Inibição da formação de abscesso abdominal em rato - mortalidade por sepse

Enviado por Andy Petroianu


 

RESUMO

RACIONAL: Atribui-se aos abscessos intra-abdominais e às aderências peritoniais a função de isolar os processos sépticos e proteger o organismo da bacteremia. Por outro lado, esses fenômenos também dificultam o afluxo de fatores imunitários e antibióticos para a região infectada.

OBJETIVO: Avaliar o efeito da prevenção de abscessos na sobrevida após peritonite bacteriana.

MÉTODOS: Foram estudados 30 ratos Wistar machos que receberam solução de fezes a 50% intra-abdominal e que foram distribuídos em três grupos (n = 10). Grupo 1: controle (solução de fezes); grupo 2: solução de fezes mais solução salina a 0,9%; grupo 3: solução de fezes mais carboximetilcelulose a 1%, para inibir a formação de aderências. Os três grupos foram divididos em dois subgrupos (n = 5): subgrupo A: nova laparotomia, após 4 dias, para inspeção da cavidade abdominal; e subgrupo B: acompanhamento durante 30 dias para avaliação da mortalidade e da causa de morte. A análise estatística utilizou o teste exato de Fisher.

RESULTADOS: O acréscimo de solução salina a 0,9% não aumentou a mortalidade do grupo. Entretanto, no grupo em que se acrescentou a solução de carboximetilcelulose, houve menor formação de abscessos, que também foram mais tênues e a mortalidade aumentou em relação ao grupo controle.

CONCLUSÃO: A inibição na formação de aderências peritoniais e de abscessos acompanha-se de maior mortalidade decorrente do processo séptico intra-abdominal generalizado.

Descritores: Abscesso abdominal. Peritonite. Aderências. Sepse. Carboximetilcelulose. Ratos.

ABSTRACT

BACKGROUND: Intra-abdominal abscesses and adhesions play important roles on isolation of a septic process and on organism protection against bacteremia. On the other hand, such phenomenon difficults the afflux of immune factors and antibiotics to the septic site. The purpose of the present study was to evaluate the effect of abscess inhibition on survival of abdominal sepsis.

METHODS: Thirty adult Wistar rats were submitted to intraperitoneal injection of 50% rat feces solution. The animals were divided into three groups (n = 10). Group 1: control – feces solution; group 2: feces solution plus 0.9% saline solution; and group 3: feces solution plus 1% carboxymethylcellulose to inhibit abdominal adhesions. The three groups were divided into two subgroups (n = 5). Subgroup A: relaparorotomy after 4 days and investigation of the abdominal cavity; and subgroup B: follow-up during 30 days to evaluate the mortality and its cause. The Fisher test was utilized for statistical analyses.

RESULTS: The injection of 0.9% saline solution did not increase the mortality of the rats. However, the mortality enhanced in the group that received carboxymethylcellulose comparing with control group. That group developed less adhesions and abscesses.

CONCLUSION: This study demonstrated that the reduction of abscess formation and of intraperitoneal adhesions increases the mortality due to abdominal septic disease.

Headings: Abdominal abscess. Peritonitis. Adhesions. Sepsis. Carboxymethylcellulose. Rats.

INTRODUÇÃO

Infecções intra-abdominais são acompanhadas por deposição de fibrina na cavidade abdominal. Esse fenômeno pode levar à formação de aderências e abscessos. Os abscessos abdominais são uma importante causa de morbimortalidade em pacientes com sepse, ao passo que as aderências são a principal causa de obstrução intestinal(21). Essas afecções podem ser causa de múltiplas operações e períodos de hospitalização prolongados.

LITERATURA

Os abscessos abdominais são geralmente polimicrobianos, sendo as bactérias gram-negativas e anaeróbias os agentes etiológicos em 60% a 70% dos casos. O Bacterioides fragilis é o microorganismo mais encontrado, seguido por cocos anaeróbios e Clostridium sp. O complexo polissacarídio capsular do B. fragilis, seu fator mais importante de agressividade, é por si um indutor de abscesso(14, 34). Outras bactérias freqüentemente encontradas nessas coleções sépticas são E. coli, Klebsiella sp, Proteus sp, P. aeruginosa, S. aureus e enterococos(3, 14, 32, 34).

Os agentes que predispõem à formação de abscessos são a diminuição dos mecanismos de defesa do hospedeiro, a presença de corpos estranhos, a obstrução à drenagem de líquidos peritoniais, a isquemia tecidual, áreas de necrose, hematomas e acúmulo de líquidos nos tecidos, além do trauma. A maior parte dos abscessos resulta de peritonite bacteriana secundária a uma fonte enterocólica. Os demais ocorrem a partir de infecções focais em vísceras (apendicite, colecistite, etc.), feridas penetrantes ou procedimentos cirúrgicos(14, 32, 34). Cerca de 74% dos abscessos intraperitoniais ou retroperitoniais não são associados a um órgão específico(34). Em geral, sua evolução ocorre durante várias semanas e as coleções podem ser encontradas em vários locais, como espaços subfrênicos, pelve, goteiras parietocólicas, cavidade retrogástrica e entre as alças intestinais(14, 32, 34).

Ainda há desacordo sobre a etiopatogenia do abscesso abdominal, quanto à participação microbiana e a da deficiência imunitária(10, 34). As aderências que circundam os abscessos têm como função confinar os patógenos a um espaço limitado e evitar a disseminação da infecção. Apesar de as aderências serem bem conhecidas como constituintes da terceira fase da inflamação, em conseqüência do afluxo de fibroblastos e formação de traves de fibrina, seu papel, principalmente nos abscessos, ainda não foi suficientemente estudado. Acredita-se que as aderências têm por função isolar o processo séptico e proteger o organismo de possível disseminação bacteriana. Por outro lado, essa fibrina também dificulta o afluxo de fatores imunitários e antibióticos para a região infectada. Considerando esses aspectos e o reduzido número de trabalhos da literatura voltados à relação entre fibrose, abscesso e defesa orgânica, cabe a proposta de novas investigações sobre o assunto.

Diversos procedimentos têm sido utilizados para evitar a formação de fibroses e aderências, tais como inibição da proliferação de fibroblastos, prevenção da formação de fibrina, remoção mecânica e enzimática de fibrina, uso de agentes fibrinolíticos, separação de superfícies serosas e inibição da proliferação fibroblástica com drogas anti-histamínicas e corticóides. Outros compostos continuam sendo pesquisados com vista à prevenção de aderências, entre os quais se destaca a carboximetilcelulose (CMC)(15, 22). Soluções de CMC podem ser preparadas em densidade e viscosidade semelhantes ao líquido sinovial. Seu alto peso molecular (350.000) e lenta absorção peritonial conferem-lhe a capacidade de separar as superfícies serosas. Essa propriedade persiste durante processos inflamatórios e de regeneração epitelial(8, 9, 17, 18, 28, 33).

Acredita-se que o mecanismo de ação da CMC seja por meio de fina membrana viscosa, que funciona como barreira durante o período de regeneração epitelial, prevenindo o contato entre as superfícies serosas das vísceras e do peritônio parietal, dificultando a formação de aderências(8, 9, 18, 22, 27). Outros mecanismos de ação da CMC são a diminuição da atividade fibroblástica e a prevenção da deposição de fibrina na superfície serosa(26), bem como a inibição da migração celular e de mediadores durante o período inflamatório(13, 26).

A proposta deste estudo foi avaliar o efeito da CMC na prevenção de abscesso abdominal e na sobrevida após peritonite bacteriana.

 


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