Morfologia e função fagocitária de implante esplênico autógeno regenerado em ratos

Enviado por Andy Petroianu


 

RESUMO

Objetivo: O objetivo deste trabalho é analisar a regeneração morfológica de tecido esplênico auto-implantado em ratos Wistar, verificando a função fagocitária bacteriana de seus macrófagos.

Métodos: Utilizou-se um modelo experimental com ratos jovens e adultos, de ambos os sexos, submetidos a esplenectomia total combinada com auto-implante de fatias de toda a massa esplênica no omento maior. Dezesseis semanas após, os animais foram inoculados por via intravenosa com suspensão de Escherichia coli AB1157 e, após 20 minutos, foram mortos por dose letal de halotano, sendo submetidos a laparotomia para retirada dos auto-implantes esplênicos. A análise estatística foi realizada com o teste t de Student, com ênfase na comparação da massa de auto-implante esplênico regenerada entre animais jovens e adultos de ambos os sexos.

Resultados: Ocorreu regeneração do auto-implante esplênico em todos os animais. Machos jovens e fêmeas adultas apresentaram maior percentual de regeneração. Observou-se aspecto morfológico microscópico semelhante em todos os animais. O tecido esplênico regenerado mostrou as polpas vermelha e branca, com desarranjo arquitetural moderado, bem como folículos linfóides. Os vasos sangüíneos mostravam paredes preservadas, sem sinais de vasculite ou trombose. Foram encontrados macrófagos contendo grumos de bactérias, bem como macrófagos contendo pigmento de hemossiderina intracitoplasmáticos.

Conclusão: O auto-implante esplênico, no omento maior, em ratos, adquire a arquitetura macro e microscópica de um baço normal, de dimensão menor e preserva a função fagocitária bacteriana.

Descritores: Baço. Transplante Autólogo. Regeneração. Fagocitose. Esplenectomia.

ABSTRACT

Purpose: To analyze the morphologic regeneration of autotransplanted splenic tissue in Wistar rats and to determine the bacterial phagocytic function of their macrophages.

Methods: We utilized an experimental model including young and adult rats, of both sexes, submitted to total splenectomy combined with autotransplantation in the greater omentum of slices of the whole mass of spleen. Sixteen weeks later animals were intravenously inoculated with a suspension of Escherichia coli AB1157, and twenty minutes later killed with lethal dose of halothane and submitted to laparotomy for splenic autotransplants retrieval. Data were analyzed statistically by de Student-t test, with emphasis on the comparison of the extent level of autotransplanted splenic mass regeneration between young and adult animals of both sexes.

Results: There was regeneration of autotransplanted splenic tissue in all animals. Young males and adult females presented greater regeneration. A similar morphological aspect among all animals was observed, with splenic tissue showing red and white pulps with a moderate architectural disarrangement, as well as lymphoid follicles. Blood vessels showed preserved walls, with no signs of vasculitis or thrombosis. Macrophages containing bacterial aggregates were observed, as well as macrophages with hemosiderin pigments inside the cytoplasm.

Conclusion: The present results suggest that splenic autotransplant in the greater omentum of the rat acquires the macro- and microscopic architecture of a normal spleen, with reduced dimensions, and preserves bacterial phagocyte function.

Key words: Spleen. Transplantation, Autologous. Regeneration. Phagocytosis. Splenectomy.

Introdução

Pacientes submetidos a esplenectomia total, em qualquer faixa etária e por qualquer indicação, apresentam risco aumentado de morte por infecção fulminante pós-esplenectomia (IFPE). Quando existe hiposplenia, asplenia funcional não-cirúrgica, asplenia congênita ou outras afecções esplênicas, também há aumento de risco de sepse fulminante.1

Sabe-se, desde o final do século XIX, que o baço apresenta capacidade de regeneração. Griffini e Tizzoni2, em 1883, foram os primeiros a mostrar áreas de regeneração esplênica espontânea no peritônio de cães submetidos a esplenectomia. Poucos anos mais tarde, esse fato foi observado em humanos por Albrecht (1896) e Schilling (1907).3 Em 1939, Buchbinder e Lipkoff3 sugeriram a denominação de esplenose para o tecido esplênico regenerado espontaneamente dentro da cavidade abdominal, após trauma do baço. Em 1978, Pearson e col.4 verificaram a presença de função esplênica em crianças com esplenose, após esplenectomia por trauma. Mediante avaliação por cintilografia, esses autores constataram que havia tecido esplênico residual regenerado em 26% a 64% dos pacientes, e, nesses casos, não foram encontrados corpúsculos de Howell-Jolly ou hemácias senescentes no sangue periférico, como usualmente ocorre em condições de asplenia.

Com base na correlação existente entre sepse e esplenectomia e nos achados clinicopatológicos dos implantes esplênicos espontâneos, o auto-implante esplênico heterotópico passou a ser considerado como uma opção na tentativa de preservar as funções do baço, nos casos em que fosse inevitável a sua retirada.4-6

Após período inicial de necrose, o implante esplênico autógeno é capaz de regenerar-se, mas, para manter função adequada, precisa drenar para o sistema porta.2,6-8 Em local adequado, forma nódulos similares ao baço normal. Esses neobaços, circundados por fina cápsula fibrosa, contêm polpas vermelha e branca, com a estrutura de suprimento sangüíneo similar à do órgão íntegro.2,6-9 A neovascularização origina-se de ramos de artérias circunvizinhas ao local da implantação – no caso de implante omental, provém das artérias gastroomentais, com drenagem venosa para a veia porta, à semelhança do baço in situ –, com orientação centrípeta em relação ao implante, iniciando poucos dias após esse procedimento.8,10

Geralmente, à implantação esplênica segue-se necrose quase completa, permanecendo viável apenas um fragmento mínimo, que se regenera em tecido esplênico com estrutura microscópica quase indistinguível do órgão original. Diversos estudos já mostraram a ocorrência dessa fase de necrose no rato, camundongo, coelho, porco e no homem.8,10,12,13 Em roedores, a estrutura histológica do tecido esplênico regenerado é tida como comparável ao tecido esplênico normal,4,11 embora existam diferenças relativas à idade dos animais empregados.2,5,7,13 O processo de regeneração inicia na camada periférica, que não acompanha o processo degenerativo da parte central do implante, e, gradualmente, substitui a zona central necrótica. Observa-se que, muitas vezes, a zona periférica é mais diferenciada que a parte central e que pequenos implantes regeneram-se em tempo mais curto do que os que contêm uma grande quantidade de tecido. Nestes, a zona periférica pode desenvolver-se em tecido esplênico normal e o centro constituir-se apenas de uma camada de células conjuntivas proliferativas penetrando a zona necrótica.7,8,10

O auto-implante esplênico parece constituir a única alternativa para preservação de tecido esplênico após esplenectomia total. Todavia, a regeneração tissular não significa, necessariamente, que haja recuperação da função imune. O objetivo deste trabalho é analisar a regeneração morfológica de tecido esplênico auto-implantado, em ratos jovens e adultos, de ambos os sexos, verificando a função fagocitária bacteriana de seus macrófagos.

 


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