposta por Fiske & Subbarow (1925). As determinações de sódio e potássio foram feitas por fotometria de chama. O enxofre foi determinado por turbidimetria em sistema "flow injection analysis". O cálcio total foi analisado por espectrofotometria de absorção atômica. Para a análise do cálcio ionizado foram utilizados três kits da marca Laborlab. O primeiro para a determinação da quantidade de albumina presente no soro, o segundo para a da proteína total e o terceiro para a do cálcio.

5. Resultados e discussão

Quando do oferecimento da dieta basal, o pH da urina foi de 8,17, considerado dentro da faixa normal segundo Jardon (1995). Na dieta aniônica, o pH urinário decresceu significativamente (P<0,01), atingindo o valor de 5,56 (Tab. 2). Os resultados do presente estudo são semelhantes aos de Tauriainen et al. (1998), os quais observaram decréscimo no pH urinário com a queda do BCAD. Wilson et al. (1998), trabalhando com carneiros em crescimento, alimentados com dois níveis de BCAD (+250 mEq/kg MS; -100 mEq/kg MS), concluíram que o menor BCAD diminuiu o pH urinário. Animais alimentados com dietas contendo cloretos ou sulfatos têm o pH da urina mais ácido do que os de dietas sem essa suplementação. Os rins são importantes na manutenção do equilíbrio ácido-base; quando o pH sangüíneo tende a se tornar ácido, os rins respondem excretando íons amônio (NH4+), baixando o pH da urina. Esses resultados indicam que o acompanhamento do pH urinário pode ser indicativo da eficiência da dieta aniônica e conseqüentemente da acidose metabólica.

Não houve diferença (P>0,05) quanto aos valores de pH fecal entre animais alimentados com dieta basal e dieta aniônica. Takagi & Block (1991) também não encontraram diferenças no pH das fezes entre os carneiros alimentados com dieta-controle e dieta aniônica. Tais observações podem indicar ineficiência do pH fecal para a determinação dos possíveis efeitos do uso de uma dieta aniônica.

Não foi observada diferença (P>0,05) quanto à ingestão de matéria seca (IMS) em função do BCAD negativo (Tab. 3).

Oetzel & Barmore (1993) concluíram que a inclusão de sais aniônicos diminuiu significativamente a IMS, em experimento no qual o volumoso, constituído por feno de alfafa e capim, e o concentrado, com os sais aniônicos, foram oferecidos separadamente. Jackson & Hemken (1994) não encontraram diferenças significativas na IMS em função do uso de BCAD negativo, ao usarem ração completa. Os ingredientes utilizados no presente experimento (soja extrusada e milho) são veículos altamente palatáveis, sendo essa uma das possíveis razões para que não houvesse queda na ingestão de matéria seca com a suplementação de sulfato de amônia. Outro fator que favoreceu a estabilização do consumo diz respeito ao modo de oferecimento do alimento, isto é, concentrado e volumoso foram fornecidos na forma de ração total.

A Tab.3 apresenta o balanço de fósforo em função do uso da dieta aniônica. Não foram observadas diferenças entre as dietas (P>0,05).

Os resultados são semelhantes aos da literatura consultada. Takagi & Block (1991) não encontraram diferenças significativas no balanço de fósforo em função do uso de dieta aniônica para carneiros. Delaquis & Block (1995) observaram, para vacas em início de lactação, tendência de aumento na excreção urinária de fósforo (de 67,2 para 103,5 mg/dl), em função da diminuição do BCAD (de +258,1 para +55,5 mEq/kg de MS). Entretanto, essa tendência não foi suficiente para alterar o balanço desse macromineral. Fredeen et al. (1988), estudando o balanço de fósforo em vacas em lactação, observaram diminuição do fósforo fecal para o grupo alimentado com dieta aniônica. A concentração de fósforo na urina e no leite não foi alterada. Esses mesmos autores, quando trabalharam com vacas no pré-parto, não encontraram diferenças significativas para o balanço do fósforo. Beighle et al. (1997) encontraram maior excreção fecal de fósforo em função do uso de dieta aniônica (-11 mEq/100g de MS). Entretanto, nesse experimento os níveis dietéticos de fósforo foram de 0,25% ou menos, o que poderia interferir no metabolismo do fósforo.

Os resultados obtidos para o balanço de cálcio em função do balanço cátion-aniônico dietético são apresentados na Tab.4.

Não foram observadas diferenças significativas para a absorção aparente e para a retenção de cálcio com o decréscimo do BCAD (P>0,05). A excreção fecal de cálcio também não foi afetada, enquanto que a excreção urinária aumentou (P<0,05) com a utilização da dieta aniônica. Esse aumento é citado na literatura consultada. Takagi & Block (1991) observaram diminuição da retenção urinária do cálcio por encontrarem aumento significativo na excreção urinária, sendo a absorção aparente de cálcio similar entre os tratamentos. Wilson et al. (1998), trabalhando com carneiros em crescimento, observaram acréscimo de 0,11 para 0,75 gramas/dia de cálcio excretado na urina, quando compararam dieta aniônica com dieta-controle. Tucker et al. (1991), conduzindo experimentos com novilhas, relataram aumento linear na excreção urinária de cálcio com a inclusão do sal aniônico CaCl2. Segundo os autores, isso ocorreu em função do aumento da absorção de cálcio, ou de mobilização óssea, ou mesmo de redução da reabsorção renal de cálcio acompanhado da baixa do BCAD, ou da combinação de todos esses fatores.

Na Tab. 5 são apresentados os níveis de cálcio total e ionizado ao longo do tempo. O dia zero corresponde ao último dia da fase em que os animais foram alimentados com dieta basal.

Os níveis normais de Ca total (mg/dl) no plasma ou soro bovino estão entre 9,02 e 12,02 mg/dl (Swenson, 1984). Neste trabalho, inicialmente os animais apresentaram níveis abaixo do normal, mas com a suplementação do sal aniônico o nível de cálcio se normalizou. Para o cálcio total não se observou diferença quanto à concentração sérica entre os dias 0, 12 e 16 (P>0,05). Nos dias 19 e 23 a concentração sérica aumentou (P<0,05) em conseqüência da dieta fornecida. Para o cálcio ionizado não foram encontradas diferenças significativas ao longo do tempo, em função da baixa do BCAD. Block (1984), trabalhando com níveis de +330,5 e -128,5mEq por kg de MS, observou maior concentração plasmática nas vacas alimentadas com o BCAD negativo, durante o pré-parto. Tucker et al. (1990) observaram acréscimo no cálcio plasmático nos animais com suplementação aniônica, tanto para utilização de sais de cloro, quanto de enxofre. Os autores trabalharam com vacas em início de lactação e que receberam dieta aniônica por três semanas. Wang & Beede (1992), trabalhando com vacas, fizeram uso dos sais NH4Cl e (NH4)2SO4 por um período de 14 dias e encontraram maior concentração sérica de Ca ionizado para o grupo com dieta aniônica (4,68 contra 4,88 mg/dl), contudo, o Ca total não foi afetado (9,64 contra 9,56 mg/dl). O pouco tempo de oferecimento dos sais aniônicos pode ter sido a razão para o não aumento do cálcio total. No experimento conduzido por Oetzel et al. (1988), vacas holandesas foram suplementadas com sais de amônia [NH4Cl e (NH4)2SO4] 21 dias antes da data prevista para o parto, utilizando BCAD de +189 e -75 mEq/ kg de MS. No dia do parto as dietas contendo sais aniônicos resultaram em aumento na concentração do Ca ionizado no soro. O Ca total foi maior um dia antes e no dia do parto.

Pelos resultados obtidos vê-se que a suplementação com sais aniônicos (sulfatos ou cloretos) se faz efetiva com a finalidade de atingir hipercalcemia ou de manter a calcemia quando o BCAD chega a níveis negativos. Neste experimento foram necessários 19 dias para que fossem produzidas alterações em novilhos da raça Holandesa.

6. Conclusões

Os resultados permitiram concluir que dietas aniônicas conseguidas com (NH4)2SO4, utilizando veículos palatáveis e oferecidas na forma de ração completa, não interferiram na ingestão de matéria seca. Para ruminantes em crescimento e que não estejam em lactação, o BCAD negativo (-154,84 mEq/kg de MS) alterou o balanço de cálcio pelo aumento de sua excreção urinária, mas não alterou o balanço de fósforo. Dezenove dias consumindo dieta aniônica foram necessários para aumentar os níveis séricos de cálcio total. Para a avaliação da eficiência da dieta aniônica a mensuração do pH fecal mostrou-se ineficaz, e a do o pH urinário constitui-se em importante indicador.

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G.R. Del Claro1, M.A. Zanetti2, M.S.V. Salles2 - mzanetti[arroba]usp.br

1Mestrando - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP 2Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP Rua Duque de Caxias-Norte, 225 13630-000 - Pirassununga, SP.



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