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Incidência comparativa da apendicite aguda em população miscigenada, de acordo com a cor da pele (página 2)

Lucyr J. Antunes

MÉTODO

O presente estudo foi aprovado por Comissão de Ética do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, de acordo com as recomendações da Declaração de Helsinque e a Resolução nº 196/96 do Ministério da Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos.

Este trabalho retrospectivo avaliou 500 prontuários de pacientes operados por apendicite aguda no HC da Universidade Federal de Minas Gerais de 1992 a 1996. Foram pesquisados idade, sexo e cor da pele (leucodérmicos, feodérmicos, melanodérmicos), de acordo com as informações contidas nos prontuários. Estudos histopatológicos confirmaram a apendicite aguda em todos os casos. Pessoas submetidas a apendicectomia com apêndice histologicamente normal não foram consideradas.

Prontuários de outros 500 pacientes tratados por diferentes doenças crônicas e não inflamatórias ou traumáticas, no mesmo hospital em 1996 foram aleatoriamente estudados nos mesmos parâmetros dos apendicectomizados.

Foram excluídos os pacientes que não se enquadraram perfeitamente na proposta metodológica desta pesquisa ou quando houve qualquer dúvida relativa aos parâmetros estudados. Não houve representante da população indígena na casuística deste trabalho, tanto dos apendicectomizados quanto do grupo-controle. Os resultados foram comparados por meio do teste qui-quadrado. O desvio padrão foi calculado para todas as variáveis em estudo. As diferenças foram consideradas significativas para valores correspondentes a P < 0,05.

RESULTADOS

A Tabela 1 mostra as características epidemiológicas dos 500 pacientes com apendicite e dos 500 pacientes operados por doenças diferentes (grupo-controle). A incidência de apendicite foi ligeiramente maior no sexo masculino, mas a diferença não foi significativa. Não houve diferença entre as idades de homens e mulheres com apendicite quanto à cor da pele. A comparação entre as idades de pacientes com apendicite com diferentes cores da pele (leucodérmicos 23,2 ± 14,4; feodérmicos 24,9 ± 16,7 e melanodérmicos 32,3 ± 16,7) não foi significativa devido ao desvio padrão da média, entretanto, a média das idades dos melanodérmicos foi maior.

No grupo-controle, não houve diferença significativa entre homens e mulheres, quanto a idade e cor da pele. A proporção de cor da pele nesse grupo não foi diferente da mesma proporção encontrada no Estado de Minas Gerais (leucodérmicos 57%, feodérmicos 34% e melanodérmicos 8%)(11). Apendicite aguda foi encontrada em nove desses pacientes: seis homens e três mulheres. As idades variaram entre 16 e 73 anos. Sete desses pacientes eram leucodérmicos e dois feodérmicos.

A prevalência de leucodérmicos com apendicite aguda foi significativamente maior no grupo estudado, do que no grupo-controle e na população de Minas Gerais(11). A incidência de pacientes negros com apendicite aguda foi significativamente menor, em comparação ao grupo-controle e à população de Minas Gerais(11).

DISCUSSÃO

Os resultados desta série confirmam relatos da literatura em relação à epidemiologia da apendicite aguda em várias populações(10, 12). Essa doença ocorre mais em pessoas jovens, sem prevalência de sexo, tendo por idade média 21 anos na população geral(1). Entretanto, é importante ressaltar que a idade encontrada em pessoas negras da presente casuística, foi superior à evidenciada para os pacientes de outras cores de pele e à estabelecida na literatura como limite de ocorrência da apendicite, que é de 28 anos.

Parece haver fatores, talvez genéticos, relacionados à cor da pele que são responsáveis pela prevalência da apendicite aguda em pessoas leucodérmicas. As diferenças entre as cores de pele não podem ser atribuídas a alguma particularidade do HC, que é referência para pessoas de todas as classes sociais. Portanto, os resultados encontrados na presente investigação podem ser devidos à relação entre cor da pele e apendicite aguda, como mencionado em outros estudos(1, 4, 5, 10, 13). Deve-se, entretanto, ressaltar que os dados de prontuário podem deixar dúvida quando ao paciente feodérmico de tonalidade mais escura e o melanodérmico. Essa diferença é muito difícil de ser estabelecida no Brasil, porém todos os dados estatísticos englobam ambos os grupos de pessoas como melanodérmicos(11).

Considerando a predisposição familiar da apendicite, bem descrita na literatura, essa relação também deve ser levada em conta. Fatores ambientais poderiam explicar apendicite aguda em populações diferentes, mas esse parâmetro não interferiu nos resultados deste trabalho e não foi objetivo de estudo na presente pesquisa(2, 14).

Nesta série, não se avaliou a dieta dos pacientes, que é assunto ainda controverso na literatura com respeito à apendicite. Alguns autores sugerem que uma dieta pobre em fibras possa ser responsável pela doença(3, 9). Entretanto, outros não encontraram relação entre hábitos alimentares e apendicite(6). Levando-se em conta que os brasileiros tendem a consumir dietas ricas em fibras, independentemente de classe social ou cor da pele, pode-se supor que aspectos dietéticos não explicam a incidência variável de apendicite aguda em pessoas de diferentes cores de pele.

CONCLUSÃO

A apendicite aguda é uma doença que predomina em jovens de ambos os sexos, porém parece haver tendência dela ser menos freqüente e ocorrer em faixa etária maior nas pessoas melanodérmicas. Esses achados precisam ser melhor estudados, principalmente com vista a particularidades morfológicas do apêndice relacionadas à cor da pele.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq e FAPEMIG pelos auxílios financeiros que permitiram a realização deste trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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11. IBGE-SEI/SEPLAN-MG. Censo demográfico do Estado de Minas Gerais. Anuário Estatístico do Brasil 1997; 57:13-57.

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13. Walker AR, Walker BF, Mantesi B. Appendicitis in Soweto, South Africa. J R Soc Health 1989;109:190-2.

14. Wolkomir A, McGovern P. Seasonal variation of acute appendicitis. South Med J 1987;80:958-60.
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Andy Petroianu; Jose Estevão de Oliveira-Neto; Luiz Ronaldo Alberti
petroian[arroba]medicina.ufmg.br
Endereço para correspondência
Dr. Andy Petroianu
Av. Afonso Pena, 1626 – ap. 1901
30130-005 – Belo Horizonte, MG



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