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Comparação do desempenho de pré-escolares, mediante teste de desenvolvimento de Denver (página 2)

Natacha Toral; Betzabeth Slater; Isa de Pádua Cintra; Mauro Fisberg

 

Para análise dos resultados, os diagnósticos obtidos na 1a e 2a aplicação foram comparados, a fim de observarmos a ocorrência ou não de diferenças no desempenho das crianças.

Inicialmente, trabalhou-se com a amostra total; em seguida, consideraram os dados obtidos em cada creche. Após essa etapa, foram consideradas as variáveis sexo e faixa etária para comparação dos diagnósticos. Em função das características da amostra, essa foi subdividida em duas faixas etárias: grupo A (2 anos a 4 anos e 5 meses) e grupo B (4 anos e seis meses a 6 anos), sendo 45 crianças do grupo A e 85 do B.

Análise estatística

Em virtude do nível de mensuração das variáveis envolvidas no estudo, recorreu-se à análise estatística não-paramétrica.

Por se tratar de amostras correlacionadas, nas quais existem duas medidas para um único individuo — no caso 1a e 2a aplicação do teste —, utilizou-se o teste de Kappa e o teste de McNemar12-13.

Adotou-se nível de significância 0,05 para os testes estatísticos realizados, e quando ocorreram diferenças significantes, o número foi marcado com um asterisco.

4. Resultados e discussão

Os resultados foram trabalhados, comparando-se os diagnósticos de primeira e segunda aplicação, em relação à amostra total e, posteriormente, por creche. Num segundo momento, esses diagnósticos foram comparados segundo sexo e faixa etária. Com relação ao sexo, não foram encontradas diferenças significantes.

Inicialmente, os resultados mostraram tendência geral de melhora observada no desempenho normal da maior parte das crianças (70,80%) na 1a aplicação e que, após o período de intervenção nutricional, passou para 80,80% em relação à amostra total (Tabela 1).

Essa tendência foi confirmada ao observarmos que 18,46% das crianças tiveram melhora significante no desempenho, distribuída da seguinte forma: 13,08% das crianças com desempenho questionável passaram para normal; 3,85% com desempenho não-normal passaram para questionável e, finalmente, 1,53% com desempenho não-normal passaram para normal.

Ainda, segundo Tabela 1, 76,92% das crianças mantiveram o mesmo desempenho, distribuído da seguinte forma: 66,15% apresentaram desempenho normal, 9,23% desempenho questionável e 1,54% desempenho não-normal.

Esse resultado, mais do que atestar a favor da intervenção nutricional, coloca uma questão mais antiga, que é: crianças provenientes de famílias de baixa renda apresentam "déficit no desenvolvimento"? Nessa população, a maioria (66,15%) das crianças apresentou desempenho normal, ou seja, de acordo com o avanço da idade.

Na Tabela 2, observamos que 73,33% das crianças obtiveram desempenho normal na 1a aplicação e que, após o período de intervenção nutricional, esse resultado não se modificou.

Na Tabela 3, observamos 69,42% das crianças com desempenho normal na 1a aplicação; após o período de intervenção nutricional, esse resultado aumentou para 84,70% das crianças. Na comparação dos diagnósticos segundo faixa etária, as crianças do grupo B (4 anos e 6 meses a 6 anos) apresentaram melhora significante de desempenho (21,18%) em relação às do grupo A (2 anos a 4 anos e 5 meses), que apresentaram melhora não-significante de 13,33%, conforme análise das tabelas 2 e 3. Assim, as crianças mais velhas tiveram melhor desempenho no teste após o período de intervenção.

Esse resultado pode estar relacionado, entre outros fatores, a uma maior preocupação psicopedagógica das creches com as crianças do grupo B e, talvez, uma maior prontidão para aprendizagem por parte dessas crianças.

Na análise dos resultados por creche, as tabelas 4 e 6 mostram que, embora a melhora de desempenho não tenha sido significante, comparativamente, 62,50% das crianças tiveram desempenho normal na creche I e 72,72% na creche III. Além disso, observou-se ausência de diagnósticos não-normais, após o período de intervenção.

A creche II foi a única que apresentou melhora significante (24,07%) no desempenho das crianças (Tabela 5). Uma hipótese levantada para este resultado está relacionada a uma maior concentração de crianças da faixa etária B, nessa creche.

Um outro fator a ser considerado é que utilizamos, nesse estudo, um teste de triagem de desenvolvimento que não tem especificidade para avaliar nuanças qualitativas do desenvolvimento mental. Desconhecemos o quanto e como a representação de atividades como pular, jogar, desenhar, alimentar-se, interagir está sendo elaborada pela criança.

Em contrapartida, foi o instrumento utilizado nas duas avaliações, abrangendo ampla faixa etária e que permitiu a comparação delas. Assim sendo, os resultados permitem-nos inferir que as crianças estudadas estão aproveitando a estimulação recebida, tanto em nível nutricional quanto de vivências motoras, socialização e comunicação, de forma global.

Embora um olhar mais geral ateste a favor do desenvolvimento cognitivo, motor e emocional de crianças de 2 a 6 anos de idade provenientes de população de baixa renda, é fundamental buscarmos a superação de limites e a melhora de condições, até mesmo por considerarmos a fragilidade do instrumento utilizado.

Nesse sentido, sugerimos uma análise futura, comparando as creches em relação aos aspectos acima citados, além de investigação mais aprofundada das diferenças por faixa etária.

5. Conclusões

A maioria das crianças da população estudada apresentou categoria diagnóstica normal, de acordo com o teste de desenvolvimento de Denver, antes e após intervenção nutricional.

18,46% das crianças apresentaram melhora significante de desempenho, após o período de intervenção nutricional.

Foram encontradas diferenças significantes na comparação dos diagnósticos na faixa etária B, ou seja, as crianças entre quatro anos e seis meses e seis anos de idade apresentaram melhora no desempenho.

As creches I e III apresentaram ausência de diagnósticos não-normais, após o período de intervenção.

A creche II apresentou melhora significante (24,07%) no desempenho das crianças, após o período de intervenção.

6. Summary

Comparison of preschool children´s performance through Denver developmental test, before and after nutritional supplement

Psychomotor and development analysis must be emphasized when studying institutionalized children. Many previous investigations have been showing deleterious effects of day care centers over developmental performance in children.

Objective.

This study is aimed at comparing the performance in the Development Screening Test (Denver) in children attending day care centers, before and after nutritional intervention with an energetic supplement enriched with iron.

Method.

130 children from 2 to 6 years old, attending three municipal day care centers, were evaluated by means of the application of the Denver test, by trained psychologists, comparing the collected data according to sex and age group, before and after six months intervention with iron enriched protein energetic supplement.

Results.

Most of the children had normal performance, both in first application (70.80%), and in the second one (80.80%). When comparing these results, 76.92% of the children had not altered their performance and 18.46% improved it substantially. As to sex, no significant differences were found and as to age group, there was significant improvement among children aged 4 to 6 years of age.

Conclusions.

Besides the nutritional aspects, factors such as learning readiness, family organization, and psychopedagogic orientation to the day care centers, must have fostered development, even if the low socioeconomic level of the studied population is considered. [Rev Ass Med Brasil 1997; 43(2): 99-104.]

Key words: Development. Denver test. Day care centers. Food supplement.

7. Referências bibliográficas

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M. Fisberg, M.R. Pedromônico, *J.A.P. Braga, **A.M.A. Ferreira, C. Pini, S.C.C. Campos, S.O. Lemes, S. Silva, R.S. Silva, T.M. Andrade - fisberg[arroba]uol.com.br

Disciplinas de Nutrição e Metabolismo e de *Pediatria Clínica — Departamento de Pediatria, Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina; **Secretaria de Bem Estar Social e da Família da Prefeitura de São Paulo, São Paulo, SP.



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