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Sida e adolescência em Benguela (página 2)

José Manuel Frómeta Lores
Partes: 1, 2, 3

I. Panorama social do SIDA em Benguela.

Em visita ao hospital de Chambungu no Cubal, a equipa de investigação teve a oportunidade de praticar uma entrevista ao pessoal especializado da instituição. Pela correspondência que têm as declarações dos entrevistados com os relatórios da ONG "Médicos do Mundo", e com os critérios dos peritos na análise DAFO, os autores acharam adequado fazer alguns comentários:

Ante a pergunta sobre o grupo etário mais afectado com o síndrome na instituição, a resposta foi que oscila entre os 20 a 40 anos. Esta faixa etária considera-se muito activa no sexo. Se contrair o VIH aos 14 anos, só depois de 5 a 10 anos é que o individuo se apresenta ao hospital porque está doente. Este elemento é reafirmado pelos relatórios de MDM onde se destaca que o grupo etário de 20 a 24 aparece com 62 por centos dos testados, enquanto que na faixa 20 a 29 com 29 porcento (MDM, 2004 a, b). Não obstante, preocupa que no primeiro relatório (Junho 2004) não aparecem seropositivos na faixa de 10-14 anos, ao passo que já no relatório de Julho 2004 foram registados 4 casos na faixa de 15-19, o que representa 16,7 porcento do total de seropositivos da etapa. Se avaliamos o facto de que na faixa etária imediata à adolescência —de 20-24 anos— observa-se uma coincidência de percentagem de diagnosticados seropositivos, pode ler-se que não se percebem avanços no controlo da doença. Fazemos a reserva metodológica, não obstante, de que o carácter voluntário das testagem, mesmo que a sua aleatoriedade convertem o indicador num elemento de pouca confiabilidade (V. Tabelas Anexo 1).

Declaração do Dr. Luís Caterça, Director Pedagógico do INSTITUTO MÉDIO DE SAÚDE de Benguela:

Pergunta: Dr. quer falar um pouco das implicações económicas que o SIDA poderá causar à nossa nação?

Doutor Caterça: O SIDA mutila a nossa própria população. Quando tivermos certa população infectada, significa que temos uma população reduzida no tempo e no espaço, em termos de longevidade, a população terá uma vida muito curta, porque é sabido que o VIH/SIDA neutraliza o sistema imunológico do ser humano, vai reduzindo todas as capacidades imunológicas do ser humano, e se tivermos 50, 60, ou 70 por centos da população adolescente seropositiva, a economia ficaria comprometida, e infelizmente continuaríamos a viver com o subdesenvolvimento. A economia dum país é saudável quando a sua população também é saudável.

O Soba Afonso Alfredo da Damba Maria refere-se ao SIDA nessa localidade:

Falando do SIDA, no quimbo ou nas zonas rurais não têm a noção desta doença, até fazem a comparação do SIDA com um animal, mesmo aqui no bairro 27 "Damba Maria", ouve-se falar do SIDA mas ninguém acredita na sua existência, até perguntam a cor da referida doença, que manchas apresenta o individuo afectado pelo VIH/SIDA? Será manchas como um leproso ou como uma doença de elefantíase, mesmo nas cidades a pergunta quase é a mesma. Conforme disse há pouco é difícil a população das zonas rurais acreditar na existência do SIDA; a crença na existência do SIDA tem a sua base na evolução da ciência, porque as analises que se fazem em certos laboratórios permitem as pessoas pensarem para além, anteriormente e até aos dias de hoje no quimbo, qualquer sintoma é tratado sem análises laboratoriais; isto inibe as pessoas de pensarem na existência do SIDA. Mesmo eu que estou falando não compreendo nada sobre esta doença, não faço comparação possível, em minha opinião é que aqueles que lidam com a ciência, inventam sempre algo, desta vez o termo é o "SIDA", que também poderia ser febre-amarela, tifóide ou outro termo; eu estou neste bairro desde 1961, nunca ouvi nada sobre estas doenças principalmente o SIDA.

Resultam importantes as considerações do senhor Marques, responsável do INSTITUTO NACIONAL DA CRIANÇA em Benguela:

Pergunta: Acha que Benguela ainda tem crianças e adolescentes não controlados pelo INAC?

INAC: Sim, porque neste preciso momento não podemos definir que temos um dado absoluto de números certos da camada infanto-juvenil devido à não realização do senso populacional desde ano de l983. O INAC controla hoje 22 crianças de ambos os sexos com VIH/SIDA.

Pergunta: Qual é o comportamento psicológico das mesmas?

INAC: Timidez, insegurança, nervosismo, revolta contra a sua família, apatia perturbada, traumatização, alterações do foro pisco afectivo, aumento do sentimento de frustração, incapacidade física e pisco motora.

1.1. Voluntariedade da testagem

Se tivermos em conta que o carácter voluntário da testagem é declarado como uma grande ameaça na análise DAFO pelos peritos, resulta consequente uma pergunta relativamente a esta questão. A opinião dos especialistas é que: Seria ideal uma testagem mais obrigatória quanto ampla. Só com testar os voluntários não se alcançarão os objectivos que se pretendem para impedir o alastramento desta doença.

As organizações sanitárias estão preocupadas só que apenas se fazem sentir nas grandes cidades. Outras instituições também deveriam propiciar palestras, seminários para incentivar a população rural, de forma a interiorizar algo sobre esta patologia que enferma a nossa sociedade. Não basta só os testes a realizar-se ou encarregar-se simplesmente as instituições da saúde, é preciso um envolvimento de toda a sociedade, a universidade, organizações não governamentais, que, poderiam incentivar o espírito de voluntariedade a população para a feitura dos testes, apesar de existirem doentes já diagnosticados;

Assim, os autores deixam constância na sua inquietação relativamente à voluntariedade da testagem do VIH. Sabendo que outras latitudes têm culturas diferentes a esta. Em Cuba, por exemplo, as autoridades sanitárias são responsáveis pelo bem-estar da população no que respeita á saúde, e quando houver uma situação alarmante, exaram despachos de cumprimento obrigatório, quer dizer, com carácter de lei. Lá o problema do SIDA é atacado com muita força, e se alguém for suspeito, é levado s autoridades sanitárias que promoverão os testes necessários; se o resultado for positivo, é obrigado a denunciar todas as pessoas que com ele se envolveram, os que por sua vez farão o mesmo até todos os afectados estarem identificados e controlados para serem tratados e não constituírem ameaça para a saúde da população. É um problema do Estado defender a população. Fazer o teste quando o indivíduo quiser é uma ameaça para a sociedade. E a sociedade não deve ficar ameaçada porque alguém não quer fazer o teste.

As declarações do senhor Miguel Gilberto, seropositivo de Benguela de 29 anos de idade, é uma mostra — infelizmente real — da ameaça que significa para a sociedade um seropositivo não identificado.

Pergunta: Para além das três mulheres ainda tens outras amiguinhas? Porque não utilizou o preservativo no momento das relações?

— Miguel Gilberto: Sim, tenho muitas miúdas para além das minhas três esposas, mas nunca tive a noção do preservativo nem a menor ideia da doença, e também nunca fiz o teste. Só desta vez depois da declaração da doença da minha esposa que faleceu.

Pergunta: E as outras mulheres com quem você partilhou o sexo, ainda vivem e continuas com elas?

Miguel Gilberto: Continuo apenas com uma, a outra está em Luanda, mas nenhuma delas fez teste, para se saber se são ou não portadoras. Desconfio mas não tenho certeza, da mulher falecida quanto a minha contaminação. A saúde das minhas mulheres é boa, nenhuma está triste e também não estão preocupadas.

Pergunta: Qual é o apelo que dás as mulheres que se envolveram contigo para não infectar os outros homens?

Miguel Gilberto: Que utilizem camisas, já que existe o femidom para senhoras.

Pergunta: As mulheres que já se envolveram contigo de certeza estão infectadas, nunca tiveste ideia de prevenir para não infectarem os outros, e cada um infectar a sua esposa e os futuros filhos? Como podes ajudar a travar esse risco?

Miguel Gilberto: Para travar torna-me difícil, o único meio que devo fazer é explicar-lhes a situação.

Pergunta: Ainda tens desejo de fazer um filho?

Miguel Gilberto: Se aparecer oportunidade faço.

Esse filho será também seropositivo e provavelmente não venha viver até aos cinco anos. Morrerá! É isso o que se pretende? Se já está consciente que é portador do HIV/SIDA, aconselharam-lhe não fazer mais filhos, ter apenas uma mulher e usar preservativo. Como é que quer mais filhos? É mau. As mulheres com as quais pretenderia fazer filhos estariam contaminadas e seriam elas que o deveriam ajudar quando ele estiver acamado ou aflito. Estas posturas são, sem dúvidas, preocupantes, e não tomar conta delas resulta crime. Mais contraproducente ainda resulta esta questão da voluntariedade quando vemos que as próprias leis proíbem abertamente a testagem obrigatória. O senhor Marques responsável do Instituto Nacional da Criança (INC) expressa:

Pergunta: Seria imoral ou contra a lei, o INAC em parceria com outras organizações sociais, recolher as trabalhadoras do sexo na idade adolescente e leva-las a testagem do VIH/SIDA?

INAC: Sim, seria imoral contra a lei constitucional angolana e CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA sobre a prática de género (recolha obrigatória das trabalhadoras de sexo em idade adolescente).

Como resolver este problema?

No tempo em que houve cólera em Angola, houve vacinação obrigatória; só poderia viajar e até mesmo comprar nas lojas do povo aquele que exibisse o certificado de vacinas com o registo da imunização anti colérica actualizada. Para a SIDA também deveria ser a mesma estratégia. Não é para descriminação porque todo o indivíduo é susceptível de contrair o VIH, pois pode não contraí-lo em relações sexuais, mas numa cirurgia ou transfusão, num corte com lâmina de barbear por exemplo. Não é para ser descriminado, mas para ser identificado e tomar-se as devidas precauções. Antigamente descriminavam-se os portadores de doenças, mas a medida que as pessoas foram ganhando consciência de que qualquer indivíduo poderia adoecer, pararam de fazê-lo. Se voltarmos ao pensamento antigo da descriminação, então se deve descriminar o tuberculoso, porque esse elemento se estiver com outras pessoas sem precauções, só pelo seu espirro poderia infectar; o que não acontece com o portador do VIH ou doente de SIDA, em que podemos apertá-lo a mão, conversar e trabalharmos juntos. Seria mais vergonhoso então ter tuberculose do que ter SIDA.

A nossa opinião é que as pessoas façam o teste e saibam se têm ou não o VIH, porque do momento em que souber que está afectado e quiser viver mais tempo, vai mudar a sua conduta de vida, como por exemplo, deixará de ter relações sexuais desprotegidas, não só para não contaminar o parceiro, mas porque ele não sabe se este "novo parceiro" também é portador, e sendo portador, haverá troca de vírus, provocando o aumento da sua capacidade de violência, re-infeccões e multiplicação viral acelerada, o que resultará a degradação precoce da saúde.

O indivíduo sabendo que está afectado, saberá cuidar da sua alimentação, irá restringir aquilo que é proibido pelo seu médico, de certeza abster-se-á do álcool e outras bebidas fermentadas e das drogas; deixará de perder muitas horas nocturnas, para que a sua saúde não se deteriore muito cedo. Sabendo que é portador, estará alistado de certeza por um hospital e tão cedo que esta instituição receba anti retro – virais, ele pode ser um dos primeiros a ser beneficiado desse medicamento. Se ele não fizer o teste por que diz se tomar conhecimento que tem SIDA morrerá de cisma, não vai receber os anti retro – virais, continuará a prostituir porque convencerá crianças, pobres e trabalhadoras de sexo com o seu dinheirinho, danificando assim a sociedade.

Identificar os portadores, para contribuir na prevenção: não sendo portador, é aconselhado a cumprir escrupulosamente as normas de prevenção para não contrair o VIH e estar preparado para ajudar sem reservas os que necessitarem de seus préstimos ou doação. Quem infelizmente for portador, é aconselhado a cumprir os pressupostos que lhe garantem viver mais tempo sem contaminar os seus semelhantes porque assim estará a proteger os seus filhos e outras famílias que poderão ajudá-lo no momento preciso. Sendo seropositivo não identificado, ao iniciarem os sintomas, o seu corpo ainda não dá indícios da doença, apresenta-se nutrido, sem desconfiança para os seus visitantes, que ocasionalmente poderão envolver-se sexualmente para ajudá-lo financeiramente ou com outros meios de subsistência ou mesmo ainda com medicamentos.

O facto de que uma parte considerável da população não acredite na existência do SIDA, é porque a política de ocultação dos portadores e dos doentes de VIH/SIDA está a contribuir bastante. Se não vêem, não conhecem o portador e o doente, só depois de falecer é que se escuta que o fulano morreu de SIDA, isto não estimula a credibilidade. Acredita-se naquilo que se vivência, ou que é dado a conhecer pela ciência. "Otchili m’isso!", é uma expressão da língua do Cubal, a língua materna umbundu, que diz: a verdade é o que vês; o que ouvires falar pelo fulano do beltrano, pode ser mentira e ainda te perguntam: foste vê-lo? O padecente de qualquer doença tem que ser visto, acompanhado pela população os maus momentos que ele passa, o diagnóstico médico. Se tiver tuberculose, deve ser tratado com carinho como tem sido habitual; se tiver SIDA, não deve ser descriminado, deve merecer também o carinho e ajuda de todos, e com eles abster-se das práticas sexuais. É só isso que devemos fazer para diminuir o número crescente de novas infecções. Enquanto portador, não deve ser descriminado, deve estar sim, empregue para trabalhar e criar as suas reservas para o futuro, para quando estiver acamado ter de usufruir dos seus bens, enquanto a sociedade se mobiliza para ajudá-lo.

De princípio, a população está mentalizada que toda doença transmitida sexualmente é vergonhosa, e tirar esta concepção das pessoas no nosso país não é fácil.

Na opinião dos entrevistados, o povo com o qual se lida nesse momento, não está em altura de se assumir, dizendo que tem SIDA, deve se comportar dessa e daquela maneira para o resto da vida, cai em desanimo e desespero total, vai pensando preocupadamente na vergonha, aqueles que não sabiam saberão por que as vezes era um indivíduo muito discreto, respeitado pelo seu exemplo, mas de repente a população ouve dizer: "o fulano tão honesto, trabalhador e educador idóneo meteu-se na prostituição"?! É por isso que, para fazer o aconselhamento pré teste, pergunta-se se quer fazer o teste. Se concordar se faz; se não concordar, não se faz, porque se o resultado for positivo a instituição não consegue assumir o estado de depressão que ele venha a ter.

Na opinião dos autores, se se detectar uma adolescente seropositiva que fez o teste, pode-se ajudá-la a não ter bebé que seguramente morrerá e dará mais trabalho à sociedade; a esta paciente pode-se-lhe aplicar um contraceptivo, para além do uso obrigatório do preservativo. Os cientistas deveriam estar a preparar um produto farmacêutico para dessensibilizar o prazer sexual, não para os portadores mas para quem queira. A abstinência sexual tem muitas vantagens se for para perpetuar a vida.

Os autores referem o caso de um amigo que hoje está arrependido. Ele apareceu dizendo que a mulher do fulano era muito bonita que iria fazer tudo para alcançar os seus objectivos. Tentou a mulher, até que um dia o homem comprou uma lambreta e disse: toma, eu gosto muito de ti, é para ti, os documentos estão em seu nome. A mulher quando reflectiu que o marido nunca lhe deu surpresa de género, aceitou namorar com o senhor sem utilizar preservativo. Meses depois o marido da senhora morre de SIDA e o senhor, agora também está apresentando já certas crises.

Se aquela senhora fosse conhecida como portadora de SIDA ou o seu marido, teria evitado. Agora este senhor contaminou-se e contaminou a sua mulher.

As declarações e atitudes de seropositivos em favor da publicação dos diagnosticados, mostra que é possível promover uma testagem obrigatória.

Pergunta: No teu caso não sente receio de ser mostrado como portador do SIDA, por causa do desprezo que possa ter, e ser descriminado como portador contagiante?

Miguel Gilberto: Posso ter receio, mas desde que já tenho o vírus não posso fugir, devo admitir como doença normal.

Pergunta: Não vais morrer de cisma? Então para ti a ideia de que a pessoa portadora não deve ser mostrada, deve-se guardar o sigilo profissional, porque se não o indivíduo morrerá de cisma é errada?

Miguel Gilberto: De cisma não vou morrer; em minha opinião não mostrar os seropositivos é uma ideia errada, deve-se mostrar para as pessoas terem o cuidado de usarem o preservativo. Algumas moças que sabem que eu tenho o vírus, só aceitam fazer sexo comigo se eu pôr duas camisinhas ou mesmo três.

Pergunta: Então o seropositivo deve ser conhecido e visitado pelos que estiverem disponíveis como se procede aos padecentes de outras patologias, para compartilhar o sentimento de dor? Tem algum apelo a dar aos adolescentes de Benguela?

Miguel Gilberto: Quero apelar que eles devem terem muito cuidado! Os jovens e as jovens devem usar preservativos, não se envolver com muitos parceiros, ter único parceiro, para não estarem a contaminar as outras pessoas.

Estes autores acham que enquanto não se pode esperar pela vacina, não havendo meios curativos, a prevenção da aquisição do vírus na adolescência para um futuro seguro, deve ser eficiente, e é a razão deste trabalho. Esse tabu que acabamos de falar tem de acabar porque se não há cura, há que prevermos a raiz da aquisição do vírus, e o trabalho de prevenção na adolescência é o interesse; já que o problema existe, é preciso atacar na adolescência porque não deve ser maltratada pelo tabu. A troca de experiência é importante; a experiência de uma determinada cultura pode ser benévola para certa povoação. A saída vitoriosa de uma crise por alguém, pode ser benévola para uma população que vive uma crise igual.

A Ginecobstetra Margarida Pérez aporta a opinião que segue:

Pergunta: Em que medida a confidencialidade existente aqui em Angola está a influenciar na proliferação do SIDA?

Ginecobstetra: A confidencialidade não é benéfica, visto que se uma pessoa é portadora ou doente de SIDA, pode afectar outras pessoas, ninguém toma medidas, contra o que está acontecer, não os apoiamos para os estudos científicos, nem ajuda-mo-los a conhecerem-se visto que muitas pessoas são portadoras e pelo facto da educação baixa, vivem inocentes. Não é preciso descriminar o portador ou o doente do HIV/SIDA, por exemplo, se eu como médica digo que o fulano tem SIDA às demais pessoas para que o apoiem, eles não vão apoiar, vão descrimina-lo. Para que isto não aconteça é preciso o diálogo com o paciente, com os familiares, explicar de forma a ajudá-lo, devido o medo que o paciente tem que os outros saibam da sua patologia; é o modo para que o diagnóstico, o tratamento do paciente fique "zero" eliminada por causa desta sigla. É preciso acalmar a pessoa sobre o medo do SIDA e incentivá-lo a conceber essa patologia como qualquer outra doença, esclarecer as vias de transmissão e os cuidados a ter.

Como médica obstetra e ginecologista que sou, peço nos exames de rotina que se realizam nas grávidas, a inclusão do teste do VIH para se saber o estado de saúde com relação a esta enfermidade, é obrigação de todas as pessoas conhecerem-se se são ou não portadores. Por causa disto deve-se fazer um acordo com o laboratório de análises e mandar o paciente para o teste, porque constitui o direito do médico e do enfermeiro saber se a paciente "a grávida" que assiste é portadora ou doente desta enfermidade, visto que só assim podemos ter o melhor cuidado no tratamento desta. É necessário um trabalho sério no sentido de se acabar com a ocultação, não se pode viver assim, um paciente aparece no hospital e depender dele com relação aos exames a realizar, porque isto dá lugar a muitos casos de mortes com quadro clínico desconhecido. Actualmente, por isso é que em Angola há muito SIDA, porque a politica educativa que se tem com respeito a esta doença influência de forma negativa, no qual, muitas pessoas não sabem se têm SIDA, não aceitam fazer o teste de forma voluntária, dai que a transmissão aumenta de maneira ocultada e não há o ponto limite. Para se romper com a transmissão ocultada do HIV/SIDA, é aconselhável a mudança de politica educativa e atacar todos os casos. Falando da experiência cubana, todas as pessoas têm acesso ao teste e estão preparadas para se pronunciarem perante a qualquer resultado dos exames, também é obrigação de todo o cidadão dizer do seu estado com respeito ao SIDA, isto facilita a ajuda que se deve dar aos portadores e doentes de SIDA. Um seropositivo tem a obrigação de explicar a sua família, aos amigos sobre o seu estado de saúde e convidar a sua parceira ou parceiro a fazer o teste e seguir o tratamento de forma sequencial, dai estaríamos a trabalhar para romper com a cadeia de transmissão. Por outro é necessário, logo que se descubra em exames laboratoriais que a pessoa é seropositiva, aconselha-la para fazer testagem a todas outras com quem já teve relações amorosas.

As vantagens de fazer o teste e como este acto contribuem para a vida do seropositivo são avaliadas por um seropositivo de 40 anos que requereu o anonimato:

Pergunta: qual foi o resultado do seu exame?

VP – Mostrou que as minhas defesas tinham aumentado: de 333 para 467 e a percentagem subiu de 12 para 26. Resumindo e concluindo: o Dr. Stella tem razão quando diz que o SIDA só mata quem se deixa matar por ele. Bom, não é bem o SIDA. Deixa ver se eu consigo raciocinar e explicar...! O VIH não mata, o que pode matar é o SIDA ele só mata se a pessoa deixar que o VIH evolua para SIDA, porque há meios, naturais e laboratoriais, para se controlar o vírus. Por experiência própria vejo que um dos grandes segredos na luta contra o VIH é o conhecimento!

Pergunta: – Pode explicar-se melhor!

VP – Claro. Quem não conhece é ignorante. E sendo ignorante, por vezes faz coisas em seu próprio prejuízo, como a automedicação. Portanto, eu aconselho as pessoas que tenham VIH e as que têm SIDA, a conhecerem melhor a sua nova condição e os meios naturais para aumentar o sistema de defesa. Porque é possível! "Fazer o teste cedo me salvou do SIDA".

Por exemplo, eu aprendi na África do Sul que o açúcar ajuda no desenvolvimento de fungos e os fungos são inimigos dos seropositivos e por isso deixei de comer açúcar. Não bebo cerveja porque ela tem cevada, componente prejudicial ao meu sistema imunológico. Mesmo que o médico me autorize a beber um copinho de whisky de vez em quando, prefiro não arriscar. Também aprendi que o seropositivo deve comer cenoura cerca de quatro vezes ao dia. Durante o dia, o seropositivo deve tomar dois copos de sumo de limão – mas tem que tirar a casca ao limão, fervê-la em banho-maria e adicionar a água da casca ao suco de limão, misturar e beber sem açúcar. A banana é outra fruta que deve ser diária, porque ajuda no combate a diarreia. A papaia deve ser comida com os caroços. Entre as carnes, eu prefiro as brancas, preferencialmente o peixe. Não dispenso o quiabo, que nunca antes havia gostado. Como não temos o leite de coco, que ajuda a fortalecer o sistema imunológico, comemo-lo de dois em dois dias. Se reparar, são nutrientes que não são caros. Está a dar resultado em mim e pode dar resultado com os outros.

Pode ser um modo de confortar aos seropositivos a distinção que deve ser feita entre o portador HIV e o doente SIDA:

Sou uma pessoa muito curiosa. Leio muito. Interesso-me e, pela minha condição, interessei-me sobre o VIH (…). Deixo claro que sou apenas seropositivo e não tenho SIDA...

Pergunta: Faz sempre questão de destacar a diferença entre portador do VIH e SIDA. Por quê?

VP – As pessoas confundem VIH com SIDA. Por exemplo, eu não tenho SIDA, porque é um conjunto de doenças oportunistas que em situação final, o sistema imunológico não consegue contrapor. O meu sistema de defesa está a funcionar. O último teste mostrou que o meu sistema de defesa está a funcionar. Portanto, não tenho SIDA, embora seja portador do VIH. Agora, não me posso descuidar a ponto de deixar que me torne doente de SIDA. Este é um propósito que persigo e que pretendo alcançar.

O estado optimista deste seropositivo poderia mesmo significar um indício para a aceitação do doente de SIDA e convém por isso ser divulgado:

Eu aconselho as pessoas a recorrerem logo ao aconselhamento diante da mínima suspeita. O VIH multiplica-se e quanto mais cedo nós conhecermos e reconhecermos a nossa condição, melhor. Fazer o teste foi bom para mim porque o facto de saber que eu tinha o vírus está a permitir-me ter condições de lutar contra ele e pela vida mais cedo. Eu não espero morrer daqui a um, dois ou dez anos. Uma vez em palestra eu disse que vou chegar aos 99 anos. Claro que a brincar também um bocado né! – risos – Mas tenho tantas possibilidades de continuar vivo como qualquer outra pessoa que viva sem o vírus.

1.2 Estigmatização dos seropositivos, tabus culturais e tradicionais

O problema da estigmatização dos enfermos, dos tabus culturais e tradicionais é um grande contributo para o SIDA e não para a sua erradicação ou contenção. Neste sentido aparece aqui uma plena coincidência com as ameaças identificadas pelo Grupo de Peritos. Então um indivíduo ser conotado como seropositivo é descriminado pelo resto da população. Tanto que o governo teve que aprovar lei que regulamenta, protege e dá condições a um indivíduo seropositivo; havia empresas que despediam trabalhadores por serem portadores do vírus, famílias que descriminavam seus parentes. Imaginem um chefe de família pobre a ser desempregado porque é seropositivo, como fica o balanço económico e social? E não é só isto. Há duas fases, uma de seropositividade, em que o indivíduo tem o vírus, mas é totalmente saudável, apto para o mercado do trabalho; a segunda, a de doença, em que as manifestações clínicas são evidentes, com o aparecimento de herpes Zorter- pequenas manchas, pneupatias- pneumonia, tuberculose e doenças oportunistas - anemia, paludismo, hepatite A e B (sinais menores), febre e diarreia com mais de 30 dias para além do emagrecimento progressivo com perda de 10 a 15 quilogramas de peso (sinais maiores) em que o indivíduo torna-se inútil para o trabalho, passa ao consumo sem reposição. Estes indivíduos existem e o Ministério da Saúde os conhece bem; segurar esses indivíduos e apresentá-los ao público através dos órgãos de informação a dizer que são seropositivos ou têm SIDA, eles vão ser descriminados porque a nossa população não está preparada para isso. Depois da descriminação, qual seria a contra partida para eles? Nesta altura, teremos de fazer um esforço.

Já existem Centros de Cuidados dos Padecentes de VIH/SIDA na capital do País. Esses indivíduos são bem seguidos e têm uma vida normal. Mas esses indivíduos não têm sido levados aos órgãos de informação para servirem de amostras da existência do SIDA por causa da descriminação. Não existe mais nada, é só mesmo a descriminação. Os anti retro-virais estão disponíveis só em algumas áreas do país, nomeadamente a sua capital Luanda, enquanto que o nosso país tem 18 províncias, e só alguns indivíduos têm conhecimento que essa doença pode ser controlada, embora ainda não é curável, mas pode ter um tratamento que possibilita ao seropositivo levar uma vida normal, mas os anti retro – virais só existem em Luanda neste momento. O médico que faz clínica, por exemplo, tem deparado com alguns doentes que poderiam ser portadores, mas como a sociedade não está preparada para lidar com esses pacientes, não digo eu, eu estou preparado. Mas a sociedade em geral não está preparada para lidar com esses doentes. Temendo a descriminação, eles ainda estão ocultos, mas nós na saúde os conhecemos, não para fazer publicidade.

Na opinião dos autores, deve-se aprender a ver os órgãos sexuais como se vê o rosto; nada de proibição, porque proibindo algo a excita-se contra esse objecto. Se ver como outra parte do corpo pecaminosa, o adolescente vai chegar à fase adulta com esta concepção errónea. Então quando contrair o SIDA, falarão dessa parte do corpo por ser a mais vulnerável. Então o problema radica no tabu; esse tabu vem da sexualidade.

Perguntados sobre o método mais eficaz para sensibilizar a população adolescente, os profissionais respondem que tudo o que é novo dentro de uma sociedade foi descoberto por pessoas mais cultas, mas como é problema de todo povo, o assunto deve ser tratado com pessoas que entendem. Existem restrições culturais, uma delas é o tabu, existem os aconselhamentos ou precauções cristãs; falando da prevenção sexual com a camisinha, que entra em choque com a comunidade cristã, que já foi polémica. Para se sensibilizar a comunidade acerca do VIH/SIDA, não é preciso aprofundar, mas usando uma linguagem clara e simples que cada um possa entender o perigo da doença. É um esforço que teremos de fazer agora. O sucesso do nosso trabalho surgira no momento em que nós dissermos: paizinho, tu tens SIDA, mas o medicamento está aqui! De contrário, a sociedade vai desassociá-lo. Se não podemos tratar a doença nem fazer algo para impedir a evolução e reprodução dos vírus, que vantagem terá se eu lhe disser que o papá tem SIDA? Porque não lhe dizer que não faça sexo sem camisinha ou faça sexo apenas com a sua mulher, e também sensibilizar a mulher para ser controlada? É diferente viver na cidade porque o indivíduo se conforma e vai vivendo com o vírus e vai tomando os anti retro – virais. Os anti retro – virais chegarão primeiro lá e só mais tarde no campo. Que estamos preocupados com a situação estamos, temos que falar para as comunidades.

É este esforço que nós queremos que muita gente compartilhe connosco, para acabarmos com o tabu. O problema de descriminação, o governo já resolveu, com a criação da lei que regulamenta, protege e dá condições aos portadores do VIH/SIDA, agora os agentes da sociedade civil têm de fazer o que falta. A tuberculose contagia mais que o SIDA. Se eu estiver numa sala com um tuberculoso, só pelo seu espirro fico directamente afectado pelo bacilo de Koch, isto não falando de outras formas de contágio. Mas não se passa o mesmo com o portador ou doente do VIH/SIDA, que podemos trabalhar juntos, usarmos os mesmos meios de trabalho ou loiça, ao menos que haja um envolvimento sexual não protegido ou partilha de mesmo material de injecção de drogas. Nesta ordem de ideias, se tiver que descriminar que se descrimine o tuberculoso e não o seropositivo. Por outro lado, se o indivíduo estiver seguro de que é seropositivo, tem a consciência de querer viver mais tempo, para isso terá um médico assistente, cumprirá a riscas os conselhos e indicações médicos.

A primeira coisa que se deveria ter é a informação sobre a doença e sobre todas as doenças sexualmente transmissíveis. A informação é muito importante, é fundamental que a população saiba que o VIH/SIDA existe, sem vacina e sem medicamentos para sua cura. Conheçam os mecanismos de propagação, como é que se transmite; uma população informada consegue prevenir-se. Não podemos tratar uma doença que não conhecemos, isso fica muito difícil. Em segundo lugar, informarmos os métodos de prevenção. E eles têm de ter certeza que estes métodos estão disponíveis para todos, porque há áreas por exemplo, em que não há preservativos. E se lá chegam uma vez à outra, são levados pelas ONG’s, enquanto deveria ser o próprio governo a colocar em quantidade suficiente em todo o espaço do território. "A doença já existe, mas muitos até hoje não acreditam na sua existência, não crêem que a doença existe, então a informação é a coisa mais importante para a prevenção".

Tudo isto corrobora também a oportunidade assinalada pelos peritos relativamente aos meios de comunicação.

Relativamente ao problema dos tabus os entrevistados referem uma dificuldade interessante de modo de comparação na sensibilização e educação sanitária: os velhos não entram na casa de banho enquanto estiver perto de um jovem porque este dirá seguramente "olha o velho foi defecar", e o velho acaba por ir defecar na lavra onde as verduras comestíveis estão na fase da colheita. É um trabalho que merece troca de experiência a que é solicitada pelos entrevistados.

É hipótese destes autores que se alcançarem esta sensibilização, em que ver o pénis – vulva seja a mesma coisa e tão natural quanto ver o rosto, será também tão natural fazer a testagem, porque fazer amor é tão natural, que os animais são mais felizes do que os homem; eles não têm problemas de tabus. Acreditamos, não obstante, que nem tudo é crise, nem em todas as partes. No Lubango e Cunene não há grande tabu em relação o sexo. A tradição não brinca com feitiço, os adultos tomam banho com jovens e crianças de ambos os sexos, talvez por não haver rios em muitas paragens. Usam chimpacas, que são escavações feitas na terra para acumulação de água nas épocas das chuvas; numa área de 15 quilómetros só há uma chimpaca, onde adultos, jovens e crianças de ambos os sexos banham ao mesmo tempo, porque outras oportunidades são para dar de beber o gado, ou a população está no campo. Cremos que o tabu sexual que estamos comentando nessas zonas não existe por não esconderem os órgãos sexuais, contrário ao que se passa no centro do país.

A questão inicia pelo facto de que os pais ocultam às crianças o modo em que vieram ao mundo. É preciso começar por ai, explicando a verdade natural dos factos; se dizer que tenho SIDA, ao final o que é o SIDA? O SIDA é uma enfermidade que ainda não tem cura e adquirimo-la numa porta de entrada.

  Segundo uma investigação, a área em que os adolescentes mexicanos mostram uma menor auto-eficácia (habilidade para rejeitar relações sexuais não protegidas), habilidade para perguntar aos parceiros por suas relações sexuais anteriores e outras condutas de risco, para além de sua habilidade para a aquisição e uso correcto de preservativos (López Rosais, 2003). Que podemos dizer então da imensa quantidade de jovens adolescentes benguelenses que nem sequer têm acesso ao preservativo?

É opinião dos profissionais da saúde entrevistados que existem casos de seropositivos sem tratamento específico porque a população ainda é ignorante, não tem uma informação clara sobre a doença. Se pedirmos à população para uma testagem voluntária, só será aceite se houver um controle e tratamento. Testar um indivíduo e dizer-lhe que é positivo e mais nada não tem interesse nenhum, não bastam os aconselhamentos. Se dissermos que faça o teste e se for positivo terás um seguimento para teres uma vida normal, ai haveria maior aderência da população. Informar à população que o teste é necessário e informar o resultado do mesmo como positivo e ser abandonado por ai, ninguém ficariam contentes com isso. Este juízo vem a coincidir também com a debilidade detectada pelos peritos na análise DAFO relativamente à impossibilidade de seguimento dos casos diagnosticados.

Segundo os autores, tudo depende da ideia que tivermos com a publicidade; se publicitar o seropositivo com fins pejorativos é mau, mas se o fizermos com fins benéficos, tanto para ele como para a própria sociedade, é bom. Se publicitar o seropositivo com fins meramente de salvaguardar interesses duma população que esta exposta ao alto risco de se extinguir, não é mal nem se deve dar ao capricho de dizer que a população não está preparada. Então vamos preparar a nossa população, dizendo que prevenir é salutar que remediar. O SIDA como não tem cura, vamos definir uma estratégia. Escolher no seio da população, sem discriminá-lo porque todos nós estamos sujeitos a contrair a infecção, os que já estão afectados para que não nos envolvamos com ele sexualmente e não partilharmos a mesma agulha, tesoura ou lamina para cortar o cordão umbilical caso tenhamos que assistir um parto fora do hospital. Podemos com ele comer, dançar, brincar e trabalhar para o bem da nossa pátria, sem desconfiança alguma. Se notarmos que o portador necessita de alguma ajuda, então muito carinhosamente devemos todos dar o apoio necessário, quer seja moral, material e se possível alertar as autoridades competentes para tirar o paciente do estado crítico. Se a tuberculose, a cólera, a conjuntivite viral e outras patologias de propagação rápida que mais contagiam mesmo que nos cuidemos ou fujamos delas, os seus portadores não são descriminados, por que marginalizar o padecente de SIDA que não contagia na convivência normal do dia a dia? Há que ter apenas consciência e pensar positivamente: se o meu vizinho está infectado pelo VIH, eu devo cuidar-me para não estar também infectado e ter forças de ajudá-lo quando ele precisar.

Pergunta: Qual foi atitude que o seu patrão tomou quando soube que eras seropositivo?

Miguel Gilberto: Não tomou nenhuma atitude drástica, chamou-me e aconselhou-me, pediu-me calma, esclareceu-me que o SIDA era uma doença normal como qualquer outra.

Casos como estes demonstram que é factível lutar contra a estigmatização porque existem posições compreensivas e conscientes na sociedade.

Condiz com esta possibilidade a posição de autoridades de educação do território de Benguela:

O próprio médico deve começar a fazer o trabalho psicológico junto do paciente. Pode ser até que o próprio doente estigmatizado pela própria doença tenha a ideia de que protegido sente a pressão de ser apontado como seropositivo, porque a sociedade não está preparada para recebê-lo. Então o médico tem que começar desde já a desempenhar o papel psicológico perante o paciente portador do SIDA, fazer lhe entender que ele não será menosprezado, mas pode contribuir de certo modo para o combate deste flagelo. Protegendo o seropositivo, o médico está contribuindo para que o próprio doente se recalque; o médico deve ser um libertador, deve ter um papel psicológico junto do paciente para que ele possa sair e também ser participe no combate desse terrível flagelo; não guardar a possibilidade de ser participe porque assim o médico só está a cumprir apenas com uma missão, a missão de contribuir com os fármacos, mas não está contribuir sob o ponto de vista psicológico, estando a recalcar o doente, está a fazer com ele se sinta a margem da sociedade, está super protegido. É errado, assim o médico aparece também como outro doente porque não esta a contribuir para que o paciente se liberte.

A postura da seropositiva anónima concorda também com estes pontos de vista.

Pergunta: Que contributo dás à sociedade, para evitar que os adolescentes não se infectem com esse maldoso Vírus?

Anónima: Há muita coisa que se deveria fazer e que está sendo ocultado:

    1. Se não ocultassem os seropositivos, se fossem identificados como identificam os portadores da malária, da hepatite e da tuberculose, o meu marido não se infectaria. Ele é consciente, bonita que fosse mas infectada com o VIH/SIDA, ele não teria namorado com aquela jovem;
    2. Com a testagem voluntária que muitos não fazem por medo de morrerem de pensamentos, deveriam fazê-lo obrigatoriamente, todos os cidadãos nacionais sem excepção e os resultados não devem ser confidenciais. Eu estou aqui, não morri de pensamentos, talvez porque não me sinto culpada nem envergonhada.
    3. Que se sintam marginalizados ou que morram de pensamentos e de vergonha todos aqueles que não querendo fazer o teste por negligência, são culpados pela transmissão voluntária ou involuntária do VIH/SIDA aos outros.
    4. Submeter à acção judicial todos os seropositivos criminosos, que sabendo da sua seropositividade influenciam parceiros para adquirirem o vírus. A senhora com quem me simpatizei antes do teste, disse-me o marido pôs-lhe fora de casa porque a sua família se queixava muito dela. O seu teste tinha resultado negativo. Ela encorajou-me quando lhe contei o meu resultado. Há oito meses, contou-me que recebeu o marido de volta porque pediu desculpas à família e que tinha sido influenciada por duas primas amigas da mulher que ele arranjara no momento do conflito, porque era funcionária de um banco que lhes facilitava alguns empréstimos financeiros. Essa funcionária era já seropositiva em fase de SIDA. De repente o marido verifica uma diminuição brusca de peso por diarreias, forçou a senhora ao teste que resultou positivo, e sem dizer esses pormenores todos volta como se arrependido; Hoje a senhora está infectada há 8 meses.
    5. Falam-se tanto de educação, palestras, uso do preservativo, fidelidade e abstinência, mas o número de novas infecções aumenta a cada dia. A família, colegas, vizinhos e amigos chegados deveriam ter acesso ao diagnóstico médico do doente de SIDA internado no hospital para conhecerem os sintomas da doença e verem como é que a pessoa fica realmente, e com esta pessoa terem-se os cuidados de relações. Fique mal se ficar pelo menos as pessoas não farão sexo com ela e é menos uma nova infecção que não se realiza.
    6. Pergunta: Podemos então a partir da senhora começar a não ocultar o estado da sua saúde?

      Anónima: Por mim, não teria problemas. Não o faço por duas razões:

    7. O meu marido ainda se oculta, até a mim, talvez por "ser figura pública", e se eu me abrir haverá conflito no lar e eu não estou para me chatear porque o peso que carrego já é grande;
    8. Eu não vou me envolver sexualmente com alguém, por formas que seja necessário as pessoas conhecerem o meu estado serológico para evitarem o contágio a partir de mim.

Pergunta: Porque as pessoas têm vergonha de revelar o seu estado serológico mas gritam de longe: "tenho paludismo, 1 por campo, a quantidade que não sai do organismo"!?

Anónima: A nossa cultura é muito baixa. Se o SIDA não fosse doença do sexo, estou segura que não ocultariam.

Partes: 1, 2, 3


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