Conhecimentos sobre prevenção e tratamento de glaucoma entre pacientes de unidade hospitalar



1. Resumo

Objetivo: Verificar conhecimentos de pacientes portadores de glaucoma em relação a sua afecção, com a finalidade de obter subsídios para auxiliar a relação médico-paciente e estimular a observância do tratamento.

Métodos: No Hospital do Servidor Público Estadual do município de São Paulo, Brasil, foi realizado estudo transversal analítico aplicando-se questionário estruturado, com base em estudo exploratório e submetido a teste prévio para avaliação do nível conhecimento em relação ao glaucoma. A variável "auto-avaliação do conhecimento" foi mensurada por escala ordinal (sabe bem, sabe mais ou menos, sabe mal e nada sabe).

Resultados: A população foi constituída por 405 pacientes portadores de glaucoma; 72,6% do sexo feminino; idade média 66,2 anos; 54,3% cursaram até o ensino fundamental. Os resultados revelaram: dos que sabem bem sobre o controle da doença, 95, 8% declararam terem recebido explicações (p < 0,000); houve maior proporção (46,9%) de pacientes que afirmaram "saber mais ou menos" quando comparado com os demais grupos, porém aqueles com maior escolaridade referiram maior conhecimento quando comparado aos com menor escolaridade (p < 0, 000); em relação às fontes de informação sobre glaucoma 49,9% mencionaram unicamente o oftalmologista.

Conclusão: O conhecimento dos pacientes em relação ao glaucoma foi relacionado às explicações recebidas e ao nível de escolaridade. Este estudo confirma a necessidade da manutenção de orientações, divulgação continuada de informações sobre prevenção e tratamento de glaucoma, nos consultórios e na comunidade, para melhora do prognóstico visual.

Descritores: Glaucoma/terapia; Glaucoma/prevenção & controle; Educação do paciente; Saúde pública/educação; Cegueira/prevenção & controle; Hospitais públicos

2. Abstract

Purpose: To verify information related to glaucoma and level of self-evaluation of knowledge about the disease, in order to help doctor-patient relationship and to stimulate the observance regarding treatment.

Methods: In the Provincial Public Hospital, São Paulo, Brazil, a cross-sectional survey was performed by applying a questionnaire. The variable "self-evaluation of the knowledge" was measured by an ordinal scale (to know well, to know more or less, to know badly and knowing nothing).

Results: The population was consisted of 405 patients with glaucoma; 72.6% female; mean age 66.17 years. Of those who "know well" about the control of the disease, 95.8% declared having received explanations (p <0.000); there was a larger proportion of patients who stated "know more or less" when compared to other groups (p <0.000); eye specialist as the source of information on glaucoma was mentioned by 50% of the patients.

Conclusion: The patients' knowledge in regarding glaucoma was related to the level of received explanations. The level of knowledge about the disease was directly related to the educational level. This study confirms the need of maintenance of guide lines, continuous popularization of information on prevention, which would help to treat patients with this problem and improve visual prognosis.

Keywords: Glaucoma/therapy; Glaucoma/prevention & control; Patient education; Public health/education; Blindness/prevention & control; Hospitals, public

3. Introdução

O glaucoma é uma afecção que, por suas características clínicas e prog-nóstico visual, requer comprometimento do paciente com o tratamento. Trata-se de doença crônica que deve receber acompanhamento e tratamento prolongado, condições estas que previnem a cegueira.

Os oftalmologistas apresentam papel importante na detecção precoce do glaucoma e na sua desmistificação(1). O desconhecimento sobre a doença e a elaboração de idéias falsas tendem a gerar ausência de participação do paciente no tratamento, agravando o prognóstico visual(2).

O conceito de glaucoma tem mudado ao longo dos anos podendo ser definido atualmente como neuropatia óptica crônica, caracterizada por perda de campo visual e lesão do nervo óptico(3). Portanto, a pressão intra-ocular já não é mais tida como fator indispensável para a ocorrência da afecção.

O aumento da PIO é considerado como um dos fatores de risco, portanto, na etiopatogenia do glaucoma outros fatores somam-se a ela, acarretando pior prognóstico da doença; entre eles, o desconhecimento da população a respeito da doença e suas conseqüências visuais(4). Assim, estudos referiram altos índices de cegueira unilateral (51,8%) e bilateral (33,3%) de glaucomatosos atendidos pela primeira vez no Setor de Glaucoma da Universidade de Campinas(5).

A falta de observância do tratamento pelo paciente foi identificada como causa importante de controle inadequado de pressão intra-ocular(6) (PIO), tendo-se ressaltado, que até 50% dos pacientes deixaram de tomar medicamentos antiglaucomatosos corretamente(7).

Analisando o conhecimento de glaucomatosos sobre a doença e o tratamento, estudos observaram que a população investigada estava desinformada sobre suas condições clínicas, a doença, tratamento e métodos para o diagnóstico e mo-nitorização do glaucoma(8).

O conhecimento em relação à doença ocular constitui condição necessária e antecede as ações do indivíduo para preservar a visão. Embora se reconheça que a ampliação e melhoria do conhecimento per se nem sempre resulte em mudança comportamental, as atitudes, crenças, valores e percepções do indivíduo, compõe o grupo de fatores responsáveis pela justificativa ou motivação para recusar ou adotar um comportamento específico. Esses fatores incluem dimensões cognitivas e afetivas do saber, sentir, acreditar, valorizar e da autoconfiança ou percepção da própria competência para agir de determinada maneira(9).

Tais aspectos devem merecer especial atenção na medida em que se pretenda obter um diagnóstico prévio da realidade, antecedendo alguma intervenção. Desse modo, pode-se direcionar apropriadamente o planejamento de ações de saúde, tendo em vista grupos-alvo diversos(10).

Ações educativas na relação médico-paciente constroem a base para a promoção da saúde ocular e a preservação do sistema visual, aumentando a capacidade dos indivíduos de tomar decisões relativas a comportamentos que influenciarão seu nível de saúde ocular(11).

A experiência tem mostrado que nem sempre o fácil acesso a serviços educativo-assistenciais assegura, por si só, um nível de saúde satisfatório de uma população. Influências restritivas interferem na tomada de decisões e na execução de ações de saúde, decorrentes de fatores psicossocioculturais. A importância que as pessoas conferem a sua saúde e aos cuidados para preservá-la depende, em especial, de padrões socioeconômicos, de conhecimentos, hábitos, atitudes e crenças aprendidos culturalmente(12).

A importância de se investigar esse tema reside no fato de que a população brasileira, em sua maioria, tem acesso insuficiente a informações adequadas em relação à saúde em geral e sobre doenças crônicas como o glaucoma. Supõe-se que esse desconhecimento acarreta baixa adesão ao tratamento e conseqüente comprometimento do prognóstico visual.

Desse modo, o objetivo deste estudo consistiu em verificar informações recebidas em relação ao glaucoma e o grau de auto-avaliação de conhecimentos, referentes a essa afecção, na percepção de pacientes portadores de glaucoma, atendidos em unidade hospitalar. Considerou-se assim, a possibilidade de obter subsídios que possam facilitar a relação médico-paciente e estimular a observância do tratamento proposto.


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