Tratamento clínico do glaucoma em um hospital universitário: custo mensal e impacto na renda familiar



1. Resumo

Objetivo: Verificar características sociais e o impacto do custo do tratamento antiglaucomatoso na renda familiar entre pacientes do Serviço de Oftalmologia de hospital universitário.

Métodos: Realizou-se estudo transversal entre 146 pacientes do Setor de Glaucoma do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), aplicando-se um questionário por entrevista. Foram investigadas as variáveis: escolaridade, exercício de atividade profissional, renda própria e familiar, quantidade e tipo de medicações e tempo de tratamento antiglaucomatoso. A partir do custo mensal de medicações antiglaucomatosas disponíveis no Brasil e dos dados obtidos na entrevista, calculou-se o custo médio mensal do tratamento clínico e a porcentagem da renda familiar destinada à aquisição desses medicamentos. Além disto, investigaram-se fatores associados à dificuldade de aquisição da medicação.

Resultados: O custo mensal médio do tratamento antiglaucomatoso foi de 36,09 ± 31,99 reais, o que correspondeu a 15,5% da renda familiar média. Aproximadamente 24,0% dos pacientes tiveram 25% ou mais de sua renda comprometida com o tratamento e 45,2% relataram dificuldade de adquirir a medicação em algum momento do tratamento. Os principais fatores associados à dificuldade de compra da medicação foram a reduzida renda familiar (p=0,0001) e a expressiva parcela da renda familiar destinada ao tratamento (p=0,0002).

Conclusões: O tratamento do glaucoma apresentou custo elevado em relação à renda familiar da amostra. Evidenciou-se tratar de pacientes de baixa renda, destinada em boa parte ao tratamento do glaucoma. Admite-se que possam apresentar maior risco de baixa adesão ao tratamento antiglaucomatoso por dificuldades para adquirirem a medicação.

Descritores: Glaucoma; Custos de cuidados de saúde

2. Introdução

O glaucoma constitui uma das principais causas de cegueira irreversível no mundo(1). Nos Estados Unidos, 2,25 milhões de pessoas acima de 45 anos têm glaucoma(2). Na grande maioria dos casos, a doença apresenta curso crônico e necessita, portanto, de acompanhamento e tratamento prolongados. Entre as várias modalidades de tratamento do glaucoma, a terapêutica clínica, baseada principalmente no uso de colírios, é a mais utilizada. O tratamento cirúrgico é geralmente uma opção nos casos de falha, intolerância ou dificuldade no seguimento do tratamento clínico proposto. Entretanto, principalmente em Hospitais Públicos, a cirurgia precoce é muitas vezes empregada como estratégia para diminuir os custos do tratamento(3).

Nos últimos anos surgiram novas drogas que aumentaram as opções para o tratamento do glaucoma. Esse fato, ainda que positivo, tem em contrapartida o elevado custo destas medicações quando comparadas às drogas mais antigas(4).

Vários são os fatores que resultam em ausência da observância ao tratamento do glaucoma, salientando-se os efeitos colaterais das medicações, a ausência de melhora da função visual após o início do tratamento, a relação médico-paciente e o desconhecimento da doença. Além disso, a fidelidade do paciente ao tratamento sofre influência direta do custo das medicações(4-6), principalmente na população de baixa renda(4), que procura os serviços de saúde públicos, incluindo os hospitais universitários.

O objetivo deste estudo foi verificar características sociais e o impacto do custo de tratamento antiglaucomatoso na renda familiar entre pacientes do serviço de oftalmologia de hospital universitário.

3. Métodos

Compôs-se uma amostra não probabilística de pacientes atendidos no Setor de Glaucoma do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), que aquiesceram serem entrevistados. Elaborou-se um questionário, para obter informações relacionadas a fatores sócio-econômicos, tais como: escolaridade, exercício de atividade profissional, renda individual e familiar; além de informações sobre a quantidade e tipo de medicações utilizadas e tempo de tratamento antiglaucomatoso (Anexo1).

Realizou-se a validação prévia do questionário aplicando-o a 30 pacientes glaucomatosos. Posteriormente, o questionário foi ministrado durante quatro semanas consecutivas entre abril e maio de 1999, a pacientes atendidos no Setor de Glaucoma da UNICAMP. Procurou-se assegurar o sigilo e a veracidade das informações. Para ser incluído na pesquisa, o paciente devia estar em tratamento medicamentoso para glaucoma. Foram excluídos pacientes previamente submetidos à cirurgia antiglaucomatosa ou à trabeculoplastia a laser.

Para calcular o custo total do tratamento, utilizamos dados fornecidos em estudo anterior(4), onde o custo mensal de cada medicação antiglaucomatosa no Brasil foi calculado. Inicialmente, realizaram o levantamento do preço de vinte medicações anti-glaucomatosas em dez diferentes redes de farmácias em Campinas - SP. A seguir, os volumes médios das gotas de cada colírio foram medidos com micropipeta. Para isso, utilizaram cinco gotas de cinco frascos diferentes de cada medicação. Finalmente, de posse desses dados e da posologia sugerida para essas drogas, calcularam o custo mensal de cada medicação anti-glaucomatosa no Brasil. Como o estudo não avaliou o custo de medicações colocadas recentemente no mercado, [Brinzolamida (Azopt®), Unoprostona (Rescula®) e Timolol+Dorzolamida (Cosopt®)], os pacientes que utilizavam essas medicações foram excluídos do estudo. A Acetazolamida (Diamox®) teve seu custo calculado com base no número de comprimidos por caixa.

Para caracterizar a amostra em função dos dados sócio-econômicos, foram calculadas as estatísticas descritivas para as variáveis contínuas e foram feitas tabelas de freqüência para as variáveis categóricas. Para avaliar os fatores associados à dificuldade de compra de medicamentos, foram feitas tabelas de contingência incluindo as variáveis categóricas de interesse. Neste caso, utilizou-se o Teste de Qui-Quadrado ou, quando necessário, o Teste Exato de Fisher. Para as variáveis contínuas, utilizou-se o Teste Não-Paramétrico de Mann-Whitney. Valores de p inferiores a 0,05 foram considerados significantes.


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