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Características e conceitos dos formandos do Curso de Medicina da UFMG (página 2)

Joel Alves Lamounier; Anna Luiza Gervásio da Fonseca Torga; Gisele Lemos Fe

 

5. Casuística e métodos

O instrumento escolhido pela Comissão Permanente de Avaliação para a coleta dos dados foi um questionário escrito com 50 perguntas fechadas, auto-aplicado, com respostas assinaladas em folhas de leitura óptica. A primeira versão do questionário foi elaborada em 1994, modificada em 1995 e 1996. Em 1997, foi definida a versão atual5-7, excluindo-se as 5 últimas questões, pois elas se referem apenas aos cursos que possuem licenciatura. O questionário abrange os seguintes aspectos:

1. Questões sobre a condição socioeconômica e cultural

• se a família possui casa própria (questão n.º 1)

• número de aparelhos de TV que a família possui (questão n.º 2)

• número de automóveis que a família possui (questão n.º 3)

• escolaridade dos pais (questões n.º 14 e 15)

• se o formando lê outra língua sem dificuldade (questão n.º 4)

• acesso a fontes de informações (questões n.º 5 a 8)

• freqüência a programas culturais (questões n.º 9 a 13)

2. Questões sobre atividades remuneradas

• se exerceu atividades remuneradas durante o curso (questão n.º 16)

• tempo de duração (questão n.º 17)

• carga horária (questão n.º 18)

3. Questões sobre oportunidades acadêmicas

• bolsa de monitoria (questão n.º 19)

• bolsa do programa de aprimoramento discente (questão n.º 20)

• bolsa do programa especial de treinamento (questão n.º 21)

• bolsa de iniciação científica (questão n.º 22)

• bolsa de extensão (questão n.º 23)

4. Questões relacionadas com a opinião sobre o curso

• organização do currículo (questão n.º 24)

• clareza quanto aos objetivos e ao perfil profissional (questão n.º 25)

• adequação do currículo ao perfil profissional (questão n.º 26)

• adequação das disciplinas do ciclo básico ao profissionalizante (questão n.º 27)

• regularidade de ofertas de disciplinas optativas (questão n.º 28)

• balanceamento entre aulas práticas e teóricas (questão n.º 29)

5. Questões relacionadas com a estrutura do curso

• disponibilidade de fontes de atualização e informação (questão n.º 30)

• orientação e acompanhamento do aluno pelo Colegiado do curso (questão n.º 31)

• atendimento por parte de órgãos administrativos (questão n.º 32)

• acervo da biblioteca (questão n.º 33)

• disponibilidade de equipamentos audiovisuais (questão n.º 34)

• atualização tecnológica desses equipamentos (questão n.º 35)

• disponibilidade de equipamentos de informática (questão n.º 36)

• unidade prática de ensino (questão n.º 38)

6. Questões sobre as expectativas do formando

• nível de preparo para exercer atividades profissionais (questão n.º 40)

• perspectiva de inserção imediata no mercado de trabalho (questão n.º 41)

• perspectiva de remuneração na carreira escolhida (questão n.º 42)

• avaliação final do curso (questão n.º 43)

7. Questões sobre a intenção de fazer pós-graduação

• se pretende fazer pós-graduação (questão n.º 44)

• se pretende fazer pós-graduação na mesma área de graduação (questão n.º 45)

A casuística do presente estudo abrange parte dos formandos da UFMG do 1o e do 2o semestre do ano de 1999. Os dados foram separados de acordo com o curso de graduação, levando-se em conta os formandos do Curso de Medicina e demais cursos da UFMG. Os procedimentos de leitura de questionários e elaboração do banco de dados foram realizados pelo Centro de Computação da UFMG (CECOM).

A participação do aluno no processo de avaliação foi voluntária e, portanto, o número de questionários respondidos pelos formandos variou entre os cursos (Tabela 1). A amostra foi composta por 225 formandos do Curso de Medicina (69,4%) - aqui denominado Grupo Medicina, e de 1.521 formandos dos demais cursos (49,5%) - denominado no estudo Grupo UFMG.

Para avaliar as respostas referentes às questões 24 a 43, contendo a opinião sobre o curso, estrutura do curso e expectativa do formando, foram desenvolvidos escores. Arbitrariamente atribuíram-se valores para cada resposta da seguinte maneira: 5 = muito bom, 4 = bom, 3 = regular, 2 = ruim, 1 = muito ruim. A partir destes valores foram calculadas as médias aritméticas simples para cada questão. O conceito mais próximo do número médio foi considerado o resultado para a questão.

Para a comparação de proporções foi utilizado o software de estatística Minitab, sendo considerados significativos os resultados com valores de p < 0,05.

6. Resultados

Na Tabela 2 estão contidos os resultados relativos às condições socioeconômicas e culturais dos formandos. Pode-se notar que os formandos de Medicina se sobressaem em relação aos da UFMG nos seguintes quesitos: "ler sem dificuldade outra língua", "quantidade de automóveis que a família possui" e "escolaridade dos pais". Porém, no quesito "acesso à Internet" os formandos da UFMG tiveram uma proporção significativamente maior.

Os dados referentes ao exercício de atividades remuneradas externas à Universidade durante o curso estão contidos na Tabela 3. Observa-se que os formandos da UFMG exerceram mais atividades remuneradas que os formandos do Curso de Medicina, durante todo o curso.

Em relação às atividades acadêmicas extracurriculares, a maioria dos formandos não teve participação. Entretanto, a Monitoria foi exercida em maior proporção pelos alunos de Medicina (Tabela 4).

Quanto à opinião dos formandos sobre o curso e sua habilitação profissional, as respostas foram determinadas a partir do escore estabelecido. Verifica-se que os formandos de Medicina consideraram como boa a habilitação e o curso, enquanto os da UFMG também se consideraram profissionalmente habilitados, mas têm algumas críticas ao curso de graduação (Tabela 5).

Com relação à intenção de fazer curso de pós-graduação, na mesma área da graduação, a proporção foi semelhante na UFMG e na Medicina, respectivamente 67% e 66% (p = 0,802). Porém, a intenção de prosseguir na mesma área foi maior entre os alunos de Medicina, respectivamente 98% versus 80% para UFMG (p < 0,001). Esta diferença pode, em parte, ser atribuída à residência médica, uma forma de pós-graduação já tradicional na área médica.

7. Discussão

Na interpretação dos dados obtidos neste estudo, é importante fazer algumas considerações sobre o questionário aplicado aos formandos da UFMG. Deve-se levar em conta as limitações tanto do questionário como do processo de seleção da amostra, que depende da participação voluntária dos alunos.

O fato do aluno não ser obrigado a preencher o questionário tem tanto aspectos positivos quanto negativos, com relação à representatividade dos dados obtidos. A obrigatoriedade de responder ao questionário gera um banco de dados mais completo, porém a informação pode ser incorreta por negligência. No sentido de reduzir este evento, tem sido feito um trabalho de divulgação e sensibilização junto aos alunos que enfatiza a importância da avaliação para que a UFMG possa avaliar a qualidade do ensino de graduação. Satisfatoriamente, um elevado percentual dos dois grupos participou do estudo.

Questões operacionais, como a dificuldade de acesso dos Colegiados de Cursos aos formandos, nesta fase de ingresso no mercado de trabalho, têm sido um obstáculo para aplicação dos questionários. No entanto, recentemente, os questionários passaram a ser divulgados na Internet, o que deverá otimizar o acesso aos alunos. O procedimento mostrou-se eficaz com os questionários de avaliação de disciplinas, aplicados aos alunos a cada semestre de forma também voluntária e que teve elevação no índice de resposta na maior parte dos cursos9.

Com relação ao preenchimento incompleto do questionário, por parte de alguns alunos, pode-se supor que o número elevado de questões tenha sido um fator causal, principalmente se houve falta de motivação. Outra possibilidade seria a dificuldade no entendimento das perguntas. No sentido de aprimorar a qualidade dos dados tem-se procurado conhecer a participação, os problemas e a motivação de alunos da graduação nos procedimentos da avaliação8. Esforços têm sido feitos no sentido de aclarar a composição do questionário. Assim, espera-se que progressivamente haja uma melhor qualidade deste instrumento de avaliação.

No que se refere às variáveis socioeconômicas, algumas questões tiveram menor percentual de respostas. A explicação para o baixo percentual de respostas pode estar relacionada à manutenção de privacidade, embora o questionário não seja identificado.

O questionário avaliou, sob a ótica do formando, a qualidade do ensino de graduação oferecido pela universidade, em um balanço final. A pesquisa rotineira semestral fornece informações evolutivas fundamentais tanto para os gestores da universidade quanto para os colegiados dos cursos de graduação, razão pela qual tem sido uma prática executada há vários anos pela UFMG. Ambas são formas complementares de avaliação da graduação e aliam-se a outros instrumentos, tais como o Exame Nacional de Cursos (Provão), Avaliação Discente (PAIUB) e Avaliação de Cursos pela Comissão de Especialistas do MEC. Com isto a universidade tem atuado, via medidas pontuais e projetos, na reformulação do ensino10,11. Entretanto, ainda é necessária a avaliação do curso médico frente aos egressos, que poderiam fornecer informações a partir da vivência como profissionais formados pela UFMG. O estudo com egressos tem sido considerado, porém, ainda não foi implementado em função de considerações metodológicas, operacionais e de recursos para sua realização. Algumas pesquisas proveitosas foram feitas com egressos de alguns outros cursos12.

Na UFMG foi desenvolvida uma cultura da avaliação para os cursos de graduação, a exemplo do que tem sido feito com sucesso pela CAPES na pós-graduação. O estudo com formandos tem gerado informações que são úteis para o planejamento de ações pedagógicas e adequação de estruturas curriculares que irão aprimorar a formação dos futuros graduandos da UFMG. Como se depreende dos aspectos abordados no questionário utilizado na pesquisa, considerou-se que um profissional competente tanto em Medicina quanto em outra área deva ter espírito crítico, iniciativa, interesse cultural e sensibilidade social, condições indispensáveis para a cidadania e o desenvolvimento do país.

8. Conclusões

Foi verificado melhor nível socioecônomico dos alunos formandos do Curso de Medicina e maior nível de escolaridade dos pais destes formandos. Quanto à leitura em uma segunda língua, os formandos de Medicina destacaram-se em relação aos formandos dos demais cursos. O acesso à Internet ainda é pouco comum entre os formandos, em especial os do Curso de Medicina, assim como são infreqüentes algumas atividades culturais. O trabalho externo remunerado durante o curso universitário foi mais freqüente entre os alunos de outros cursos do que no curso médico. Isto possivelmente decorreu da diferença socioeconômica registrada. Uma possível conseqüência é que as atividades extracurriculares foram mais realizadas pelos alunos do Curso Médico. Lamentavelmente, a maioria dos formandos não participou de oportunidades acadêmicas.

Os formandos de Medicina têm opinião mais favorável sobre o curso de graduação do que os dos demais cursos da UFMG. A maior parte dos formandos pretende continuar seus estudos através de cursos de pós-graduação, especialmente os do Curso Médico.

9. Referências

1. Arabe JNC, Lamounier JA, Rodrigues AVN, Magalhães GE, Peixoto MCL, Braga MM, et al. Avaliação dos cursos de graduação da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte: Comissão Permanente de Avaliação da Universidade Federal de Minas Gerais, Pró-Reitoria de Graduação da UFMG; 2000. p.1-6. (Cadernos de Avaliação, 3).

2. Arabe JNC, Lamounier JA, Rodrigues AVN, Magalhães GE, Peixoto MCL, Braga MM, et al. O processo de avaliação dos cursos de graduação da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte: Comissão Permanente de Avaliação da Universidade Federal de Minas Gerais, Pró-Reitoria de Graduação da UFMG; 2001. p.9-13. (Cadernos de Avaliação, 4).

3. Peixoto MCL. Avaliação institucional da universidade. Avaliação dos cursos de graduação da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte: Comissão Permanente de Avaliação da Universidade Federal de Minas Gerais, Pró-Reitoria de Graduação da UFMG; 2000. p.81-6. (Cadernos de Avaliação, 3).

4. Viana IMC. Perfil socioeconômico e cultural dos formandos dos cursos de graduação da UFMG. [Monografia]. Belo Horizonte: Curso de Especialização em Gestão Estratégica da CEPEAD/FACE/Universidade Federal de Minas Gerais; 1999.

5. Torga ALGF, Leite GLF. Opinião e expectativas dos formandos da UFMG sobre seus cursos de graduação. Relatório técnico. Belo Horizonte: Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Federal de Minas Gerais; 2000.

6. Lamounier JA, Torga ALGF, Leite GLF. Questionário de avaliação de disciplinas pelo aluno. Belo Horizonte: Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Federal de Minas Gerais, Avaliação Institucional UFMG-PAIUB; 2001. p.29-36. (Cadernos de Avaliação, 4).

7. Lamounier JA, Torga ALGF, Leite GLF. Questionário de avaliação do curso pelo formando. Belo Horizonte: Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Federal de Minas Gerais, Avaliação Institucional UFMG-PAIUB; 2001. p.38-47. (Cadernos de Avaliação, 4).

8. Fernandes AO, Vieira LFM. Avaliação de disciplinas utilizando a Internet. Belo Horizonte: Pró-reitoria de Graduação da Universidade Federal de Minas Gerais, Avaliação Institucional UFMG-PAIUB; 2001. p.24-28. (Cadernos de Avaliação, 4).

9. Fonseca RNJ, Oliveira RC, Moreira RLF, Ferreira VM, Costa AE. Participação e estratégias motivacionais na aplicação de questionários em pesquisas com alunos de graduação da UFMG. Belo Horizonte: Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Federal de Minas Gerais, Avaliação Institucional UFMG-PAIUB; 2001. p.133-40. (Cadernos de Avaliação, 4).

10. Universidade Federal de Minas Gerais. Comissão Permanente de Avaliação. Pró-Reitoria de Graduação. Graduação na UFMG: avaliação e indicadores de desempenho 1998-2002. Belo Horizonte: Imprensa Universitária; 2002.

11. Arabe JNC, Lamounier JA, Rodrigues AVN, Magalhães GE, Peixoto MCL, Braga MM, et al. Avaliação institucional da UFMG: nova modalidade do PAIUB. Belo Horizonte: Comissão Permanente de Avaliação da Universidade Federal de Minas Gerais, Pró-Reitoria de Graduação da UFMG; 2001. p.14-23. [Cadernos de Avaliação, 4].

12. Campara MCS, Machado MIL. A graduação na Escola de Música da UFMG de 1996 a 1997: um estudo retrospectivo e a visão do ex-aluno. Belo Horizonte: Comissão Permanente de Avaliação da Universidade Federal de Minas Gerais, Avaliação Institucional da UFMG-PAIUB; 2001. p.115-32. [Cadernos de Avaliação, 4].

Joel Alves LamounierI; Anna Luiza Gervásio da Fonseca TorgaII; Gisele Lemos Fernandes LeiteII - jalamo[arroba]medicina.ufmg.br

Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Pediatria. Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG, Brasil

IProfessor Adjunto Doutor da FM-UFMG. Presidente da Comissão Permanente de Avaliação da UFMG 1998-2002

IIAcadêmica do Curso de Estatística da UFMG. Bolsista do Setor de Avaliação da PROGRAD.



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