Hábitos de hidratação em adolescentes praticantes de judô

Enviado por Mauro Fisberg


1. Resumo

O objetivo deste trabalho foi verificar os hábitos e o nível de conhecimento sobre a hidratação entre atletas adolescentes praticantes de judô de um clube esportivo e uma academia em São Paulo. Foram avaliados um total de 36 adolescentes esportistas (32 meninos e 4 meninas) entre 10 e 19 anos de idade. A coleta de dados se deu de forma aleatória durante o treinamento. Empregou-se uma pesquisa do tipo descritiva com delineamento transversal, fazendo uso das medidas de massa corporal, estatura e um questionário padronizado, com 10 perguntas objetivas, auto-administrado.

Os resultados indicaram que, apesar dos judocas possuírem um nível razoável de conscientização em relação à importância da hidratação para o benefício do desempenho esportivo, acabam não se hidratando adequadamente. De acordo com os resultados do perfil nutricional da população, encontrou-se um total de 64% de eutróficos e nenhum baixo peso. Entretanto, 36% dos atletas estavam com sobrepeso, sendo que 14% se encontravam obesos. É importante ressaltar a necessidade de medidas antropométricas complementares, dado que a população adolescente, usualmente, passa por significativas alterações corporais durante seu processo de maturação sexual.

2. Introdução

O judô foi criado em 1882, no Japão, por um jovem graduado em filosofia chamado Jigoro Kano. É considerado como arte marcial, a qual valoriza não apenas a defesa pessoal do indivíduo, mas também o aperfeiçoamento moral e a exaltação do caráter (Judoinfo, 2002). O esporte em si proporciona uma elevada demanda metabólica do atleta, tanto no treinamento quanto em competições. Para que um atleta tenha um rendimento adequado, vários fatores deverão estar bem ajustados, entre estes a nutrição e a hidratação. Uma alimentação e hidratação bem balanceadas repõem os nutrientes durante o treinamento e podem ser o diferencial para o rendimento de um atleta, uma vez que o nível dos competidores, na maioria das vezes, é semelhante. O treinamento total de um judoca pode chegar a seis horas diárias, provocando uma perda hídrica de até quatro litros, o que torna o consumo de líquidos fundamental para a boa performance do atleta e também para que se evite a desidratação (Judoinfo, 2002).

A reposição hídrica realizada apenas nos momentos de sede irá repor apenas de metade a dois terços do líquido perdido. Cada treino sucessivo, sem que haja uma hidratação adequada, irá provocar no atleta um futuro déficit hídrico. Para se determinar o volume hídrico a ser reposto, é necessário que o atleta se pese antes e após os treinos. Para cada 500 g perdidos, são necessários 150% de líquido para manter o equilíbrio hidroeletrolítico. O líquido deve estar disponível aos atletas antes, durante e após os eventos esportivos, com o intuito de se evitar a desidratação e os danos provocados pelo calor excessivo (Probart et al., 1993).

O estado normal de hidratação (euidratação) apresenta pequenas variações, decorrentes das condições de temperatura e da atividade física realizada (Greenleaf, 1992). Hiper-hidratação e hipoidratação dizem respeito, respectivamente, ao aumento ou à diminuição do volume hídrico corporal. Desidratação, por sua vez, refere-se ao processo de perda de água, passando de um estado hiper-hidratado para um estado euidratado e/ou continuamente para um estado hipoidratado (Greenleaf, 1992; Sawka & Greenleaf, 1992). Reidratação é o processo de recuperação do volume hídrico corporal normal, a partir do estado hipoidratado em direção ao estado euidratado. Esse termo, contudo, não deve ser usado para o aumento da água corporal a partir do estado euidratado para o estado hiper-hidratado (Greenleaf, 1992).

Quando a temperatura e a umidade do ambiente estão elevadas, a capacidade de manter a atividade física é reduzida (Maughan & Noakes, 1991). Nessa situação o processo de desidratação e termorregulação é um importante fator determinante da fadiga (Maughan, 1991; Maughan & Noakes, 1991). O volume de suor necessário para dissipar essa quantidade de calor pode resultar em grande perda de água corporal, associada à perda de eletrólitos. O rendimento no exercício é reduzido quando o indivíduo está hipoidratado em 2% do seu peso corporal e perdas hídricas maiores que 5% do peso corporal podem diminuir a capacidade física em 30% (Saltin & Costill, 1988). Se a desidratação persistir com perda de água superior a 7%, o risco de colapso circulatório se torna iminente, e no extremo, a hipertermia pode levar ao choque térmico e à morte (Casa et al., 2000).

Existem várias limitações importantes e que, para as pessoas fisicamente ativas, dificultam o equilíbrio hidroeletrolítico. Ao fazer exercício intenso ou em clima quente e úmido é impossível ingerir líquidos ao ritmo em que se está perdendo. É necessário então buscar maneiras de diminuir o impacto da perda de líquido pela sudorese e avaliar estas perdas, através da pesagem antes e após os treinos. É importante diminuir, portanto, o tempo e esforço dedicados ao aquecimento, modificando-se a estratégia de treinamento ou de competição, reduzindo-se a intensidade e/ou a duração do exercício e tendo descansos mais freqüentes e prolongados. Também é importante vestir roupa folgada e evitar exercitar-se com muita roupa ou acessórios plásticos, que não ajudam a reduzir a gordura corporal, mas deixam o exercício mais difícil e aumentam os problemas relacionados com o calor (Aragón-Vargas et al., 2001).

Os atletas adolescentes fazem parte de uma categoria muito especial. A adolescência é uma fase crítica para o crescimento e desenvolvimento do ser humano e, portanto, os profissionais e treinadores devem estar conscientes do aumento das demandas nutricionais deste grupo e dos fatores que acabam por interferir no consumo adequado de alimentos. Em relação à hidratação, sabe-se que as crianças e os jovens suam menos, produzem mais calor e são menos eficientes na transferência do calor dos músculos para a superfície corporal. Eles também se adaptam ao calor mais vagarosamente do que os adultos. Todos estes fatores contribuem para aumentar os riscos da desidratação (Perron & Enders, 1985).

Convém lembrar que as crianças e os jovens atletas nem sempre se lembram de se hidratarem ou postergam o consumo de líquidos até o limite, ficando o encargo de lembrá-los aos treinadores e profissionais responsáveis. A restrição hídrica e o uso de diuréticos ou qualquer outra prática que promova a perda de água, muito comuns em esportes que se utilizam de categorias de peso, pode levar ao desequilíbrio eletrolítico e a sérias conseqüências para a saúde e performance do atleta. O treino adequado, aliado às boas práticas de nutrição e hidratação, pode auxiliar os adolescentes a maximizar seu estado de saúde em geral e, especificamente, sua performance final (ADA, 1996).

Um nível adequado de hidratação em atletas que praticam exercícios físicos só é mantido se estes ingerirem quantidades suficientes de líquidos antes, durante e depois dos exercícios (Maughan, 1991). A ingestão hídrica deve ser iniciada antes da prática esportiva, para que se comece o exercício bem hidratado. O American College of Sports Medicine (2000) recomenda que se tome de 400 a 600 ml, duas a três horas antes do exercício se iniciar. Durante o exercício é indicado que se tome de 150 a 350 ml de líquidos, a intervalos de 15 a 20 minutos. Após o término do exercício é recomendável a ingestão de líquidos repositores, para que as perdas de alguns minerais sejam reparadas e que sejam fontes de carboidrato, para que se reponha o glicogênio muscular gasto durante o treino (Malina, 1991).

Com o intuito de verificar os hábitos de hidratação de uma população de atletas adolescentes, fez-se um levantamento dos hábitos e do nível de conhecimento sobre hidratação entre esportistas adolescentes judocas de um clube e de uma academia da cidade de São Paulo. Este conhecimento permitirá aos atletas e treinadores planejar melhor seus treinamentos e corrigir algumas de suas condutas, objetivando a melhora do desempenho em treinamentos e competições.

3. Metodologia

A coleta de dados foi realizada em equipe de judô do Esporte Clube Pinheiros e da Academia Shoorikan, durante um dia de treinamento, no mês de outubro de 2002. Foram avaliados no total 36 esportistas adolescentes, sendo 32 meninos e 4 meninas, que apresentavam média de idade de 13,89 ± 2,45 anos.

Empregou-se uma metodologia exploratória, através de pesquisa do tipo descritiva com delineamento transversal, utilizando um questionário padronizado com dez perguntas objetivas, auto-administrado e foram tomadas medidas antropométricas, como massa corporal e estatura:

· Massa corporal: a massa corporal foi aferida em quilogramas através de balança portátil, modelo TANITA TBF-305, com capacidade para 150 kg e resolução de 100 g, colocada em superfície plana, zerada a cada pesagem. Os adolescentes foram pesados de pé sobre a plataforma, descalços, sem meias, com o mínimo de vestimenta possível e em posição firme com os braços ao longo do corpo. Na tomada da massa foi considerada uma casa decimal;· Estatura: a estatura foi determinada por meio de antropômetro extensível da marca SECA, através de fita métrica inelástica, afixada na parede a 90 graus em relação ao solo, com escala de 0 a 200 cm e resolução de 0,1 cm. O adolescente foi instruído a ficar de costas para o instrumento, em pé, descalço, pés juntos e paralelos, braços ao longo do corpo, sem boné, cabelo solto, ereto, com olhos e orelhas alinhadas horizontalmente, inspirando no momento da coleta da medida. Caso a leitura caísse entre dois valores foi considerado o menor quando fosse abaixo de 0,5 cm e o maior quando fosse acima de 0,5 cm (WHO, 1995).


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