Fatores relacionados a hospitalizações por injúrias em crianças e adolescentes

Enviado por Joel A. Lamounier


1. Resumo

Objetivo: Analisar alguns fatores relacionados a injúrias que resultaram em hospitalizações de crianças e adolescentes.

Métodos: Pesquisa prospectiva, descritiva e observacional realizada no Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga, Minas Gerais, no período de 1º de dezembro de 1999 a 30 de novembro de 2000. A amostra incluiu 696 crianças e adolescentes, na faixa etária de 0 a 19 anos, hospitalizados por injúrias. Para classificar os tipos e os locais de ocorrência das injúrias utilizou-se a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, 10ª revisão.

Resultados: As injúrias representaram 9,9% das hospitalizações de crianças e adolescentes; 69,7% dos pacientes eram do gênero masculino. Quanto à opinião dos informantes sobre as causas das injúrias, 57,2% citaram falhas humanas, 18% acreditavam que se deviam ao destino, e 12,7% não sabiam opinar. Somente 23,1% dos informantes haviam recebido, anteriormente, orientação sobre a prevenção de injúrias, e as principais fontes foram mídia, escola e empresa. Do total de eventos, 31,9% ocorreram nas residências. Acidentes de transporte causaram 34,5% das internações; quedas, 33,2%; exposição a forças mecânicas inanimadas, 9%; contato com animais venenosos, 5,2%; agressões, 5%; queimaduras, 4,9%; exposição a forças mecânicas animadas, 3,3%; intoxicações, 2,3%; e outros tipos, 2,6%.

Conclusões: Houve predomínio do gênero masculino. Foi baixo o percentual de informantes que haviam recebido, anteriormente, orientação sobre prevenção de injúrias. A faixa etária mais acometida foi a de 15 a 19 anos. Os acidentes de transporte e as quedas foram os mais freqüentes.

Palavras-chave: Prevenção de injúrias, causas de injúrias, acidentes de transporte, quedas.

2. Introdução

No Brasil, no ano de 2001, segundo dados do Datasus1, as causas externas de morbidade e mortalidade provocaram 21.526 óbitos de crianças e adolescentes, constituindo a principal causa de morte na faixa etária de 1 a 19 anos. A maior parte dos óbitos (13.657) ocorreu em jovens de 15 a 19 anos1. Outro aspecto relevante é que, para cada pessoa que morre, há muitas outras vítimas sobreviventes de injúrias que necessitam hospitalização, atendimento em pronto-socorro e tratamento ambulatorial2. Danseco et al.3 estimaram que uma em cada quatro crianças ou adolescentes sofre, por ano, algum tipo de injúria que necessita de cuidados médicos ou causa limitação de suas atividades. Há que se considerar, ainda, o grande sofrimento físico e emocional envolvido, as seqüelas e as vidas perdidas tão precocemente em decorrência das injúrias.

O estudo de Agran et al.4 sobre hospitalização e morte por injúrias na faixa etária de 0 a 19 anos mostrou que a maior taxa foi relacionada aos acidentes de transporte. A segurança no trânsito é um problema de saúde pública e envolve também vários outros setores, e todos precisam estar comprometidos firmemente com a prevenção5.

A visão atual, no que se refere às injúrias físicas, é que tanto as intencionais quanto as não-intencionais são consideradas passíveis de prevenção, sendo a freqüência delas variável de acordo com a idade, gênero, grupo social e região geográfica2. Segundo Blank6, diante de situação tão complexa quanto a representada pela prevenção das injúrias físicas, é necessário determinar "quais são os riscos específicos para tipos determinados de injúrias físicas, para a seguir, definir estratégias preventivas com foco dirigido". Assim, a coleta de dados relacionados às injúrias deve ser o primeiro passo direcionado à busca da prevenção, e essas informações são indispensáveis aos formuladores de políticas públicas para a disponibilização de maiores recursos destinados à prevenção7.

Existem poucos estudos brasileiros prospectivos sobre a internação de crianças e adolescentes por injúrias. Assim, esta pesquisa tem o objetivo de analisar alguns fatores relacionados às hospitalizações por injúrias em crianças e adolescentes.

3. Métodos

Trata-se de uma pesquisa prospectiva, descritiva e observacional, realizada no Hospital Márcio Cunha (HMC), referência regional, situado em Ipatinga, cidade localizada na região leste de Minas Gerais, a 217 km de Belo Horizonte. O estudo envolveu crianças e adolescentes na faixa etária de 0 a 19 anos hospitalizados em decorrência de injúrias. Não participaram do estudo pacientes vítimas de injúrias que permaneceram em observação no setor de emergência; somente foram incluídos os pacientes que necessitaram internação hospitalar em conseqüência da gravidade do quadro clínico ou da necessidade de procedimentos terapêuticos ou propedêuticos mais complexos.

Após a aprovação do projeto de pesquisa pela comissão de ética do HMC, foi realizada a coleta de dados no período de 1º de dezembro de 1999 a 30 de novembro de 2000. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas com os pais, com o responsável ou, ainda, com o próprio adolescente, durante o período de hospitalização, após concordância em participar do estudo. As entrevistas, que utilizaram um questionário como base, foram realizadas de maneira individualizada, contando unicamente com as presenças do informante e do entrevistador e, quando possível, do paciente. Procurou-se ocasião e horário adequados aos informantes para a realização das entrevistas. O questionário continha perguntas referentes a variáveis sociodemográficas, opinião dos pacientes ou responsáveis sobre as causas, orientação anterior sobre prevenção, circunstâncias, tipos de injúrias e diagnóstico. Os entrevistadores foram dois pediatras do corpo clínico do hospital e dois estudantes do sexto ano de medicina previamente treinados, para que houvesse uniformidade na abordagem das famílias e na coleta de dados. Um estudo piloto, com 10 pacientes, foi realizado em novembro de 1999 com a finalidade de avaliar o questionário.

Os dados do formulário de pesquisa foram analisados com o auxílio do programa Epi-Info 6.04. Do total de 7.082 crianças e adolescentes hospitalizados no período de realização da pesquisa, 702 (9,9%) foram por injúrias. A amostra final se constituiu de 696 pacientes, pois houve uma recusa, por parte dos pais, em participar do estudo, e dados de cinco pacientes não foram obtidos.

A distribuição dos pacientes quanto aos diversos tipos de injúrias e local de ocorrência foi baseada na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, 10ª revisão (CID-10)8, volume 1, capítulo XX. Os dados sobre os locais da residência onde os eventos aconteceram não são da mesma fonte, considerando-se que a CID-10 não contempla esta informação.

Para a análise estatística, utilizou-se o teste do qui-quadrado com tendência linear para comparar a proporção de tipos de injúrias por faixa etária. Quando foram comparados dois tipos de injúrias e o resultado do teste indicou semelhança na proporção de injúrias por faixa etária (p > 0,05), esses tipos foram reunidos em um único grupo. O resultado da odds ratio quantifica, então, a chance de determinada faixa etária apresentar aquele grupo de injúrias em relação a uma faixa etária estabelecida como padrão – nesse estudo, a "menor de 1 ano".


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