Levantamento florístico e fitosociológico do estrato
arbustivo – arbóreo de dois ambientes na Vila Santa Catarina,
Serra do Mel-Rn (Brasil)

  1. Resumo
  2. Introdução
  3. Revisão de literatura
  4. Material e métodos
  5. Resultados e discussão
  6. Conclusões
  7. Referências bibliográficas

RESUMO

Realizou-se um levantamento florístico e fitossociológico em dois ambientes de caatinga. Sendo o primeiro denominado de Ambiente I (trecho de mata de preservação do Ibama) e o segundo de Ambiente II (área antropizada usada para pastoreio e retirada de madeira para fins energéticos, etc.). Foram demarcadas 12 parcelas de 10 m x 20 m em cada ambiente. Foram encontradas 14 espécies, distribuídas em 9 famílias, no ambiente I, enquanto que no ambiente II cosntatou-se a ocorrència de 7 espécies pertencentes a 4 famílias.

Os parâmetros florísticos e fitossociológicos avaliados foram densidade, dominância, freqüência e ídices de valor de importância e de cobertura. Em ordem decrescente, Piptadenia moniliformis Benth. e Croton sonderianus Muell. Arg. apresentaram os maiores IVI e IVC no ambiente preservado. Mimosa hostilis Mart. e Piptadenia moniliformis detiveram os maiores valores para tais índices no ambiente antropizado. Piptadenia molniliformis destacou-se por apresentar IVI e IVC elevados nos dois ambientes.

1. INTRODUÇÃO

A vegetação nativa é responsável por diversas funções para a preservação dos ecossistemas, quais sejam, o controle sobre o regime de chuvas, proteção do solo, sobrevivência da fauna, regime das águas e variação do clima, além de fornecer matéria-prima, controlar a poluição atmosférica e servir de lazer.

A caatinga é o principal ecossistema existente na região Nordeste do Brasil, estendendo-se pelo domínio de climas semi-áridos, numa área equivalente a 6,83% do território nacional; ocupando a quase totalidade da área pertencente aos estados nordestinos e ao norte de Minas Gerais. É um bioma único, pois, apesar de estar localizado em área de clima semi-árido, apresenta grande variedade de paisagens, relativa riqueza biológica e endemismos. A ocorrência de secas estacionais e periódicas estabelece regimes intermitentes aos rios e deixa a vegetação sem folhas. A folhagem das plantas volta a brotar enverdecendo a paisagem nos curtos períodos de chuvas.

A rigidez do clima da região e principalmente a sua imprevisibilidade inviabilizam a maioria das tentativas de subsistência através da agricultura e pecuária sem que se tenha que recorrer ocasional e temporariamente a uma atividade extrativista. Atualmente, a caatinga encontra-se bastante alterada em função dos desmatamentos, queimadas e substituição de espécies vegetais nativas por cultivos e pastagens. Os desmatamentos e as queimadas são ainda práticas comuns no preparo da terra para a agropecuária que, além de destruírem a cobertura vegetal, prejudicam a manutenção de populações da fauna silvestre, a qualidade da água, o equilíbrio do clima e a qualidade do solo (IBAMA, 1991).

A análise de dados de satélite mostrou que, entre os anos de 1984 e 1990, a área antropizada no Nordeste passou de 34% para 53%, ao passo que a cobertura vegetal nativa remanescente foi reduzida de 65% para 47% de acordo com PEREIRA (2000). Isto tem sido apontado como resultado do alto índice de desmatamento e uso de tecnologias provocadoras de desgastes de solos, em decorrência da expansão da pequena produção agropecuária e da intensificação de atividades extrativistas (FETARN, 1995).

Considerando a extensão e a importância econômico-ecológica da caatinga para a população do Nordeste, bem como o nível de alteração a que o bioma já está submetido, justifica-se a preocupação com a biodiversidade desse ecossistema, tornando necessária a realização de estudos que forneçam subsídios para a conservação e o uso racional dos recursos naturais nele existentes (PEREIRA, 2000).

Para que se possa executar projetos de conservação, é necessário que se conheça o ecossistema onde se vai atuar, suas limitações e sua capacidade de recuperação e para tanto deve-se conhecer as composições florística e faunística, tanto em termos qualitativos como quantitativos, bem como as interdependências entre seus componentes.

Neste trabalho, estudou-se a composição florística do estrato arbustivo-arbóreo e o comportamento da estrutura fitossociológica de dois ambientes de caatinga submetidos a dois níveis de antropismo: (uma mata raleado-rebaixada para pastoreio e uma área não antropizada) visando a obter informações para futuras ações de conservação ambiental.

2. REVISÃO DE LITERATURA

A caatinga ocupa o espaço que compreende quase exatamente a área denominada "polígono das secas", ou seja, ocupa a quase totalidade da porção Nordeste do Brasil e o norte de Minas Gerais, perfazendo uma área total de aproximadamente 825.000 km2 (IBAMA, 1991).

A distribuição da vegetação no Nordeste do Brasil é profundamente influenciada pelo forte gradiente climático, que vai da úmida costa leste até o vasto sertão semi-árido. ANDRADE-LIMA (1981) definiu para o estado de Pernambuco quatro zonas fitogeográficas que certamente são válidas para os estados vizinhos de Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. A Zona Litoral compreende a estreita faixa de vegetação costeira, incluindo as restingas e os manguezais.

Para o interior, segue-se a Zona da Mata, que consiste das florestas pluviais e semidecíduas que se estendem ao longo da costa atlântica desde o sul do país até o estado da Paraíba. Manchas isoladas de florestas serranas ocorrem ainda no sertão, onde são conhecidas como "brejos". A Zona do Cerrado compreende ocorrências disjuntas desta formação savânica típica do Brasil Central em áreas de solos arenosos próximas à costa nordestina ou em planaltos isolados no interior do sertão. A Zona da Caatinga corresponde à formação xérica predominante no interior semi-árido e que se aproxima do litoral nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará.

O diagnóstico florestal do Rio Grande do Norte realizado pelo projeto PNUD/FAO/IBAMA (1993) informa que a caatinga compreende um número elevado de comunidades vegetais tipicamente compostas por espécies xerófilas possuindo um baixo nível de endemismo animal e bastante pobre em número de espécies. Na porção denominada sertão há uma fauna pobre e pouco numerosa, situação favorecida pelas condições edafoclimáticas da região e, mais ainda, pelo modelo de ocupação e exploração adotado desde o século XVI pelos seus colonizadores.

Neste diagnóstico há também a observação de que, nas comunidades vegetais naturais, é necessário que haja um grande número de indivíduos pertencentes às classes de tamanho inferiores, para que a sobrevivência dessas comunidades seja garantida.

Devido aos processos de sucessão naturais, vários indivíduos jovens não completarão o ciclo. A simples redução da superfície da área florestada poderá acarretar uma diminuição exponencial do número de espécies, como também alterar a dinâmica das populações de plantas, de modo a comprometer o processo de regeneração natural e, com isso, a sustentabilidade dos sistemas (PEREIRA, 2000). A comunidade vegetal não é um aglomerado de plantas, mas uma interação de espécies que, sob o efeito de um ambiente, estão continuamente buscando atingir o nível de utilização ótima do ecossistema (ALCÂNTARA NETO, 1998).

A caatinga possui uma certa resistência às perturbações antrópicas, como os processos de corte e de queima, sistematicamente aplicados em muitas áreas de seu domínio. Estudos têm revelado que a queima provoca redução drástica do volume de copa, bem como da densidade das espécies nas áreas assim exploradas, conforme Sanpaio & Salcedo, citados por LEITE (1999).

Diagnóstico sobre a cobertura florestal, os solos e as tendências de desertificação no semi-árido brasileiro aponta a pequena produção agropecuária como uma das causas (embora não seja a mais importante) de impactos ambientais negativos, tendo como origens o alto índice de desmatamento nas pequenas unidades produtivas, seguidos de uso de tecnologias provocadoras de desgastes de solos, além da pressão das famílias no uso de recursos florestais para finalidade diversas (FETARN, 1995).

Muito tem sido discutido sobre as causas da desertificação em todo o mundo. Atribui-se esse processo às formas inadequadas de manejo, à sobre-exploração dos recursos e às tentativas de introdução de modernos padrões tecnológicos para as populações rurais tradicionais (MMA, 1998).

É notório que a degradação paisagística rural resulta, além do avanço da fronteira agropecuária para atender a crescente demanda populacional por mais alimentos, também da exigência cada vez maior por habitação e energéticos florestais (carvão vegetal e lenha), esse ultimo componente para atender a industria (cerâmicas), o comércio (pizzarias, churrascarias e padarias) e o setor doméstico (residências, casas de farinha e olarias) (CAVALCANTE & LIMA, 2000).

No Nordeste brasileiro, a exploração florestal dentro do conjunto das atividades agropecuárias das propriedades rurais, de forma geral, é praticada com certa freqüência, sendo que essa atividade, principalmente nas pequenas e médias propriedades, está ligada à própria característica estacional das atividades agrícolas da região, ou seja, na época chuvosa, a maior parte da mão-de-obra disponível no meio rural está ocupada com tarefas relativas à agricultura; enquanto que no período seco as atividades ficam limitadas à pecuária extensiva, exploração florestal (principalmente retirada de lenha e fabricação de carvão), trabalhos em olarias, cerâmica, entre outras ocupações (IBAMA, 1991).

No Rio Grande do Norte, conforme o Ibama, a utilização das florestas tem objetivos múltiplos e delas se obtêm uma grande variedade de produtos e benefícios. Alguns destes entraram no mercado e são objetos de transações mais ou menos regulares, integrando a produção florestal comercial. Os produtos florestais comerciais mais importantes são a lenha, o carvão vegetal, as madeiras roliças para construção civil e toras para serrarias (ASSIS, 2001).

Não obstante a fragilidade natural do ecossistema, a caatinga possui uma certa resistência às perturbações antrópicas, como os processos de corte e de queima, sistematicamente aí aplicados (Sampaio & Salcedo, citados por LEITE (1999)). Estudos têm revelado que a queima provoca redução drástica do volume de copa, bem como da densidade das espécies presentes, enquanto que o simples corte afeta pouco a densidade das espécies nas áreas assim exploradas. No entanto, a relação entre os processos que ocorrem no habitat e a comunidade vegetal é reversível, de forma que a flora de uma determinada região é fruto de um processo de seleção natural.

Considerando-se esses fatos, nem todas as espécies de uma comunidade deverão responder de forma comum e uniforme a cada modificação do ambiente que ocupam.

MUELLER-DOMBOIS & ELLENBERG (1974) afirmam que as comunidades vegetais são usadas e se prestam com grande propriedade na identificação e definição dos limites de ecossistemas. A análise de vegetação é de grande importância para conhecimento de causas e efeitos ecológicos em uma determinada área, já que a vegetação, de acordo com MATTEUCCI & COLMA (1982), é o resultado da ação dos fatores ambientais sobre o conjunto interatuante das espécies que coabitam uma determinada área, refletindo o clima, as propriedades do solo, a disponibilidade de água, os fatores bióticos e os fatores antrópicos.

Conforme SAMPAIO et al. (1996), nenhum parâmetro fitossociológico isolado, fornece uma idéia ecológica clara da comunidade ou das populações vegetais. Em conjunto, podem caracterizar formações e suas subdivisões e suprir informações sobre estágios de desenvolvimento da comunidade e das populações, distribuição de recursos ambientais entre populações, possibilidades de utilização dos recursos vegetais, etc. A quantidade e qualidade dessas informações dependem dos parâmetros determinados e da extensão espacial e temporal dos estudos.

Através da aplicação de um método fitossociológico pode-se fazer uma avaliação momentânea da estrutura da vegetação, através da freqüência, densidade e dominância das espécies ocorrentes numa dada comunidade. A freqüência é dada pela probabilidade de se encontrar uma espécie numa unidade de amostragem e o seu valor estimado indica o número de vezes que a espécie ocorre, num dado número de amostras. A densidade é o número de indivíduos, de uma dada espécie, por unidade de área. A dominância é definida como a taxa de ocupação do ambiente pelos indivíduos de uma espécie. Em espécies florestais, esta ultima é representada pela área basal.

Com esses parâmetros calcula-se o índice de valor de importância, que revela, através dos pontos alcançados por uma espécie, sua posição sociológica na comunidade analisada MARTINS (1991).

Os estudos fitossociológicos, sob essa perspectiva, possibilitam a avaliação da estrutura e da composição da vegetação, permitindo a derivação de informações e inferências relacionadas com a dinâmica ecológica da comunidade analisada (RODRIGUES et al., 1989).

Entre os parâmetros fitossociológicos, os que melhor permitem distinguir entre formações vegetais e entre diferentes tipos fisionômicos são os relacionados ao porte dos indivíduos (altura da planta, diâmetro do caule, área basal e biomassa) e a densidade, além da identificação dos componentes da flora, principalmente as espécies mais importantes. As formações florestais atingem maiores alturas e diâmetros que as caatingas, os cerrados e os mangues. As diferenças entre matas costeiras úmidas, matas de brejos de altitude e matas de restinga são menos evidentes.

Em todos os casos, as diferenças ocorrem ao longo de gradientes, num continuo correspondente ao grau das limitações que caracterizam as formações. Nas formações florestais tropicais úmidas, sem maiores limitações de temperatura, água e nutrientes, a competição por luz determina o crescimento vertical e as maiores alturas das árvores vêm acompanhadas de maiores diâmetros de caule que, juntos, resultam em maiores volumes de madeira e biomassas (SAMPAIO et al., 1996).

O inicio de levantamentos quantitativos na caatinga deu-se a partir de uma série de inventários florestais realizados por Tavares et al., citados por PEREIRA (2000), que abrangeram áreas do sertão de Pernambuco, Vale do Jaguaribe, no Ceará, e bacia dos rios Piranhas e Açu, na Paraíba e no Rio Grande do Norte. Esses trabalhos tiveram como objetivos descrever e caracterizar as matas xerofíticas do Nordeste. Neles, utilizaram-se amostragens seletivas, as quais consistiam em distribuir as unidades amostrais em pontos que, segundo os autores, pareciam representar melhor a vegetação remanescente em cada uma das localidades estudadas. Outros pesquisadores também realizaram inventários florestais em áreas de caatinga para determinar o potencial madeireiro (PEREIRA, 2000).

As espécies mais abundantes na caatinga são o marmeleiro (Croton sonderianus Muell. Arg.), o mofumbo (Combretum leprosum Mart.), a catanduva (Piptadenia moniliformis Benth.), as catingueiras (Caesalpinia bracteosa Tul. e C. pyramidaalis Tul.), a jurema-preta (Mimosa hostilis Mart.) e o mororó (Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. Juntas, estas espécies, que são geralmente consideradas boas para lenha, representam 49% do volume total; e apenas o mororó e a jurema-preta como boas para estacas. Como espécies de madeira/lenha destacam-se as catingueiras (17,9%), a catanduva (11,8%), o marmeleiro (8,9%), a imburana – Commiphora leptophloeos Gillett (7,1%), o mofumbo e a jurema-preta (5,3%), conforme IBAMA/FAO (ASSIS, 2001).

LEITE (1999), estudando a estrutura fitossociológica do estrato arbustivo-arbóreo de dois ambientes (um conservado e um antropizado) ocorrentes no município de São João do Cariri-PB, encontrou as seguintes espécies mais freqüentes: Croton sonderianus (32,10%), Caesalpinia pyramidalis (25,03%), Jatropha molissima Muell. Arg. (20,88%) e Aspidosperma pyrifollium Mart. (17,73%).

Estudando a composição florística da vegetação de carrasco, Novo Oriente-CE, ARAÚJO et al. (1998) encontraram dentre as famílias com maior número de gêneros; Fabaceae, Caesalpiniaceae, Mimosaceae, Myrtaceae e Sapindaceae, sendo os gêneros que mais se destacaram em números de espécies Croton, Bauhinia, Solanum, Eugenia, Cordia e Senna.

PEREIRA (2000) realizou coletas no período de um ano e comparou uma área de reserva com duas áreas antropizadas (I e II), em São João do Cariri na Paraíba, obtendo similaridade florística entre elas de 58% e 32%, respectivamente entre a área de preservação e as áreas antropizadas (I e II), sendo a área I medianamente antropizada e a área II fortemente antropizada.

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Caracterização da área em estudo

O presente trabalho foi desenvolvido na Vila Santa Catarina, localizada no município de Serra do Mel–RN, em região pertencente ao Vale do Açu. A vila tem centro geográfico nas coordenadas 5º 10’ 12" de latitude Sul e 37º 01’ 46" de longitude Oeste Gr. e tem altitude média de 215 m a.n.m. O município de Serra do mel limita-se ao norte com o Oceano Atlântico e o município de Areia Branca, ao sul com os municípios de Açu e Carnaubais, a leste com os municípios de Porto do Mangue e Carnaubais, e a oeste com os municípios de Mossoró e Areia Branca (IDEMA,1999).

Neste município, que se localiza entre duas bacias hidrográficas, Apodi-Mossoró e Piranhas-Açu, há predominância do clima semi-árido, com períodos chuvosos variando de fevereiro a maio, precipitação pluviométrica média anual em torno de 600 mm, com máxima de 2.194,8 mm e mínima 33,0 mm; umidade média relativa do ar anual de 69% e temperatura média anual de 27,3o C. Aproximadamente 95% da área do município da Serra do Mel possui relevo plano (declividade < 3%) e o restante é suave ondulado (IDEMA, 1999).

A vegetação do município é do tipo caatinga hiperxerófila, com abundância de espécies de porte baixo e indivíduos espalhados.. Entre as espécies destacam-se a jurema-preta (Mimosa hostilis), mufumbo (Combretum leprosum), faveleiro (Cnidoscolus phyllanthus (Muell. Arg) Pax et K. Hoffm.), marmeleiro (Croton sonderianus), facheiro (Pilosocereus pachycladus Ritter subsp. pernambucoensis (Ritter) Zappi) e xique-xique (Pilosocereus gounellei (Weber) Byles et Rowley subsp. gounellei). A vegetação já se encontra bastante degradada devido à retirada ilegal de madeira de áreas de preservação do Ibama.

O município está situado em área de abrangência do Grupo Barreiras, de Idade Terciária, 30 milhões de anos, caracterizado por arenitos e siltitos com intercalações de argilas variadas, arenitos caulínicos e lateritas, que formam espessos solos inconsolidados, arenosos, de coloração avermelhada, sendo predominante o tipo Latossolo Vermelho Amarelo Eutrófico, de fertilidade média a alta, textura média, bem a extremamente drenado, relevo plano. Sua aptidão agrícola é restrita para lavouras e aptas para culturas de ciclo longo como algodão arbóreo, sisal, caju (cultura predominante) e coco. O sistema de manejo caracteriza-se por baixo, médio e alto nível tecnológico, podendo as práticas agrícolas estar condicionadas tanto ao trabalho braçal e à tração animal com implementos agrícolas simples, como a motomecanização (IDEMA,1999).

A hidrogeologia é caracterizada pelo Aqüífero Barreiras em arenitos finos e grosseiros, conglomerados, ou arenitos argilosos, caulínicos e ferruginosos, com níveis de cascalho, lateritas e argilas variadas de coloração amarela a avermelhada. Este aqüífero apresenta-se confinado, semiconfinado ou livre em algumas áreas. Os poços alimentados por este aqüífero têm capacidade de vazão variando entre 5 a 100 m3/h, com águas de excelente qualidade química, com baixos teores de sódio e podendo ser utilizadas praticamente para todos os fins (IDEMA,1999).

3.2. Coleta de dados

Inicialmente, buscou-se informação junto à população local a respeito do uso da vegetação e áreas de cultivo, para em seguida serem selecionados os ambientes objetos do estudo.

As unidades amostrais foram constituídas de parcelas permanentes medindo 10 m x 20 m, sendo 12 parcelas nas áreas de preservação e outras 12 nas áreas raleadas e rebaixadas (para o uso de criação de animais) distribuídas aleatoriamente.

Todos os indivíduos arbustivos e arbóreos presentes nas parcelas com circunferência à altura da base (CAB) maior ou igual a 10 cm, que foram consideradas adultas, foram identificados e etiquetados conforme LEITE (1999), tomando-se também dados referentes à altura do caule e altura total da árvore. O CAB foi medido ao nível do solo conforme recomendação de (RODAL et al., 1992).

Como altura do caule considerou-se a distância colo da planta até a inserção da primeira ramificação ou bifurcação, e a altura total a distância entre o colo e a extremidade apical da planta (LEITE, 1999).

Para a medida do CAB utilizou-se fita métrica e para as medidas de altura da árvore e altura do caule, três canos de PVC, que conectados somavam 9 m, com graduações de 10 cm.. As etiquetas de identificação das plantas foram chapas de alumínio (3 cm x 3 cm), confeccionadas a partir de latas de refrigerantes.

As etiquetas foram numeradas com lápis marcador conforme o seguinte modelo (IA = identificação do ambiente; IP = identificação da parcela; NP = identificação da planta):

IA

IP

NP

Amostras de cada espécie foram coletadas e herborizadas para fins de identificação, a qual foi realizada em comparação com o acervo do Herbário da ESAM.

Os cálculos foram efetuados com o auxílio do software MS Excel.

Para os táxons encontrados (espécies e famílias) calcularam-se os seguintes parâmetros fitossociológicos: densidade; freqüência, dominância, índices de valor de importância e índice de valor de cobertura, conforme RODAL et al. (1992).

Com o CAB calculou-se as classes de diâmetros dos caules a fim de se constatar a idade dos indivíduos, e conseqüentemente a exploração feita na região. As classes de diâmetros foram divididas em intervalos de 10 cm , para obter-se uma maior visão das áreas amostradas, uma vez que utilizando-se a metodologia usual, de intervalos de 3 em 3 cm fechado à esquerda e aberto à direita, não obteríamos um panorama satisfatório.

3.3. Determinação dos parâmetros

3.3.1. Densidade absoluta

Este parâmetro expressa o número de indivíduos de um táxon com relação a uma unidade de área e é dado por

DAt= nS/A,

onde DAt é densidade absoluta do táxon t, n o número de indivíduos do táxon t, S a área da parcela e A a área amostral total.

3.3.2 Densidade relativa (DRt)

A densidade relativa, que é expressa em porcentagem, é a relação entre o número de indivíduos de um determinado táxon (n) e o número de indivíduo de todos os táxons (N), representada por

.

3.3.3. Freqüência absoluta do táxon (FAt)

Este parâmetro expressa o percentual calculado considerando o número de parcelas em que determinado táxon ocorre (Pt) e o número total de parcelas amostradas (P), ou seja,

.

3.3.4. Freqüência relativa do táxon (FRt)

Esta freqüência é o valor percentual calculado para FAt de cada táxon em relação à freqüência total (FT) , que é o somatório de todos as FAt:

e ,

onde s é o número de táxons encontrados considerando todas as unidades amostrais.

3.3.5. Dominância absoluta do táxon (DoAt)

A dominância absoluta do táxon foi calculada com base na área basal, sendo utilizadas as seguintes fórmulas:

, e ,

onde p é o perímetro da base de cada indivíduo do táxon t, Gi área basal de cada indivíduo do táxon t, Gt a área basal total do táxon t, v o número de indivíduos do táxon t, S a área da parcela e A a área total de todas as parcelas.

3.3.6. Dominância relativa do táxon (DoRt)

Este parâmetro foi calculado através de

,

onde DoAt é a dominância absoluta do táxon t e DoT a dominância total considerando o somatório das DaAt de todos os táxons.

3.3.7. Índices de valor de cobertura (IVCt) e de valor de importância (IVIt)

O índice de valor de cobertura foi calculado como IVCt = DRt + DoRt e expressa a contribuição do táxon na cobertura vegetal do ambiente.

O índice de valor de importância, que teoricamente expressa a importância ecológica do táxon no ambiente, foi calculado como , ou seja, .

3.3.8. Índice de diversidade

A diversidade de uma comunidade (ou ambiente) está relacionada com a riqueza, isto é, o número de espécies de uma comunidade, e com a abundância, que representa a distribuição do número de indivíduos por espécie. Entre os índices de diversidade, o mais recomendado é o de Shannon-Wiener (ASSIS, 2001):

,

onde H’ é o índice de diversidade (ou entropia) do ambiente, ni é o número de indivíduos da espécie i e N o número total de indivíduos consideradas as espécies encontradas no ambiente.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Análise Florística dos Ambientes Estudados

4.1.1. Número de indivíduos inventariados

Neste trabalho de levantamento florístico e fitossociológico realizado em dois ambientes de caatinga (preservado e antropizado), foram encontrados 581 indivíduos com circunferência à altura da base (CAB) ³ 10 cm. Os mesmos foram considerados como pertencentes aos estratos arbóreo e arbustivo, enquanto que aqueles com CAB inferior a esse patamar foram considerados como parte da regeneração natural. O quadro 1 apresenta um resumo dos dados coletados.

QUADRO 1 – Resumo dos dados levantados na Vila Santa Catarina em dois ambientes. Serra do Mel-RN, 2002.

Ambientes

N° de Parcelas

Área total amostrada (ha)

N ° de indivíduos encontrados

N° de indivíduos por hectare

I

12

0,24

416

1.733

II

12

0,24

165

0.687

O ambiente I refere-se às áreas de caatinga em melhor estado de conservação e apresenta maior número de indivíduos pertencentes às categorias arbórea e arbustiva. O Ambiente II refere-se às áreas de caatinga mais antropizadas e possui menor número de indivíduos, em decorrência da degradação função da sua utilização pelos moradores.

4.1.2. Diversidade florística

Observa-se que a caatinga mais conservada (Ambiente I) apresenta maior diversidade do que a Caatinga antropizada (Ambiente II), uma vez que na primeira foram amostradas nove famílias e quatorze espécies botânicas (Quadro 2), enquanto que no ambiente II (antropizado), foram registradas apenas quatro famílias e sete espécies. Não foram encontradas cactáceas nas parcelas estudadas.

QUADRO 2 – Demonstrativo dos números de famílias e espécies ocorrentes nos dois ambientes inventariados. Serra do Mel-RN, 2002.

Ambiente I

Ambiente II

Ambiente I e II

Famílias

9

4

10

Espécies

14

7

17

No Quadro 3 observa-se que as famílias Mimosaceae e Euphorbiaceae apresentam-se com maior número de indivíduos nos dois ambientes. As famílias Boraginaceae, Burseraceae, Sterculiaceae e Malvaceae foram encontradas apenas no ambiente I (preservado), o que se deve possivelmente à antropização do ambiente II.

QUADRO 3 – Famílias e respectivas freqüências de indivíduos encontradas em dois ambientes da Vila Santa Catarina. Serra do Mel– RN, 2002.

Famílias

Ambiente I

Ambiente II

Ambientes I + II

Nºde indivíduos

%

Nºde indivíduos

%

Nºde indivíduos

%.

Mimosaceae

249

59,86

112

67,88

361

62,13

Euphorbiaceae

121

29,09

42

25,45

163

28,06

Combretaceae

2

0,48

-

-

2

0,34

Caesalpinioideae

9

2,16

10

6,06

19

3,27

Nyctaginaceae

25

6,01

-

-

25

4,30

Boraginaceae

1

0,24

-

-

1

0,17

Burseraceae

6

1,44

-

-

6

1,03

Sterculiaceae

2

0,48

-

-

2

0,34

Malvaceae

-

-

1

0,61

1

0,17

Não identificada

1

0,24

-

-

1

0,17

Total

416

100,00

165

100,00

581

100,00


 
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