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Estado atual da transmissão da leishmaniose tegumentar na região neo-tropical (página 2)

Elizabeth Bittencourt Martins

    • A hematofagia destes animais é um tanto específica, havendo espécies que preferencialmente mantém a enzootia, enquanto outros são especialmente antropófilos.
    • Sua distribuição estacional é variável, dependendo do período de chuvas. O adulto tem o período de vida médio de 10 a 20 dias.
    • A atividade dos flebotomíneos está na maioria das vezes limitada ao período crepuscular.
    • Precisamos verificar inicialmente a infecção dos vetores. Este fato é condicionado pela membrana peritrófica, que é uma membrana que envolve o sangue ingerido pelo animal. Podendo ser duradoura ou temporária, os agentes patogênicos têm possibilidade variável de entrar em contato com as paredes do tubo digestivo. No caso de a membrana peritrófica permitir a infestação do inseto, o comportamento da Leishmania, característico das várias espécies, vai indicar se uma cepa vai ser capaz ou não de infestar o homem. No caso destes protozoários migrarem para o estômago anterior e proventrículo, chegando mesmo ao esôfago e às partes bucais, seu comportamento indica que esta é uma cepa capaz de infectar o homem. Assim, somente as formas curtas (em que a distanciado núcleo às extremidades é de 1:1) localizadas na chamada "estação anterior" são patogênicas.

Numa dada área, para incriminarmos um determinado flebótomo como transmissão, é necessário:

- encontrarmos formas promastigotas na sua estação anterior.

- que o vetor apresenta antropofilia.

- que a distribuição geográfica e estacional da espécie vetora corresponda à da infecção do homem.

ASPECTOS ESPECÍFICOS DA TRANSMISSÃO

A diversidade de flebótomos que vai veicular as diversas cepas, já mencionadas, está diretamente dependente das condições do agente etiológico, do meio e do próprio inseto, como consideramos.

Adotando a sistemática dupla já mencionada, podemos relacionar os principais aspectos na transmissão dos vários tipos.

Leishmania braziliensis braziliensis

Está especialmente caracterizada nos ambientes florestais, sendo então tratada como doença profissional. A sua patogenicidade varia: na região sua da América, há a incidência de lesões muco-cutâneas, enquanto que ao norte os casos tendem a se apresentar como cutâneos somente.

Temos como principais vetores as espécies:

Venezuela: Lutzomia migonei, Lutzomia longipalpis e Psychodopygus panamensis (Lainson, 1973).

Pará: Psychodopygus wellcomei, Psychodopygus paraensis e Psychodopygus amazonensis (Lainson, 1973).

São Paulo: Pintomyia pessoai, Psychodopygus intermedius e Psychodopygus whitmani (Forattini, 1973 a).

Psychodopygus flaviscutellatus é o responsável pela manutenção da enzootia (Ward, 1973 a).

Leishmania braziliensis guyanensis

Responsável por ulcerações cutâneas conhecidas por "pian-bois". Na área em que ocorre esta infecção leishmaniótica, o flebotomíneo mais freqüente é o Psychodopygus squamiventris. Como verificou Lainson (1973), este inseto não é portador da infecção, apesar de ser mais frequente, ficando incriminado Psychodopygus anduzei.

Leishmania braziliensin panamensis

Lutzomyia gomezi, Lutzomyia shannoni, Lutzomyia pessoana, Psychodopygus flaviscutellatus, Psychodopygus sanguinarius, Psychodopygus trapidoi, Psychodopygus ylephiletrix e Psychodopygus panamensis foram os vetores incriminados no Panamá (Tech, 1971; Chaniotis, 1971). Christensen (1971) descreve ainda Lutzomyia tintinnabula como possível vetora da região. Outro trabalho de Christensen (1973) mostra que, em três localidades distintas, a frequência dos espécimes de Psychodopygus panamensis, Psychodopygus sanguinarium e Psychodopygus trapidoi variam, indicando a maior ou menor adaptação de cada espécie nos diversos ambientes.

Leishmania braziliensis peruviana peruviana

A espécie vetora entre os cães domésticos e o homem é Lutzomyia verrucarum (Forattini, 1973 a). Apesar de existirem evidências, nunca se determinou o foco natural da moléstia.

Leishmania mexicana mexicana

Esta moléstia é restrita aos trabalhadores das florestas (chicleros) na época das chuvas. A manifestação é estritamente cutânea. As espécies vetores no México são (Zavala-Velazques, 1972): Lutzomyia cruciata, Lutzomyia paraensis, Lutzomyia shonnoni e Psychodopygus panamensis. Em Honduras Manson-Bahr (1971) referencia Lutzomyia cruciata, Lutzomyia paraensis e Lutzomyia pessoanus. Psychodopygus flaviscutellatus é o responsável pela manutenção da enzootia (Disney, 1968).

Leishmania mexicana amazonensis

Psychodopygus flaviscutellatus é ainda o vetor mentenedor da enzootia (Ward, 1973 b). Tal fato é evidenciado pela verificação das infecções de roedores silvestres durante o ano. O número de indivíduos da população é diretamente proporcional ao núm,erro de infectados, e condicionado pelo índice pluviométrico estacional específico. Acima de 200-250mm de chuva o número de insetos decresce, assim como o número de lesões iniciais nos roedores (Shaw, 1972 b). Os insetos infectados foram encontrados (Ward, 1973 b), mas acredita-se que, por não ser esta espécie antropofílica (Shaw, 1972 b), a transmissão ao homem só se dê acidentalmente.

A LEISHMANIOSE TEGUMENTAR DIFUSA

Até hoje não se pode testemunhar nada com relação à epidemiologia desta forma infecciosa. Diaz-Najera (1971) chegou mesmo, no México, a incriminar insetos pertencentes a diversas famílias dos dípteros como vetores. Um trabalho de grande importância, que vem dar corpo à hipótese já em voga de que esta leishmaniose seria devida a um defeito imunológico, foi o de Convit (1972), na Venezuela. Pela série de experimentos realizados, deduziu que, estando a doença presente em casos isolados, mas contidos em focos endêmicos de leishmaniose cutânea, a doença seria devida a defeito imunológico. Tal fato foi provado por inoculação experimental, onde se usou material de lesões devidas à Leishmania braziliensis, que provocou casos da leishmaniose difusa. Esta pode, pelo caminho inverso, provocar ulcerações cutâneas típicas em voluntários.

Por este motivo, por não estar esta manifestação relacionada com qualquer tipo especificadamente, é preferível considerá-la em separado.

DISCUSSÃO

Para a manutenção da enzootia existem referências suficientes para considerar Psychodopygus flaviscutellatus como transmissor na América do Sul e Psychodopygus olmecus na América Central.

A transmissão ao homem sofre já uma série de dificuldades, pois mal se pode determinar qual ou quais cepas existem numa região. Na região norte do Brasil, supõe-se que são responsáveis por uma série de tipos sintomatológicos cutâneos semelhantes as cepas: Leishmania braziliensis braziliensis, Leishmania braziliensis guyanensis, Leishmania braziliensis panamensis e/ou Leishmania mexicana amazonensis. Na região sul foram já determinadas várias cepas de Leishmania braziliensis, provavelmente pertencentes a sub-espécies de hábitos distintos, que podem coexistir numa mesma área. Os vetores, que são em número reduzido, dependendo da suscetibilidade ao agente e da adaptação ao ambiente, devem ser vetores comuns aos vários tipos de Leishmania.

Pode-se assim afirmar a transmissão de leishmaniose pelo flebotomíneo, mas não se pode, na maioria das vezes, especificar qual ou quais cepas ele veicula.

É lícito admitir, de acordo com vários autores, que o processo todo que envolve a transmissão esteja em nível, ainda, de especiação com consequente adaptação a novos ambientes.

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RESUMO

As leishmanioses tegumentares americanas merecem estudo amplo de sua epidemiologia. Os níveis de transmissão e a suscetibilidade do homem a esta infecção depende de vários fatores que são discutidos. Os aspectos da transmissão, que eram tão pouco conhecidos, gradualmente vão sendo esclarecidos e este esclarecimento facilita o controle regional desta infecção. Os aspectos de maior interesse, na transmissão ao homem, são o objetivo deste trabalho.

PALAVRAS CHAVE

LEISHMANIOSE TEGUMENTAR

FLEBOTOMÍNEOS

DOENÇAS TROPICAIS

 

AUTORIA

Elizabeth Christina Rodrigues Bittencourt

exrbittencourt[arroba]yahoo.com.br

A autora produziu este trabalho em seu último ano de Licenciatura em Ciências Biológicas pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Ao término do curso de Epidemiologia Médica-Entomológica realizou estágio profissionalizante na Superintendência de Controle de Endemias – SUCEN. Recentemente obteve o título de Especialista em Educação da Universidade Metodista de São Paulo (2000) e de Mestre em Ensino de Ciências da Universidade Cruzeiro do Sul (2006).

 



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